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TEMA LIVRE : Fausto Matto Grosso
Desenvolvimento e meio ambiente
17/01/2011
Muito já se falou nos meios de comunicação sobre a irresponsabilidade coletiva que está por trás da catástrofe do Rio de Janeiro. Desde as destinações politiqueiras e das mentiras quantitativas sobre as verbas de prevenção, da previsibilidade de tais eventos, do descuido com o uso do solo, da ligação entre pobreza e ocupações de áreas de riscos, da comparação entre os impactos de eventos dessa natureza em países mais responsáveis e na Bangladesh brasileira, entre outras coisas. Imaginem como seria a situação se nosso país tivesse terremotos, vulcões e furacões. Por isso dizem que “Deus é brasileiro”.
Além dessa realidade vivida no cotidiano, a ficção científica, em livros e filmes tem sinalizado com alguns alertas. A disputa fratricida por abrigos para fugir do sol cancerígeno, o congelamento de grandes regiões do planeta, epidemias de cegueira, a inundação total do planeta pelos mares e a luta de vida ou morte por água potável. Para o bem ou para o mal - de Leonardo da Vince, passando por Julio Verne, até os pesquisadores da NASA que estão montando o projeto da primeira colônia humana em Marte - a ficção, muitas vezes, costuma virar presente.
Até que ponto e com que meios podem ser conciliados “desenvolvimento” e meio ambiente. Essa é uma das mais importantes questões da pauta planetária na atualidade.
O conceito de desenvolvimento possui raiz econômica e coloca o homem no centro do Universo, uns mais do que os outros. O homem é o fim e a natureza é o meio. Aqueles que controlam os cordéis da economia produtiva repassam ideologicamente esse valor.
Por outro lado, o conceito de sustentabilidade tem raiz ecológica. A natureza é o centro do Universo. Esse é o campo do movimento preservacionista.
É inegável que - dentro de um determinado estilo de desenvolvimento - existe uma contradição inconciliável entre crescimento econômico e conservação ambiental. Não temos como fugir disso. Se aumentarmos as taxas de desenvolvimento econômico, diminuiremos a qualidade ambiental. Se quisermos melhorar a qualidade ambiental teremos que diminuir as taxas de desenvolvimento econômico. O dilema é ainda maior porque temos o desafio, de incorporar milhões de excluídos aos benefícios mínimos da civilização.
O grande nó a desatar é a criação de viabilidade política para uma mudança do estilo de desenvolvimento. Para sistematizar a idéia, temos que usar aquela expressão odiada pelos beneficiários do status quo, “mudar o paradigma”, mudar o estilo de desenvolvimento.
Em um novo estilo a ser buscado, poderemos aumentar o nível de desenvolvimento da economia sem impor uma maior fragilização ao meio ambiente. Podemos fazer isso também recuperando o meio ambiente dos males causados pelo desenvolvimento predatório. A ferramenta adequada é obvia: ciência, tecnologia e inovação. Por isso a necessidade de modificar a escala dos ridículos investimentos na educação – não me refiro à simples instrução, tampouco à educação profissional para a economia de segunda classe – nos centros de pesquisa, nas Universidades, e também na pesquisa do setor privado.
É preciso também mudanças profundas no padrão de consumo. Não podemos conviver com o uso irresponsável da água, com o desperdício de energia, de matéria prima e de alimentos, com a subestimação da importância do transporte coletivo, com a produção crescente de lixo. O desfio neste caso é racionalizar, reaproveitar, miniaturizar, transitar para uma matriz energética mais limpa.
É por conta da amplitude dessa mudança que a causa ambiental tem que ser global e local, ideologicamente planetária e exige a ação direta responsável de cada um de nós, onde estivermos. Daí o desafio de construirmos um novo paradigma. Nessa travessia, ao que parece, ainda teremos que chorar por muitos mortos.
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*Fausto Matto Grosso é engenheiro civil e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. E-mail: faustomt@terra.com.br
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