No domingo de carnaval estava eu em mais um agradável dia em família com os amigos, na romântica, bucólica e degradada Chapada dos Guimarães... De repente o inesperado: a queda do Dudu (meu sobrinho ¨de consideração¨) de um balanço, de cabeça no chão. O susto foi grande, muito sangue e um corte profundo em seu couro cabeludo. Estancamos o sangramento com o que havia disponível: o meu dedo indicador e uma toalha limpa.

Seguimos rumo ao Hospital Santo Antonio, onde por anos trabalhei quando recém-formado. Tive naquela época a honra de acolher muitos novos chapadenses que nasceram em minhas mãos, tratar a população carente e confortar a família dos que se ¨iam¨ em meus plantões... Surpresa, o hospital havia mudado... E o Dudu sangrando no carro... Que desepero. Graças a um frentista do posto de gasolina que fica em frente do antigo hospital descobri o endereço e para lá rumamos com muita pressa e dificuldade (muito trânsito e pouca sinalização em ruas estreitas e repletas de foliões)...

Lá chegando fui até o médico plantonista e solicitei autorização para fazer a sutura na cabeça do Dudu. Afinal de contas apesar de ser ginecologista sou apto a tratar este tipo de ferimento. E, além disso, era o Dudu, eu queria fazer...

Após muito grito, lençóis sujos e musiquinha para acalmar o paciente, tudo deu certo. Dudu suturado, acalmado e com a cabeça enfaixada...

Muitos perguntariam: ¨E os exames?¨. Por que não fazer uma tomografia ou ressonância da cabeça do sofrido Dudu?

Pois é... Exames complementares são exames que complementam os dados da avaliação médica inicial, fornecendo informações necessárias para a confirmação das hipóteses diagnósticas e indicação de adequados tratamentos.

Muitos exames complementares são solicitados sem critério, de modo inadequado e indiscriminado, esquecendo o princípio fundamental que é o de esclarecer dúvidas não passíveis de serem esclarecidos por outros meios (como o simples conversar, ver e examinar o paciente).

O aparecimento de novos e fascinantes métodos de diagnóstico vem aumentando o encantamento dos médicos e pacientes pelos exames complementares, gerando a falsa e fantasiosa sensação de estar praticando e recebendo uma medicina moderna e atualizada.

Os exames complementares não suprem a deficiência técnica e as inseguranças do profissional solicitante, o tempo cada vez mais exíguo da consulta médica e nem devem ser utilizados com objetivos escusos e antiéticos ¨de gerar ganhos financeiros para o profissional ou a entidade para a qual trabalha¨.

Nada substitui uma boa análise médica com dedicação, carinho, respeito e atenção... Anamnese (conversa) e exame físico não devem vir depois do exame complementar... Os mesmos apenas devem acrescentar subsídios ao diagnóstico final!

O Dudu? Passa bem, sem problemas e está cada vez mais arteiro...

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*Rozeno Costa é Ginecologista e Obstetra e atende no Hospital Femina em Cuiabá. Támbém é coordenador da Unidade de Fisioterapia da Unimed Cuiabá e médico do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMT, e leitor do site que ninguém lê.

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