Serapião era peão e entre os que lhe tinham amizade ou conhecimento, para seu aborrecimento e desassossego afirmavam que patrão jamais seria, pois com um nome deste estaria escrito, peão morreria.

Não se conformava e a coisa só piorava quando dele mangavam, pois furibundo após esses achaques, servia de pasto maior a zombarias.

A vontade de enricar, de ajeitar alguma forma de bamburrar o fazia ainda mais vítima das maledicências. Acabrunhado na quietude dos seus pensamentos, elaborava mil formas de achar o caminho da fortuna. Como dava sempre em burros n’água, acabou se tornando mais cômico aos olhos de todos.

De garimpo de ouro e pedrarias somente guardou a dor na espinhela de carregar tanta aniagem de cascalho e terra. Na plantação viu as mandiocas brotarem mirradas, a cana nascer esquálida e as frutas untadas por pragas variadas. Nada dava certo.

Triste com a vida, desafogava o fel da alma dedilhando na viola. Só aí dele se cercavam, pois tocava e cantava com gosto, e se a voz não era bonita, a empostação advinda da emoção causava admiração.

Um dia apareceu Ritinha, toda graciosa e faceira. Serapião sentiu o coração amolecer.

Cercou a moça e sempre por perto dava forma de aparecer. Numa tarde Ritinha o ouviu cantando e acabaram por se gostar.

Casaram e se amaram até o fim do mundo.

Era tão feliz que pouco incomodava mais o seu nome e quando faziam pilhéria, sorria e dizia, sim era peão, mas o peão dos amores da invejada Ritinha.

Fim.

...

*Wagner Malheiros é Pneumologista e amigo do Serapião.

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