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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes
Que dó!
02/04/2011
Luís Fernando Veríssimo diz, em uma de suas muitas e muito bem humoradas crônicas, que “o casamento é a união de duas pessoas, na qual uma sempre tem razão e a outra é o marido”.
É mais ou menos o que acontece entre o Estado e o Cidadão; o primeiro sempre está certo – por mais errado que esteja! – e o outro é o boi de presépio, que está sempre abanando a cabeça, dizendo que sim; mesmo que não concorde com o que está passando, sentindo, presenciando ou pagando! Porque é sempre ele quem paga; a conta e o pato. Independente do que esteja passando, sentindo ou presenciando.
Quando comecei a escrever este texto era “primeiro de abril”, o dia da mentira e talvez não fosse a melhor ocasião pra eu falar do que pretendo neste ato, mas, como já se tornou uma dificuldade nacional distinguir quando uma figura política está dizendo a verdade ou mentindo, desconsiderei a data e gritei: Onde é que estão a responsabilidade e o bom senso?
Caramba; alguém deve ter metido a mão nessas virtudes e vazado; porque não é possível!
As casas legislativas estão abarrotadas de projetos que serão votados sempre “no menor tempo possível”, os governantes - de estados e municípios - adotando o mesmo discurso em relação aos buracos das ruas e das estradas, à infraestrutura nas feiras-livres, à reforma das escolas, ao programa habitacional largado pela metade, aos hospitais públicos pedindo pelo amor de Deus pra serem colocados em condições de adequado atendimento, inclusive no tocante a médicos, pessoal de enfermagem, etc., etc., etc., e... etc.
E segue a lista com o tapa-buracos que não termina nunca, a greve setorizada – mas corriqueira - de servidores desprestigiados e insatisfeitos, a liberação ambiental pra instalação daquela indústria que já está quase desistindo do novo investimento, das escolas sem carteira, sem professor e sem qualidade, das polícias que ganham mal e não dão conta da segurança do povo, do...
Mas, que bom se fosse só essa a lista do desleixo, da irresponsabilidade e do descaso!
E a mão grande no erário, sob todos os pretextos e em todos os setores, os desvios escabrosos de dinheiro público, a falta de hospitais, de leitos, de ambulância, de UTI, de médico plantonista?
E a falta de vergonha de quem manda, que acaba incentivando o desrespeito de quem deveria obedecer?
E as mentiras que dizem, os que deveriam primar e zelar pela verdade?
E o ensino ciclado, que enturma pela idade, quando deveria alfabetizar e instruir pela necessidade, pelo amanhã, pelo país, pela soberania?
A decrepitude da consciência e o desuso da razão têm feito, do povo, marionete em mãos inábeis ao seu trato; em mãos desajeitadas demais pra tarefa tão importante, porque o trato das coisas do povo, como o próprio trato do povo, deveria ser objetivo e não meio! Objetivo de realização pessoal e não meio de locupletar. Que mãos são essas, que não se prestam a nada além de servir ao seu senhor?
E os direitos do cidadão, onde estão? Onde está o cidadão?
Há comandante de governo com tanto gosto pelo ilícito que seus atos mais parecem ficha corrida de delegacia de polícia do que currículo de feitos à população donde governa; que saga é essa que do bando faz herói?
Onde os senhores da legalidade, que não se lhes ouve a voz e não se lhes sabe a ação? Terão sucumbido à sanha do ganho compulsivo, ilícito, maroto e desrespeitoso? Mas, e a função que deveriam desempenhar em nome do povo e por ele, quem a desempenhará?
E o feitor, o que manda quando não sabe fazer e faz o que sabe quando lhe dão poder? Ter-se-á calado em nome do silêncio, apenas, ou terá sido obrigado à mudez por força da própria culpa?
O povo, enfim, mal informado, guiado por aparências e crédulo convicto, inda não sabe distinguir entre a bulha do guizo e do cincerro; pra ele tanto faz se é verdade ou não, se será cumprida tal promessa ou se esta será só mais uma transmutada em verdade na primeira oportunidade, antes da próxima eleição.
Que dó desta Nação que empobrece a cada dia e cuja gente pede, implora e rasteja, enquanto sufoca no peito o grito que grita a Constituição:
“É do povo o direito sagrado à saúde, à segurança, à dignidade, à moradia, à vida e à educação”.
Que dó desta Nação!
...
*Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro
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Comentários dos Leitores
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Comentário de ceneka (cnk@ibest.com.br) Em 02/04/2011, 19h46 |
ONDE OS SENHORES DA LEGALIDADE....? |
ESTARIAM ESCONDIDOS ATRÁS DOS BALCÕES? |
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