Sempre me incomodou o provérbio “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, principalmente após ter lido o conto “Em terra de cego” de Herbert George Wells.

Na minha humilde opinião, quem enxerga alguma coisa em terra de cego é um anormal.

Veja bem, basta analisarmos nossa situação ética atual. Quem no serviço público gosta da pessoa correta, honesta e que prima pelos bons conceitos nesta terra em que a ética é tirar vantagem em tudo?

Poucas pessoas...

Não adianta dizerem o contrário que é conversa fiada.

No conto de H. G. Wells uma pessoa “normal” acabou por se achar numa região em que todos eram cegos de muitas gerações. O que poderia ser uma vantagem acabou se tornando um estorvo diante daquela sociedade e ao final o personagem principal da ficção chega ao ponto de se preparar para uma cirurgia que o deixaria cego, assim se tornaria apto para conviver com todos aqueles que o rodeavam e seria aceito por sua amada que vivia na penumbra.

No final o bom senso prevaleceu e o homem se escafedeu da região.

Ele não aceitou perder a sua realidade e as belezas que seus olhos admiravam.

Hoje em dia quem deseja participar de grupos políticos e é virtuoso fica na dualidade, como conviver em um meio cercado de corruptos mantendo a sua integridade?

Se optar por se manter cego a realidade, os princípios morais são deixados de lado. Se persistir mantendo sua convicções, o caminho é se tornar uma anormalidade nesse meio e são muitos raros os que tentaram e menos ainda os que conseguiram manter-se dignos.

O homem honesto, de visão para o bem, assim como o personagem do conto acaba fugindo daquela realidade que não é a sua.

Quem toma conta da política na sua maioria são os menos aptos, que habitam um mundo a parte, cercado dos muitos em que se espelham pouco se lixando para a opinião alheia.

O desejo destes é de se cercar por seres subservientes, pelos vendidos por sinecuras e bajuladores em busca de migalhas.

Para quem deseja viver no meio de tais pessoas é necessário ser ou tornar-se cego de princípios.

O desejado é a cegueira moral, nesta nossa terra quem enxerga passa a ser o problema.

Vivemos no Vale dos Cegos.

Meus olhos?

Esses ninguém fura!

Xô!

...

*Wagner Malheiros é médico Pneumologista em Cuiabá/MT

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