capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 23/09/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.741.370 pageviews  

Curto&Grosso O que ainda será manchete

TEMA LIVRE : Marli Gonçalves

Outras colunas do Tema Livre

São Paulo, Ailoviiú!
23/01/2011

Peço desculpas de antemão. Terá de ser um pouco maior, tão grande quanto a cidade que homenageia. Feche os olhos. Imagine São Paulo. Vou tentar narrá-la. Ou descrevê-la como fazíamos em nossa infância, na frente de desenhos importados e mal impressos. Aqui está tudo em nossa própria carne. Impressões digitais e na íris, nome de uma flor que você vê, andando por ela.

Vejo coisas malucas que só por aqui. Vi uma fila de motoboys, pizzas na mão, em frente a um prédio só, em dia de chuva. Vejo policiais de bicicleta, de moto, de viaturas, de helicópteros. E descalços, ao mesmo tempo, com seus salários de fome. Uma fome que alimenta a violência.

Vejo até guardas florestais com imponentes Lands Rover. São Paulo tem áreas florestais, sabia?

Na chuva, enchentes. Na seca, narizes sangrando e muito coff-coff-coff. O asfalto queima as patinhas dos cães, muitos, vira-latas ou de madames, mas aqui algumas delas põem sapatinhos em seus bichinhos.

Cavalos puxam homens e carroças. Carroças são puxadas por homens e cavalos. Às vezes homens puxam cavalos e carroças. Algumas, apenas o cavalo solto nas estradas, perigo da noite.

Gente que tem muito. E gente que não tem nada. Nem a perder. Nada. E achados e perdidos, que essa cidade tem.

Tem trânsito, tem calmaria (mas só quando a deixam, fugidos, nos feriados). Tem flores de todos os tipos, árvores coloridas. Mas você precisa olhar para elas. Os ipês, mancas, quaresmeiras, as azáleas, os lírios e as palmas. As íris, quase violetas.

Aqui já vi, vejo e verei mendigos poliglotas. Loucas elegantes que fazem uso à sua moda do que ganham, acham nas latas, caçambas da vida. Nas caçambas dos Jardins acha-se de tudo: estolas, quadros, móveis. Eu já vi e catei. Brinquedos. Não entendo por que quem joga não é capaz de juntá-los para oferecer e ganhar na troca o olhar lindo de uma criança. É São Paulo.

Já vi até dentro de carrinhos de bebê. Aqui tem gente que anda nas ruas com cães, gatos, papagaios, cacatuas, e até porcos e coelhos. Minha mãe teve dois galos. Que cantavam nos Jardins.

Ah, barulho tem toda hora. Agora. De noite e de dia. Psiu? Cadê você, Psiu? Sempre em construção. Ou carros e motos acelerando. Ônibus lotados subindo ladeiras, que aqui têm muitas. E os bêbados da noite, em carros de todo o tipo. Ou nas calçadas. Mas as bêbadas são piores, com suas vozes finas, gritantes e lamuriantes.

Nos céus, aviões, jatinhos e helicópteros. Quase Jetsons, não fossem os balões pipocantes que de vez em quando um ser irresponsável solta por aí. Uóóóómmm. As sirenas das ambulâncias, dos policiais, dos bombeiros, do resgate. E dos idiotas que agora inventaram e usam uma corneta com esse som.

São Paulo: seus parques e praças são poucos. Suas áreas de risco, muitas. Sua periferia, cinza. Suas favelas, até isso, sem graça, sem samba, sem cor.
Mas aqui tem para todo o mundo. Para ateus, agnósticos e etcs. E todas as religiões. Dos rabichos dos Hare Khrishnas, aos dreads dos rastas. Os cachinhos dos judeus ortodoxos, com seus chapelões de pelo. As sandálias dos franciscanos. Os pesados hábitos das carmelitas. O moderno dos Padres Rossi e amigos. As saias ¨colunas¨ das evangélicas tradicionais e os terninhos dos pastores. As cabeças cobertas das muçulmanas. Centros de cabala, Kaballah, centros de espiritismo. Mesa branca, umbanda, candomblé, magias de todo o tipo. Até feiras de cartomantes há! Aqui até fachada de templo evangélico gigante parece fachada de centro gay, toda em arco-íris. Verdade!

Ciganas lêem suas mãos. Malabaristas passam bolas de cristal pelos braços. Comem fogo e espadas. Jogam Três Marias para cima. Os meninos pobres tentam fazer o mesmo. Ou pegam rodinhos e paninhos sujos para limpar o seu pára-brisa.

Aqui em São Paulo tem rua de tudo. De madeira, noivas, móveis, decoração, roupas, panelas, ferragens de porta, de equipamentos musicais. Agora há também ruas, muitas, tomadas por hordas de viciados em crack. E os nomes das suas ruas, São Paulo, nem conto! Queria morar na Rua das Estrelas Fugazes, se houver.

A noite de São Paulo pode ser paga. Ou gratuita, se for só para olhar. Suas manhãs são agitadas. Tem quem vem de longe. Tem quem vá para longe. Ida e volta. Diariamente.

Agora, mas só agora - não acontecia isso antes, acredite - vemos gente de shorts e
chinelos nas ruas. Mas ainda não vemos as mulheres de biquíni nas praças que tem quem queira, não queira, não goste. Não possa. Ah!

As avenidas são como rios cortantes para se transpor. Às vezes a nado. Rezando,
os pedestres. Represas, rios e riachos. Córregos borbulhantes e vazantes. Efervescentes, na cidade, tais quais toda sua gente: contorcionistas, voyeurs e exibicionistas, antropofágicos, simpatizantes até de tudo muito aquilo para o lado direito.

A arte está nas ruas, em grafites, adesivos, carimbos. Em cada um por todos. Todos por um.

Além de igrejas, templos e bibocas, há restaurantes para todos os gostos e nacionalidades, desejos, gostos, bolsos. Agora até em motos nas ruas, comida. Em São Paulo, cachorro-frito já acharam, com gato no churrasco, cavalos no aperitivo. Aqui se vende bem caro até espuma, novidade gastronômica. Chame diferente: iogurte vira frozen; molhos viram nomes extraordinários.

São Paulo fala todas as línguas, sotaques, dialetos, gírias. Com r, s, ou estalados nos dentes, no céu da boca. O rrrrr comprido dos caipiras, que aqui habitam e mantêm o clima, o charme do sotaque, ¨sutaque¨, uai, tchê, guri, guria, painho, mainha. Óxente, cabra da peste!

24 horas aqui tem pães, sexo, sex-shop, pet-shop, materiais de construção, mercados até hiper, massas e carnes, sopas e álcool, nos postos, convenientes, junto com a gasolina.

São Paulo, frenética, violenta, caridosa, e ruidosa. Esburacada e recapeada. Antiga e antigamente, caindo aos pedaços, indo ao chão e erguendo-se, do nada, inteligentes e inacessíveis. Arranha o céu!

Além de especialidades médicas, doenças e males estranhos.

Antenas, muitas. E antenados. Interferências, todas, e gente desplugada, perdida,
michêse michados. Apagões aqui e ali. Até de inteligência. Rua que é estrada, avenida que é rua.

Aqui tem festa suingueira, festa fechada, festa aberta. Fetiches, Sado e Masô. E ainda os sertanejos dos fuscas tunados. Há os meninos e as meninas, em seus clubes dos bolinhas e luluzinhas. No Arouche tem footing gay nas tardes de domingo. Na Augusta em que nasci e vivi, tem todo dia, toda hora. Augusta dos 60, dos 70, dos 80, dos 90, dos cem em diante. 120 por hora.

São Paulo: sua bandeira e a do Brasil tremulam orgulhosas. Você é preta, vermelha, branca. E verde e amarela. Aqui se vê de tudo e se faz muito pouco do que dá. Cada vila, bairro, uma cidade, uma ciranda. Milhões de histórias para contar.

Feliz Aniversário, minha véia!

Daqui de São Paulo, janeiro de 2011

...

*Marli Gonçalves é jornalista. E paulistana.

...

Mais Marli em:

www.twitter.com/MarliGo
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br



OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques