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TEMA LIVRE : João Vieira
Os galos de Pirenópolis
10/07/2010
A cantoria dos muitos galos espalhados por toda a cidade, se intensifica na madrugadinha, ante-véspera do clarear do dia, tal qual apoteose de um “Bolero de Ravel” natural. Isto quer dizer que Pirenópolis tem quintais, alguns dos quais ainda amplos e plenos de frutos, flores e sombra e que resistem à gula capitaleira, sempre avassaladora, da pressão imobiliária!
Luziânia, por exemplo, cidade histórica de Goiás e Entorno de Brasília, já não tem mais isso; Paracatu, idem, idem e oxalá se Ouro Preto em Minas e também Diamantina – onde nasceu JK – ou PARATI, jóia barroca do Litoral Sul do Rio de Janeiro (onde o Príncipe-fotógrafo tem sua Pousada), conseguiram, a duras penas, deixar espaços internos, preservados, para os bons ares, respiráveis, para as gentes e o ciscar de galinhas e galos quintaleiros, caipiras, valendo dizer, des-hormonizados. Em tempo – ajunte-se aos galos a estridência de Sinos, que em menos incomodância e mais dolência, completam a nostalgia, sonora, das “civitas” especiais, como Brasília – onde foram (?) proibidos...
Ainda ficam no entremeio, velhas cidades (históricas) por estes Brasis, a começar de Goiás Velho - aqui mesmo na amplidão do Anhanguera... E Cuiabá no Mato Grosso e Vila Bela da Santíssima Trindade, idem – sob a pressão arrasadora da contabilidade produtivo-argentária. E outras mais, como S. J. Del Rey, Tiradentes, Sabará, Mariana e Caeté, em Minas Gerais. Também em Minas a minha CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO. Igualmente Salvador, Recife e Olinda e São Luis do Maranhão ou a velha, multi-centenária Belém do Pará.
Paradoxalmente, Brasília os mantém, ainda, no seu setor de “mansões” do Park Way. Mas não durará muito: uma, duas ... quatro gerações vindouras de proprietários e o “fracionamento”, igualmente capitaleiro e avassalador, não deixará “pedra sobre pedra”. Isto no que tange a áreas livres internas, representando respiradouros da “civitas” ou da “urbs” – esta última idealizada, romanticamente concebida e até consolidada por Lucio Costa, arquiteto-urbanista, e Niemayer, arquiteto!
Pois bem – em Pirenópolis se pode ouvir galos alta e breve madrugada, cantando... Cantando! E no fechar e no abrir do dia, a passarada, como uma “Ave-Maria-no-Morro” (do cancioneiro inspirado), saudar a vida e o mundo com seu canto-algazarra! E também as Saracuras – que o escritor Sergio Capparelli gostou e gostou de voltar a ouvir, aqui – desde os tempos da sua infância.
É isso! As coisas simples deixadas esquecidas, para trás, são valorizadas em relicários como este Nicho Colonial Barroco, que é Pirenópolis, em Goiás (aliás, Goyaz), e que passa a render dividendos culturais, emocionais, relacionais, sócio-econômicos e de quebra, ecológicos – numa palavra – CIVILIZACIONAIS!...
Ainda bem que está cuidado, como de direito, pelas forças civis e oficias de todas as instâncias – com destaque, naturalmente, das locais, sem o que nada emplaca de construtivo e/ou conseqüente, duradouro! Salve PIRENÓPOLIS, por ti, em ti e teus inúmeros eventos, do ano inteiro, especialmente o do transe passante – o II Encontro Nacional das Cidades Históricas e Turísticas / Julho de 2010. Parabéns.
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João Vieira é professor-fundador da Universidade Federal de Mato Grosso, onde lecionou Sociologia e dirigiu o Museu Rondon. E-mail – joaovieirapiri@gmail.com
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