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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes

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18/01/2011

Do átomo à montanha, da molécula de água aos oceanos, do grão de areia ao próprio Planeta, nada permanece em condição de instabilidade.

Tudo busca o equilíbrio.

Cada átomo de cada elemento químico, de cada molécula, de cada substância, para manter o equilíbrio – ou a estabilidade – precisa manter em sua última camada eletrônica, oito (08) elétrons. Na luta por esse lugar tranquilo, quem tem mais dá pra quem tem menos, quem tem menos pede para os mais abastados e no fim tudo se resume à tranquilidade do equilíbrio. Cada porçãozinha de urânio, por exemplo, demora 3.600 anos para ser reduzido à metade e assim por diante, até se transforma, completamente, em chumbo, o mais feio, porém o mais equilibrado dessa transmutação toda. Todo urânio hoje, por mais inquieto e radiativo que seja, será o chumbo, amanhã; tranquilo, pesado, pachorrento e neutro. Porque é assim que, na Natureza, as coisas são!

As energias disponíveis sempre se deslocam dos pontos de maior, para os de menor potencial. A energia elétrica viaja do positivo para o negativo, as ordens partem dos chefes para os subordinados, as frutas caem da copa das árvores para o chão e... dentre incontáveis outros exemplos enumeráveis, a terra do topo das montanhas, quando encharcada pela água, escorrega até a base, transformando toda uma energia potencial em energia cinética e esta, transformada em energia mecânica enquanto se processa no meio do caminho, vai carregando tudo o que encontra pela frente, até... chegar à melhor condição de estabilidade que lhe seja possível. Exatamente o que aconteceu nas cidades serranas do Rio de Janeiro. Portanto, nenhuma novidade!

Aquelas montanhas estão lá desde sempre, algum tempo depois disso o Brasil foi visitado por chineses, vikings, portugueses e europeus outros, foi declarada a nossa “descoberta”, os governos começaram a se instalar na região e então acabou o sossego. Da Colônia às Repúblicas, deixando no meio, o Império, todos os governos e todos os governantes sabiam - e continuam sabendo - que aquele não é lugar pra gente morar; mas, como as pessoas precisam pagar pelo lugar onde moram, taxas que vão do ITBI ao IPTU, por absoluta indolência e interesse financeiro, foram deixando que as pessoas fossem se instalando, gradativamente, naquela belíssima região onde, antes, a natureza festejava suas cores, perfumes, cantos e encantos. E se algum deslizamento havia, era creditado à conta de mais uma porção de terra que se acomodava ao, finalmente, haver encontrado seu ponto de equilíbrio, como tudo o mais.

O tempo foi passando, as pessoas que ganham a vida “sacrificialmente” fazendo leis e que logo ficariam conhecidas como vereadores, deputados e senadores, sensibilizados com a falta de mais uma que pudesse render um pouco mais de grana com possibilidade de ser canalizada para outros fins que não aqueles a que se destinariam, embora vestida assim, criaram a “Lei de Parcelamento, de Uso e Ocupação do Solo”.

Promulgada, “ipso facto”, começou a ser desrespeitada; porque se fosse levada a ferro e fogo não haveria tanta grana disponível para “os outros fins a que se destinariam” e as regiões serranas de uma das mais belas regiões do planeta passaram, então, a ser ocupadas de forma irresponsável e indiscriminada, gerando haveres e dividendos tributários, econômicos e financeiros mas, elevando às grimpas o potencial de risco e perigo das pessoas que àli se encaminhariam; como turistas ou como “felizes e privilegiados” proprietários.

Resultados? Por exemplo, MAIS esse que acaba de consternar o mundo!

Ou alguém seria capaz de imaginar possível que nenhum imperador, vereador, prefeito, deputado ou governador, que tenha tido assento na história fluminense dos últimos 500 anos, jamais tenha pensado na possibilidade de que um dia viesse a acontecer exatamente o que tem acontecido. Essa não é a primeira vez que vidas e patrimônios são carregados por encostas que deslizam e águas que rolam na Serra do Mar do Estado do Rio de Janeiro, por abuso de quem manda e não faz questão de ser obedecido e de quem deveria obedecer e não está preocupado em fazê-lo porque sempre há o jeitinho brasileiro no meio do caminho.

Em algum lugar do Planeta Terra alguém disse, durante a semana da tragédia, que “o Brasil não é Bangladesh e, portanto, não há desculpas para o ocorrido”. Completamente lúcida a pessoa que disse isso! Na Austrália houve inundações pavorosas - quase simultaneamente às do Rio de Janeiro - e apenas dezenove (19) pessoas perderam a vida. Mas, isso aconteceu na Austrália porque lá é um lugar mais desenvolvido do que o Brasil? Não! Isso aconteceu na Austrália porque lá os governos são mais previdentes, aplicam em prevenção de catástrofes todos os recursos financeiros e tecnológicos possíveis – que não são poucos, por lá - e, pra completar, mantém equipes de monitoramento e socorro, sempre em condições de ação preventiva. Lá, todas as pessoas foram retiradas das áreas de risco em tempo de salvarem suas vidas e o que era possível de seu patrimônio.

É estarrecedor o registro de quantas vezes esse cenário de pavor tem se repetido, nos últimos anos, nas serras do Rio de Janeiro e sempre com muitas vítimas fatais, sem que governos e governantes tomem medidas efetivas de combate e prevenção, para impedir que o amanhã que sempre chega carregado de tragédias agora possa ser impedido de chegar assim.

Temos tecnologia, dizem os especialistas, temos equipamentos de previsão meteorológica e císmica, também dizem, temos o dinheiro que pode bastar ao basta de situações que tais – alardeiam alguns governantes - mas, falta - como sempre tem faltado! - a bendita “vontade política”!

Estamos falando de vidas, senhoras e senhores; vidas!

...

Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro


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