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TEMA LIVRE : Gabriel Novis Neves
Palavras
12/04/2011
Existem certas palavras do nosso idioma que se transformaram em símbolos do deboche para nós, cidadãos de segunda classe.
Todas as vezes que as ouço, geralmente pronunciadas nos meios de comunicação por nossas autoridades para tentar justificar o injustificável, o sentimento que tenho é de indignação.
Será que esses mentirosos acreditam que alguém aceita o que dizem?
Acho que esses espertinhos que vivem no reino encantado da fantasia, são os únicos a pensar que conseguem enganar o povo.
Vamos direto ao assunto.
A mídia tem dispensado à população um espaço, até então inconquistável, para debater os sérios problemas de atendimento à saúde.
Os problemas são os de sempre, com o agravante do desprezo dos nossos governantes para a área mais social dos seus governos.
Entre as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos pobres, está a aquisição de medicamentos para prolongarem as suas vidas.
São os chamados medicamentos de alto-custo, principalmente. Entra ano sai ano, esses medicamentos estão sempre em falta. Vale ressaltar que eles são os principais aferidores da humanização da medicina.
Aparece então na telinha a cara do ocupante transitório do poder e lasca essa: - “o problema não é falta de dinheiro, e sim de planejamento”.
Planejamento estratégico é uma expressão que tem que ser banida dos nossos dicionários.
Quem viveu, ou acompanha um pouco a burocracia oficial, sabe que o planejamento existe, e bem feito.
O que acontece é que em todo início de ano, os nossos imperadores administrativos protelam ao máximo a abertura do orçamento. Com isso o planejamento feito com antecedência, e aprovado, fica prejudicado.
Depois vem o tal do contingenciamento. Que vem a ser o corte linear de dinheiro, naquilo que deveria ser executado pelo planejamento.
Na sequência, revisão do planejamento aprovado, para cortar gastos, pois o governo não tem dinheiro para executá-lo.
As prateleiras das farmácias esvaziam-se. Os pobres pedem socorro ao Estado para não morrerem à míngua. Encontram-no cego, surdo e mudo.
A mídia pressiona, e surge a pornográfica justificativa: faltam planejamento e gestão moderna, quando, na realidade, cortaram o dinheiro para a compra de medicamentos.
É comum no nosso Estado essa compra ser efetuada, não obedecendo ao planejamento do ano anterior, mas tão somente, no segundo semestre do ano.
Os pobres procuram a justiça, que é demorada, e o problema não é dela.
Morrem na fila de espera do medicamento, e a causa da morte é a falência múltipla dos governos Federal, Estadual e Municipal.
Cidadãos de segunda classe! Não se esqueçam daqueles que, diante da tragédia fabricada por eles, aparecem elegantemente em nossas casas, e diante de tanto sofrimento humano, falam que a culpa é da falta de planejamento.
Estão mentindo. A verdade é que, criminosamente, desviam os recursos destinados à compra de medicamentos.
...
*Gabriel Novis Neves é médico obstetra, professor-fundador, primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, ¨ginecologista¨ estatutário e compulsório do Grupo Fazendas Reunidas Perereca Enterprise, Broadcasting & Corporation e nas -- poucas -- horas vagas, compositor.
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