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TEMA LIVRE : João Vieira

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Missa Sertaneja
06/02/2011

Um bom exemplo de missa com adaptações culturais, é a "Missa Sertaneja" oficiada na cidade de Pirenópolis em Goiás. Com a cidade às escuras e a Igreja Matriz clareada a velas (mais luzinhas – enxeridas – de aparelhos celulares), ouvimos a missa em louvor de São Sebastião, santo padroeiro dos animais-de-serventia. A celebração representou culminância de atos festeiros, entre eles o desfile de carros-de-boi, trazidos do rocio agropastoril do Entorno Municipal. Com uma particularidade: “côro” apoiado em toque de violas, tomando-se por empréstimo a musicalidade de toadas sertanejas (à exemplo de Luar do Sertão), sem deixar de lado o trinado, rascante, do Berrante que, de resto, selava a autenticidade da sonoridade campônia. Solene! Em substituição à campainha...

Outro detalhe dessa excepcionalidade religiosa, e cultural, foi o apagão energético, obrigando falas e músicas acústicas, por oposição a sons e vozes amplificadas, como é hoje costumeiro. E que tornava a cantoria de feitio sertanejo mais harmônica e afinada, aliás, afinadíssima. Agradabilíssima – como raramente se topa! Apenas alguma tosse e/ou choramingo de crianças, quebrava a harmonia da musicalidade natural – coisa rara em tempos de profusão de microfones, alto-falantes e, sobremodo, o famigerado e celerado, SOM AUTO-MOTIVO!

Entretanto e por desgraça da era de transição (caótica) por que passamos, transitava pelas ruas exibidos, enlouquecidos ou “excitados” com o apagão iluminário, eles mesmos – os carros sobrecarregados de som – com seus faróis fortes e sua alteridade sonora, agressiva e abusada – ensimesmada – extemporânea e jeca! Aliás, verdadeiramente “caipira” naquele (mau) sentido de coisa grotesca, tosca! E que deve ser combatida, banida dos meios urbanos com aporte civilizatório.

Há leis municipais pertinentes, em geral no formato seguinte - da poluição sonora: “É proibido perturbar o bem-estar e o sossego público ou da vizinhança com ruídos, algazarras, barulhos ou sons de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma que ultrapasse os níveis máximos de intensidade fixados por lei”. (CODIGO DE OBRAS E POSTURAS).

Não justifica deixar esse tópico das legislações municipais quedar como se letra morta fosse – muito ao contrário – fazê-lo vigir com máximo e decidido empenho!

Com a palavra as Prefeituras Municipais, que somadas aos seus respectivos aparatos institucionais (complementares) republicanos – valendo dizer – o Legislativo e o Judiciário, poderiam, sim, combater esta insanidade contemporânea, qual seja, a super-hiper sonorização dos veículos automotivos. E acabar de vez com essa espécie de “lua-de-mel” com o dinheiro e a tecnologia que, excepcionalmente, incomoda, porquanto indiscreta. Barulhenta!

Mas, de volta à nostálgica celebração da MISSA SERTANEJA, vale patentear o agrado e satisfação, tanto emocional quanto mental – de se ter ritual evocativo da religiosidade e bucolismo campestre e que comporta – por que não? – excelência e requintes civilizantes. Pena que tão esmerada evocação fosse atropelada, desrespeitada por “corso” dos carros sonorizados na rua contígua. Em esbórnea brega de vertigem exibicionista! Com a palavra, pois, não mais o queixume, legitimo, dos cidadãos incomodados (ultrajados, desrespeitados) – mas os poderes oficiais competentes. Tenho dito.

...

*João Vieira é professor-fundador da UFMT e escreve quando bem entende aqui no Saite Bão. E-mail: joaovieira01@yahoo.com.br


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