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TEMA LIVRE : Wagner Malheiros
Procurando entender o caos da saúde pública
14/03/2011

Precisamos mudar a forma de encarar o serviço de saúde no Brasil. Um dos maiores problemas é a falta de entendimento do modelo em questão e a validade do seu funcionamento.
A pergunta é: o modelo proposto é efetivo?
Não é e jamais será.
O funcionamento da saúde não vai depender da boa vontade de quem o estabelece. Se for ou não funcionar, isso vai depender das leis da economia.
- Primeiro problema: parte-se do princípio que a saúde é um direito de todos. Ótimo, mas e o dever é de quem?
Se for do Estado como desejam então se entende que a oferta não possui limites. Tudo o que for necessário o Estado deverá prover.
A pergunta crucial agora é: os recursos assim como oferta serão ilimitados?
O óbvio, não.
Não existem recursos para suprir então a oferta ilimitada. Primeiro grande entendimento.
- Segundo problema: como resolver a questão da falta de recursos, se é aceito o princípio que a saúde é um direito de todos?
Impedindo que a demanda seja infinita.
Como se faz isso? Com controle de custos.
- Terceiro problema: decorrente do controle dos custos surge à fila. Teremos fila para consultas, cirurgias, etc.
- Quarto problema: Para resolver o problema das filas surge uma burocracia restritiva. Ao invés de resolver a questão, criam-se categorizações. Um doente só pode ser atendido se estiver enquadrado numa das diversas sistematizações criadas. Aqui em Cuiabá isso é chamado de Regulação. Procure saber meu amigo, quantos funcionários trabalham na regulação do nosso Estado...
Ao doente restam três opções: esperar, desistir ou morrer.
- Quinto problema: a máquina burocrática é cara, mais recursos são sugados. Os que trabalham de fato passam a ser mal remunerados.
- Sexto problema: um dia um burocrata se achando brilhante resolve que a medicina dos consórcios ou seguros de saúde deve-se ter regulamentações para que funcionem. Criam-se regras, o intervencionismo do Estado quebra as leis do livre mercado penalizando o sistema privado. Busca-se transferir a responsabilidade de resolver a escassez do sistema público se intrometendo e cerceando uma atividade privada.
O governo exige coberturas cada vez mais amplas e as apólices explodem seu valor. O sistema começa a ser sucateado. Para impedir que as apólices subam ocorre mais intervenção do governo, o sistema sucateado então caminha para ser obsoleto.
- Sétimo problema: para o profissional de saúde tanto a medicina pública quanto a de consórcios passa a ser desinteressante.
O resultado é que os melhores médicos abandonam esses dois sistemas e passam a atuar somente de forma particular.
Quem pode pagar são os ricos.
Os mais pobres como sempre perdem. E são justamente os que defendem o sistema gratuito de saúde, além é claro daqueles que possuem vários vínculos empregatícios e se locupletam sugando os parcos recursos.
Resultado: a medicina pública é ruim, a qualidade do serviço prestado pelos serviços de convênios torna-se sucateada e de qualidade duvidosa e a medicina particular se torna muito cara.
Como resolver então? - estabelecendo o livre mercado e desonerando os impostos. Mas isso parece ser possível somente na mentalidade do primeiro mundo.
Aqui no terceiro mundo ainda se fiam soluções mágicas para resolver problemas que foram enfrentados, entendidos e resolvidos nos países desenvolvidos.
Aqui temos a arrogância da burrice em galope com rédeas soltas.
...
*Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT


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