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O Outro Lado Porque tudo tem dois, menos a esfera.

TEMA LIVRE : Wagner Malheiros

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Carta para o professor
18/06/2011

Bonjour mon ami le professeur.

Estou escrevendo menos. Acho por andar pensando demais. Os tempos são desanimadores e vai-se de mal para muito pior.

Lembro de uma frase - não me recordo do autor - malemá assim: “A maior diversão de um homem inteligente é se passar de idiota em frente a um idiota que se acha inteligente.”.

O problema das estultas criaturas é que não se dão conta de suas limitações. Como os ignaros falam e falam! E o mais engraçado é que o linguajar é muito semelhante, variando do oco ao vazio.

Meus guris estão crescendo, o maior com dez anos e eu já preocupado ando comprando muitos livros, tentando de leve influenciar ao gosto da leitura. O bom que dessa forma acabo relendo alguns clássicos e para minha infelicidade, constatando a minha ignorância.

O mais difícil é ser simples, é escrever de forma sucinta, clara e compreensível. Por mais que idolatrem alguns, aqui em nossa terra tivemos poucos escritores. Muito pouco.

Pode parecer uma ofensa grave a alguns, mas Machado é muito chato. Numa só página de um livro é capaz de citar dois gregos, um russo e meia dúzia de citações em latim. Era um pedante numa terra de analfabetos e creio que queria é se mostrar igual frente ao Velho Mundo. Complexado e chato, enfim.

Mas como sou um ignorante, continuo lendo. Daqui uns cem anos talvez eu entenda alguma coisa. Espero.

Estava relendo Voltaire. Tenho uma admiração imensa, principalmente por ele jamais ter segurado a língua viperina. Quando o achavam sob controle, aprontava escrevendo algo ridicularizando modos ou pessoas. Foi freguês da Bastilha, espancado e degredado, mas enfim reconheceram seu talento. No túmulo...

O que acho admirável é que escrevia de forma simples e elegante. Por aqui bajulam Machado que bajulava a Europa. Lá admiram quem era claro e conciso. Ninguém lê Machado por aquelas bandas.

Voltaire. Para alguns que nos ridicularizam, lembro do seu "Tratado sobre a Tolerância". Um primor, mas que lhe rendeu alguns cascudos. Como o povo por cá anda intolerante. Querem a tudo o controle. Discordar da escumalha no poder é ser derrotista e jogar contra. Bem dizia Nelsão! - "O nacionalismo é o último refúgio do canalha". Até nosso Supremo agora julga com o coração - diz-se - e eu que achava que o STF era o defensor da carta Magna.

Nelson era muito bom, mas ainda pouco valorizado. Por nosso triste trópico todo e qualquer pensamento tem que ser rasteiro, a mediocridade campeia em vastas planícies. Pornográfico é roubar, bem o disse. Um anjo...

O que às vezes me emputece muito é que durante um bom período de minha formação - e de quase toda a minha geração - houve um desestímulo à boa leitura. Os nacionais-socialistas - não os da Alemanha, que eles renegam - mas os marxistas - que eles idolatram - tomaram de assalto à formação universitária e enfiaram autores como o Galeano, um tolo mistificador que na minha adolescência romântica - assim como a de muitos! - lia com parvo deleite. Isso quando não nos enfiavam o baiano Amado. Creio que o Lula disse não ler jamais depois de ganhar uma obra da madre Superiora do Maranhão, o Sarney, aquele que criou um Estado para arrumar uma vaga no Senado.

Bem o disse Roberto Campos - a adolescência é o tempo dos hormônios e da paixão, a razão chega bem depois...

Voltando a Voltaire, lembro de um livro - Cartas Filosóficas - em que, dizia que os ingleses eram prósperos porque trabalhavam e reconheciam o talento e o mérito. Mesma coisa reconhecida por Weber (ética protestante!!!) e enfim rezado diariamente pelos liberais ( Hayek e Misses). O engraçado é que os franceses ficaram emputecidos e Voltaire acabou novamente castigado.

Mas é assim, a razão costuma ser castigada. Os sonhos são sempre mais prazerosos. A verdade é dura.

Aqui em Cuiabá a coisa anda feia, como em todo o nosso país. O tal governo agora deseja que falemos errado. Que eles promovam um pensamento errado já é duro, agora falar errado vai ser o bacana. Triste mundo.

Eu estou aqui, numa sexta feira à noite, tomando um Red e escrevendo. Se escrever, boa parte da culpa é tua, já que me influenciou em fazê-lo. O duro é demonstrar os erros gramaticais e de concordância. Mas depois que li no Reinaldo Azevedo uma professora de nossa língua - pobre língua! - o espinafrando e afirmando que em nosso hino quem ouviu o brado retumbante não foram às margens plácidas e sim o povo heróico, nada mais me assusta. Bem que susto eu tomei quando vi o tal Ipiranga cercado de concreto e bem mais feio que nossa infeliz prainha, lá pros lados de Sum Paulo, a capital do Brasil.

Lembro que a Prainha era pródiga em engolir fuscas, derrubar bêbado e cachorros. O local que fundou o Brasil virou esgoto igual ao lugar que assentaram nossa Cuiabá.

Tudo na mesma.

Aquela história sua, lá com o Lacerda tem que escrever!!! Eu acho que o Lacerda era inteligente, mas que se brincasse derrubava a própria mãe. Morreu derrubado, coitado. Bom seria o Lott, creio...

Professor... tá bom. Depois de pular da prainha para o Lott, creio que foi a última dose da Red... ao menos para continuar escrevendo.

Lott, Montenegro... ninguém nem sabe! A Dulce morreu e estava sem dinheiro... e quem foi burro era o Figueiredo?

Ele tinha é razão... Burro é o povo.

Melhoras e bom fim de sumana!

...

Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT


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