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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Terra, mar e ar
12/06/2011
Atrasei ao máximo a redação esse texto por que não queria escrevê-lo. Poucas vezes isso aconteceu na minha curta carreira de cronista e/ ou articulista.
Queria - do fundo do meu coração - que o assunto em pauta tivesse se esgotado, fosse página virada, algo para não ser nem lembrado.
Já sei. Deixei-me levar pelos ritmos do fraseado e do ideal inalcançável, exagerei. É impossível esquecer. Até por que fatos e atos como estes devem ficar para sempre na nossa memória, assim como seus responsáveis.
As imagens do Bope, a tropa de elite da Policia Militar do Rio de Janeiro, atacando o quartel central do Corpo de Bombeiros com armas letais servem para exemplificar a inversão de valores que (des)norteia nossa sociedade.
Se as ações dos integrantes do Corpo de Bombeiros poderiam ser controladas, reprovadas e, posteriormente penalizadas, com as atitudes deploráveis das autoridades constituídas, isso deixou de ter sentido.
Pagamos com os impostos advindos do nosso suado trabalho as balas e as bombas de efeito moral que atingiram os bombeiros. Saíram do nosso bolso os custos de toda a espantosa operação que covardemente colocou de joelhos nossos heróis.
Eles, que resistem ao fogo, a água e a terra se curvaram diante da violência profissional de seus colegas de farda.
Sim, me refiro aos heróis mais presentes no nosso cotidiano e sempre disponíveis para nos ajudar em nossas incontáveis e inesperadas mazelas. Aqueles que nos amparam, protegem e literalmente, salvam vidas humanas diuturnamente.
Confesso que somente a eles presto obediência cega e total. E solidariedade também.
Afinal, o que sabem sobre suas reais dificuldades aqueles que não hesitaram em ordenar que a revolta fosse sufocada com o uso de armas letais?
Nem à praia, provavelmente, costumam ir. É, por que qualquer carioca que se preze tem, na sua vida, pelo menos uma lembrança de um salvamento sensacional ocorrido na extensa orla carioca, pra começar.
Vou mais longe, ou melhor, mais para perto da minha experiência pessoal ao lembrar a atuação irrepreensível de seus soldados quando despenquei, em plena Sapucaí, no desfile da Mocidade Independente de padre Miguel, em 2009, atingida na cabeça por uma peça móvel de um carro alegórico. Foram fofos!
Tenho um dom, quase um talento, de poder usar a caneta e o papel para narrar como fui atendida com presteza e eficiência neste episódio e em todas as outras ocasiões, sem exceção, em que os vi agir e atuar nessa minha longa (ui) estrada de repórter.
Se você, leitor, não puder como eu escrever, nem precisa tentar. Basta que faça um exercício mental e busque em suas memórias pessoais a forma com que sempre assistem aos que deles necessitam.
Transforme sua indignação em ação. Se vista de vermelho (cor da moda nesse inverno), proteste e apóie essa justíssima causa. Colabore como puder e mostre de que lado você está nessa briga do bem contra a ignorância da política irracional. Se manifeste!
PS: Domingo, dia da publicação deste texto, a partir das 9 da manhã, haverá uma manifestação pela libertação dos 439 bombeiros presos, para que o governo melhore seus vencimentos e suas condições de trabalho. Espero que até lá, estas palavras sirvam apenas como um registro da minha indignação com a história vergonhosa de uma luta desigual.
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*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Esta crônica faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
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