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TEMA LIVRE : Sebastião Carlos Gomes de Carvalho

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Baixaria elege?
18/06/2010

Existe gente que entende que em política, como em futebol, só não vale perder. O jogo é bruto e vale tudo. Chute na canela, ataque abaixo da cintura, enfim tudo e qualquer coisa que se pode fazer contra o adversário. Vivemos um tempo de dossiês, falsos ou verdadeiros, não importa. Aliás, a palavra dossiê, por si mesma, já passou a ser maldita. Quanta ignorância, quando a palavra em si nada tem de negativa. Mas é esse o nível político, não apenas ético mas de conhecimento, de cultura mesmo.

Mas vamos lá: baixaria elege?

O termo é utilizado para designar aqueles lances em que a moral individual, particular, invade a vida pública. O jogo baixo sempre existiu, não é de agora, muito embora nos últimos anos parece que passou a ser trivial no manual de como se dar bem numa eleição. Às vezes funciona, algumas não. A baixaria também não é privilégio nem de partido político, nem de ideologias. O uso é genérico. Alguns casos recentes, mais conhecidos e suas conseqüências:

Talvez o caso mais recente e de repercussão mais devastadora foi o acontecido em 1989, quando Collor, em ascensão nas pesquisas, mas ameaçado de perto por Lula. Então, nos últimos dias da campanha, no horário eleitoral gratuito, aparece uma desconhecida de nome Miriam Cordeiro e conta que tinha sido companheira de Lula, com ele tido uma filha, Lurian, e que ele quis forçá-la a abortar.

O depoimento caiu como uma bomba. Abalou seriamente o estado psicológico do candidato do PT, e abatido ele foi até o final da campanha. Alguns queriam trazer a público os vários podres pessoais de Collor, mas Lula se recusou a utilizar a baixaria. Depois, descobriu-se que a mulher recebera dinheiro para fazer a declaração e que Lula nunca abandonara a filha e sempre havia sido um bom pai. Mas o abalo foi definitivo. Perdeu no segundo turno. Muitos analistas dizem que, se fora esse episódio, o PT teria emplacado a eleição. Mas hoje, para felicidade geral, Lula e Collor são aliados. Outro caso famoso ocorreu em Minas Gerais.

Em 1986, disputavam o Governo Itamar Franco e Newton Cardoso. Newton foi acusado de estuprador. E havia mesmo um inquérito policial, que depois deu em nada. O impacto foi grande. E veio o troco. O Estado foi inundado de panfletos com uma charge de Itamar vestindo saia justa, sapato de salto alto e rodando uma bolsinha. E em baixo, a legenda: “Melhor um governador estuprador do que homossexual.” O eleitorado mineiro se impressionou, e deu a vitória ao Newtão. Melhor para Itamar que, escolhido vice de Collor, foi alçado a Presidência.

Uma baixaria que não deu certo foi a utilizada contra Gilberto Mestrinho no Amazonas. Seus adversários o apelidaram de boto – que, conforme a lenda local, nas noites de lua cheia se transforma num belo rapaz e seduz e engravida as moças ribeirinhas. O objetivo era que ele ficasse com a fama de mulherengo e desrespeitador das famílias. O velho e matreiro político incorporou o “boto do tucuxi” e passou a perguntar nos comícios: “Vocês preferem um governador frouxo?” O frouxo aqui é entendido no duplo sentido. O eleitorado se esbaldava de rir e aplaudia o mitingueiro. Resultado foi eleito governador com uma votação consagradora.

A última baixaria, de maior repercussão, aconteceu na eleição para prefeito de São Paulo. A campanha de Marta Suplicy (logo ela) fez insinuações pesadas quanto à sexualidade de Kassab (“se tinha esposa, filhos”, “quem era a sua namorada” etc.). A reação foi tão grande, partida até de setores próximos ao PT, além de segmentos mais esclarecidos da sociedade, que só lhe restou pedir publicamente desculpas e, como se tornou próprio no PT, dizer que “não tinha autorizado” e “que não sabia de nada” etc.”. Recuaram, e Gilberto Kassab deu-lhe uma surra de votos.

Agora leio nos jornais (Folha do Estado - 15/06) que o deputado Percival Muniz declarou, numa indireta (exatamente a quem?): “Tem político que tem par, mas não tem coragem de colocar o tema em discussão.”

O deputado vai colocar esse tema para debate na campanha e ainda dar os nomes aos bois? Vai funcionar?

...

*Sebastião Carlos Gomes de Carvalho é advogado, professor, escritor e membro da Academia Mato-grossense de Letras


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