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TEMA LIVRE : Wagner Malheiros
É hora de um basta na saúde
04/05/2011
Existe uma pergunta sem resposta na saúde pública.
Por mais que se questione na mídia a falta de um hospital geral em Cuiabá, não ocorre nenhuma manifestação dos órgãos públicos sobre o assunto.
É um silêncio constrangedor.
Em março do ano passado o então prefeito Wilson Santos “reinaugurou” o Pronto Socorro Municipal com estardalhaço, frisando o gasto investido. Seriam seis milhões de reais.
Não se sabe quando será inaugurado o novo estádio de futebol. Não se assustem se a conta chegar próximo a um bilhão de reais.
Quando o puxadinho do PS foi liberado para uso com toda a pompa pelo então recém empossado prefeito Galindo, a conversa foi que uma nova era de atendimento a população surgia. Uma revolução começava e o pai desta seriam os nobres e benevolentes mandatários - alertavam alguns áulicos com sobriedade espantosa.
Pouca coisa mudou. Doentes são atendidos no chão ou em cadeiras de fio. Toda chuva mais intensa é seguida de noticias sobre alagamentos em salas ou corredores. Faltam exames e procedimentos.
Um dos seus diretores toda vez que inquirido pela mídia, açodado e com olhar bovino repete sempre as mesmas vagas e tolas desculpas. Um laudatório de incompetência!
Cinco meses após a inauguração da duplicação da estrada para Chapada de Guimarães, ao custo de um milhão de reais o quilometro construído, constataram que o asfalto está de desfazendo e a estrada se desmanchando.
Gastam-se verdadeiras fortunas em estádio, estradas mal feitas e outras obras. Dinheiro para um hospital para nossa população, nada.
As noticias sobre a saúde são assustadoras. Toneladas de medicações são deixadas de lado até se estragarem. Quanto foi o custo? Porque deixaram estragar? Quantas pessoas foram prejudicadas?
A Central de regulação é tão ineficaz que a ultima noticia foi sobre a venda de lugares na fila para pacientes serem atendidos. E o pior, denuncias sobre a venda de medicações. Enquanto de um lado se estragam remédios sabe-se lá por qual o motivo, do outro aparecem alguns espertos os vendendo no interior do próprio Pronto Socorro.
Num país sério com certeza alguém iria para o olho da rua e alguns para a cadeia.
Como vivemos numa terra em que um escândalo sucede o outro, a sociedade permanece anestesiada e o tempo vira um aliado para os irresponsáveis e criminosos.
Cada região tem a Cassandra que merece e por aqui elas são incompreendidas pela surdez moral de muitos e a indiferença de outros.
Daqui pouco tempo teremos um monumento à insensibilidade que será o novo estádio de futebol e ao lado a população jogada e relegada a um desumano atendimento na saúde pública.
A construção de um hospital digno poderia ser realizada com uma fração do dinheiro gasto no novo estádio, mas o que são as vidas de alguns conterrâneos frente a realização de uma festa?
Remédios apodrecem, vende-se lugar nas filas de cirurgia, doentes são jogados no chão ou em macas, faltam procedimentos médicos que existem e não são contratados.
Não falta dinheiro, falta vontade!
A incompetência continua sendo premiada e o povo tratado com desprezo e somente lembrado na hora do voto.
É preciso dar um basta nessa situação, é necessário que a sociedade assuma uma postura. Não digo a sociedade bajulatória que cerca o poder, mas sim aquela sociedade que guarda os valores éticos, morais e que assiste calada a esse rumo ao precipício que caminhamos.
Que nossas Cassandras sejam uma vez ouvidas.
...
*Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT
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