capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 24/09/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.747.886 pageviews  

Hoje na História Saiba tudo que aconteceu na data de hoje.

TEMA LIVRE : Marli Gonçalves

Outras colunas do Tema Livre

Até vulcão espoca
18/04/2010

Esses dias misturei muitas imagens, sons e cores nos meus sonhos. Não é para menos: a gente passa o dia recebendo informações de tudo quanto é lado e de noite, enquanto dormimos, embaralhamos tudo. Todos nós somos mesmo muito criativos.

Um amigo punk tentava se encaixar em um vestido de paetês rosa, rabo-de-peixe. No outro dia era eu quem visitava os cachorros do Eduardo Suplicy, e o que é pior: lembro que ele morava na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, número tal. Impressionante como esse número se destacou na história que criei enquanto dormia. No meu sonho ele tinha até uma mulher legal. E uns cinco cachorrinhos daqueles peludinhos de bigode, que ambos usavam como escovão, para lustrar e brilhar uma escada de madeira do sobrado. Aí todo mundo foi despejado e foi morar no canteiro central da Avenida Brasil, aqui em São Paulo. Que tal?

Meu amigo Heitor Werneck se encaixou no vestido rosa Geisy numa outra noite, do mesmo dia em que meu irmão recordava, com sua visão de criança, a saia rabo-de-peixe em que a mamãe, ainda bem jovem, se aventurou e manteve no armário daqueles anos 50. Nunca saiu do armário. A tal saia. Ele lembrou também de como as saias plissadas tinham aquelas pregas passadas exaustivamente, uma a uma. Ela sempre teve essa mania de ter coisas lindas, modernas, arrojadas, de bom gosto, que comprava a bom preço, como boa canceriana. Mas não as usava - sempre mineira, maneira, espartana, recatada. Mamãe gostava de olhar para as suas coisas, meio egoísta e, ao mesmo tempo, previdente. "Teve tempo que só tive uma blusa que lavava de noite para secar e usar de dia", justificava. Muitas foram compradas para, ou apenas, pensando em mim, que até hoje herdo peças geniais. Dela, herdei também o olhar sobre coisas especiais. Mas não herdei o recato, muito menos a mania de guardar tudo virgem. Compro e uso. Às vezes até na mesma hora. Adoro bater uma roupa.

Mas, voltando à medida dos sonhos noturnos, coloridos e reveladores, já não é tudo tão doido nem delirante. Nesta mesma semana passada, na realidade terrena, teve vulcão na Islândia gerando uma nuvem de letrinhas e perigos - o local da geleira chama Eyjafjallajokull - que parou a Europa; enchentes encharcaram o nosso Nordeste; mais terremotos e tremores atingindo a China, o Tibete. Fora as ondas altas havaianas nos beira-mar e calçadões brasileiros. Lula posando de líder internacional moderador e Dilma/Serra/ Mahmoud Ahmadinejad sorrindo muito. Mais aviões emborcados, carros e homens-bomba, Chávez desparafusado, e eleições indiretas na Capital Federal. Sem falar na batina justíssima da Igreja tentando cuspir em tudo quanto é prato. Quem diria?

Tem gente que não pode tomar café que não dorme à noite. Eu tomo para dormir, com um bom leite quente. Nada de comida pesada. Tudo isso só não resolve quando assisto ao jornal na tevê antes de deitar. Já despertei estremecida pelo olhar duro e reprovador do Willian Waack e às vezes entro em surto ao recordar a roupa da Christiane Pelajo. Quando de dia me contam alguma coisa forte, aquilo fica na minha cabeça e às vezes vira sonho; às vezes, pesadelo! Livrei-me outro dia, nem sei como, da cena que o satélite mostrou, de nuvens de morcegos de um lugar aí, que aos milhões se alimentam de outra nuvem, de mariposas, aos bilhões. Uns ao encontro da vida; outros, da morte.

Mas meus horizontes continuam limitados e tenho visto o mundo muito pelo computador, neste período de rescaldo da cirurgia e esperando a alta médica prometida para os 45 do segundo tempo. Isso faz com que tudo seja muito misturado, e de noite se transforme em sonhos, histórias inteiras para contar no café-da-manhã, divertindo-me, antes que a memória desanuvie e apague. Só os mais fortes ficam. E você há de admitir que Suplicy escovando o chão com cachorro e um punk vestido de rabo de peixe rosa são imagens que pertencem a essa categoria inesquecível.

Acho que falo de noite, além de certo ronquinho, meu ronronar particular. Há manhãs em que acordo com a clara sensação de ter ido bem longe, ter vivido toda outra história, em outro mundo, tempo, espaço e perspectiva. Esse é mais um mistério nosso, um campo só nosso, íntimo, que ninguém ousa ou pode prender nem matar ou torturar. Está dentro da nossa cacholinha, o lugar mais seguro do mundo.

Nos sonhos, podemos. Somos fortes e capazes. Se treinados, acabamos até os entendendo e usando como premonição, destrinchando seus significados e indicações. Neles, os vulcões podem ser tão inofensivos quanto os dragões, e os líderes mais inteligentes, pacíficos. E até bonitos.

São Paulo, abril fechou.

...

*Marli Gonçalves - www.twitter.com/MarliGo e marligo@uol.com.br - é jornalista . Preocupada com a pasmaceira que se instala. Preocupada com a Copa do Mundo, na África, com a África, que já dá prejuízo. Preocupada com as mães, e com as noivas, que têm perdido seus filhos e seus pares. Preocupada com a Abolição ainda não resolvida. Com a sobrevivência. Ainda bem que nos sonhos as perninhas funcionam. E eu corro dos problemas. Gente pode ferver igual água na panela. Acredite.

...

Mais Marli em www.brickmann.com.br e marligo.wordpress.com


OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques