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TEMA LIVRE : Wagner Malheiros
O comunista morreu
20/04/2011
Morreu e como todo o comunista foi parar no inferno.
Lá chegando se deparou com um cenário conhecido. Apesar de não identificar com clareza, observou que a região era parecida com alguns países socialistas.
Havia pouca comida, não existia liberdade e a diversão dos moradores era exercer a atividade do dedo-durismo, estimulado pela policia política de lá.
Achou que era o paraíso. Para os comunistas o ideal de paraíso é semelhante ao inferno do resto da humanidade.
Logo foi recebido por Fidel Castro. Que alegria! Mas não sabia que ele, o grande líder cubano, tinha morrido. como era possível?
O grande chefe contou que era o manda-chuva ali. Ele e um punhado liderado por Che Guevara, Marx e Lenine tomaram de assalto o inferno.
Num acordo de rendição com o derrotado Belzebu, Fidel permitiu que o chifrudo fosse governar Cuba. Trocou de chefia, ele ficou no reino das trevas e o diabão tomou a imagem e semelhança do barbudo e partiu para a ilha.
Ninguém tinha notado que Fidel havia morrido e o capetão logo tomou as rédeas da situação.
A primeira coisa que Belzebu fez ao chegar a Cuba foi se aposentar e mandar o pessoal começar o capitalismo na ilha. O diabo não é burro.
Pela primeira vez em milênios ficou feliz. Abençoou ter perdido o inferno.
Parou numa loja e comprou uma sunga.
Depois saiu para a praia e começou a ler Hemingway. Adorava ler “O velho e o mar.” No entender do vermelhão o velho Santiago era parecido com ele. No final acabavam como um vencedor frustrado, ambos recebendo como os despojos da vitória a carcaça de algo que foi bom. Assim são os homens – pensou – nascem puros e vão se degradando em vida.
Ao menos o velho Santiago dava uns cascudos nos tubarões e lutava contra seu destino. Ele nem isso. Quando reinava no inferno ficava sentado recebendo um número cada vez maior da mixórdia humana. Muito aborrecido.
Agora, isso era problema do Fidel, o novo chefe do inferno e seus companheiros esquisitos.
Passou o tempo. Passaram trinta anos e a Ilha comemorava o aniversário de 120 anos de Fidel. Estava cada vez mais moço, diziam!
Podiam dizer que agora Cuba era uma ilha de prosperidade. Após instalar o capitalismo, muitas empresas de turismo se instalaram na região e a indústria canavieira renasceu com o uso do etanol como combustível. O cubano era rico e sua mesa farta.
O diabo estava gordo e tinha feito a barba. Ficou aficionado do Mojito da Bodeguita. Lá encontrava a hortelã mais fresca da ilha e o rum mais saboroso.
Um dia chegou uma comissão diplomática vinda do Inferno.
A situação lá tinha desandado de tal monta que os comunistas pediam seu retorno.
Belzebu, o chifrudo, na indolência da sua rede, suspirou e citando seu autor preferido disse:
“Aprendam com seus antigos demônios, mas atenção, o diabo não é velho porque é sábio e sim porque é prudente... Vê-me mais um Mojito, Ernesto!”
...
*Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT
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