capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 23/09/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.741.654 pageviews  

Guia Oficial do Puxa-Saco Pra quem adora release...

TEMA LIVRE : Montezuma Cruz

Outras colunas do Tema Livre

Um tapa na ditadura: Gauchão mata Zé Dico
18/01/2011



Município de Presidente Epitácio - Pontal do Paranapanema

Fazia calor na madrugada de 23 para 24 de setembro de 1967 quando 22 posseiros armados de espingarda, revólveres, garruchas, facas e foices cercavam a sede da Fazenda Bandeirantes, onde moravam o fazendeiro José Gonçalves da Conceição, o Zé Dico, e o filho Paulo. As janelas estavam abertas. Três homens entravam na casa. À frente deles, o negro Edmur Péricles Camargo, o Gauchão, na época, perto de completar 53 anos de idade. Matavam pai e filho.

Versão do Exército Brasileiro: Gauchão trancou Zé Dico num quarto e o matou a tiros. ¨O filho do fazendeiro tentou socorrer o pai e foi baleado duas vezes”, aponta a mesma versão. Conforme registro da Polícia Civil, nenhum capanga vigiava a casa. Vendo o clima clima ferver, o administrador da fazenda, Antônio Ribeiro, se escondeu.

Essa mesma versão espalhou-se por todo o Estado de São Paulo e pelo País. Era jovem e recordo-me que o jornalista Neif Taiar abria a seguinte manchete na primeira página do semanário A Região, de Presidente Prudente: Terror mata Zé Dico.

O Serviço Reservado da Polícia Militar e a Polícia Civil encarregavam-se de municiar as redações com o noticiário oficial fornecido a partir dos primeiros movimentos do inquérito que apurava a morte de Zé Dico.

Não fora um homicídio comum. O então delegado regional de polícia, Maurício Pereira, atribuía a autoria do crime a Gauchão. E ainda indiciaria o padre Olívio Reato como “instigador dos posseiros”. Logo, a morte do fazendeiro entrava para a história da ditadura militar, junto com outros fatos políticos de 1967: em 24/1, a promulgação da nova Constituição; em 15/3 a posse de Arthur da Costa e Silva na presidência da República; em 18/7 o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco morria em estranho acidente aéreo em Mondubim, no Ceará.

Bandeirantes duas vezes

Coincidência: a Operação Bandeirantes (Oban) criada pelo governo paulista e o latifúndio de Zé Dico em Epitácio tiveram o mesmo nome, um fato até hoje despercebido pelos historiadores que tratam da luta armada e da resistência ao regime militar. Zé Dico fora assassinado em 1967, a Oban surgiria dois anos depois, fortemente apoiada por empresários e inspirada no modelo do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do Exército, para reprimir “terroristas e subversivos”. Torturava e matava.

As ocupações de terra em série no Pontal começariam nos anos 1980, entretanto, a primeira resistência armada ao latifúndio data daquele período em que os ilhéus do Rio Paraná ousavam enfrentar os jagunços de Zé Dico. No capítulo da história do município, o site oficial da Prefeitura Municipal de Presidente Epitácio não publica uma única linha a respeito do primeiro atentado a um fazendeiro, dentro da luta pela terra que começava no final daquela década para se tornar rotineira nos anos 1980.

Na internet, páginas de militares da reserva consideram que o assassinato de Zé Dico iniciou um movimento de contestação à “Revolução de 1964”. Segundo o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, Gauchão teria matado Zé Dico por ordem de Marighela. A notícia da morte foi publicada como “ato de justiça social” na primeira edição do jornal O Guerrilheiro, em abril de 1968. Obviamente, uma publicação malvista pelos militares.

Comunistas e padre na mira

Crescia a sanha impiedosa de José Francisco Medeiros, Zé Mineiro, Guilhermino, Evaristo, João Branco e Chicão, capangas do fazendeiro José Gonçalves da Conceição, o Zé Dico. Eles invadiam roças e casas e faziam pirraça. Levavam panelas, facas, facões e até rádios a pilha. Desde os anos 1950, o governo paulista fazia benesses com terras devolutas.

Ouvindo as conversas do padre e dos comunistas, os posseiros das áreas vizinhas à Fazenda Bandeirantes começavam a reagir ao bando, em 1967. Na área noroeste das terras, cerca de 30 famílias do Poção do Jacó já protestavam contra o pagamento de porcentagem da colheita a Zé Dico. Era pouco e vinha acompanhado de zombaria contra eles.

Ao se negar a assinar um contrato de arrendamento, por exemplo, o posseiro João Rodrigues dos Santos foi surrado e teve a casa derrubada. O bando humilhou-o mais ainda, junto com a mulher e os três filhos menores, ao atear fogo em seu arrozal.

...

TEXTOS ANTERIORES

- Comunistas chegam às ilhas do Paranazão
- E o povo do Pontal nada entendia


...

Montezuma Cruz é jornalista, escritor, editor da agência ¨Amazônias¨ e colaborador-compulsório do Saite Bão


OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques