Meu pai foi um médico em Cuiabá. Trabalhou quase toda a sua vida no Hospital Geral e foi responsável pelo serviço de Pediatria por décadas.

Se eu quisesse encontrar com o meu pai durante o dia, ia para lá. Todos os dias bem cedo ele descia caminhando a rua Thogo Pereira e ia trabalhar. Conheci todos os médicos que trabalhavam no velho hospital e costumava brincar pelos corredores, principalmente nas suas grandes rampas e o quintal imenso que hoje virou um estacionamento.

O hospital atendia aos doentes do SUS.

Era um ambiente saudável para uma criança poder ir visitar o pai e brincar de um lado para o outro. Não existiam doentes jogados no chão, internados em macas ou filas para o atendimento.

O SUS pagava melhor, mas não recordo de algum médico ter ficado rico trabalhando no velho prédio da 13 de junho. Hoje dizem que o SUS paga mal, mas parece que alguns médicos se dão muito melhor financeiramente. É estranho.

Se um doente estivesse internado sabia-se o nome do médico responsável pelo seu atendimento. O povo respeitava e amava o Hospital, falava-se com orgulho que se havia nascido no Geral.

Li ontem que o prefeito atual da Várzea Grande afirmou existirem muitos fantasmas de médicos trabalhando no Pronto Socorro da sua cidade. Pelo que comentam, alguns teriam cinco a seis vínculos empregatícios. Assombrações ocupadas estas.

Meu pai só teve um vínculo com o Hospital Geral e ele durou quase toda a sua vida. Talvez ele até visite e assombre um pouco o prédio que amava tanto. Ainda mais ao saber, que mandaram embora com um bilhete o amigo obstetra que dedicou cinqüenta anos trabalhando ali, todos os dias.

As coisas mudaram muito.

Diferente daqueles que etéreos que passeiam saudosos pelo Hospital Geral, parece existir uma classe muito viva de fantasmas.

Tristes tempos.

...

*Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT

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