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TEMA LIVRE : Wagner Malheiros
Do interior do meu barril
02/07/2011
Diógenes morava dentro de um barril. Como o ensino da filosofia foi banido das escolas, somente os mais velhos e adeptos da boa leitura saberão de quem escrevo.
Creio que baniram a filosofia por ensinar a ética, coisa tão em falta a montante e a jusante deste momento.
Durante o dia, Diógenes saía com sua lamparina percorrendo as ruas. Quando inquirido, respondia que buscava um homem honesto. Isso foi em Atenas, agora imagine por aqui como seria a sua inefável busca.
Os homens honestos estão por aí. Só estão enclausurados em seus barris. De uns tempos andam de janelas fechadas, para fugir a curiosidade pública.
Existe uma parte menos anedótica sobre esse filósofo. E é justamente a mais atual de todas, por tratar sobre a servidão.
Não sou filósofo, longe disso. Mas o fato de não possuir vastas credenciais, não me impede de opinar sobre as muitas coisas. Quem gosta de cercear idéias são os totalitários e, como ainda estamos num regime mal e má democrático, entônce “cogito, ergo sum”.
Hoje, Diógenes com suas idéias seria condenado por vagabundagem, mendicância e atentado ao pudor. Mas nada seria pior que a condenação de suas ideias pelo tal politicamente correto.
Nestes dias, o bom homem é o insosso. Ele não pensa e não externa opinião. Torna-se cada vez mais medíocre chegando ao ponto de não possuir julgamentos morais. Mais politicamente correto impossível. É o cachorro que não late quando assaltam a casa do seu dono.
Retornando o Diógenes, ele afirmou que muitos são escravos por convicção e que necessitam de um mestre para seguir, uma servidão voluntária.
A servidão, além da física, pode se estender à servidão da alma. Assim como podemos definir a alma como o que dá vida à matéria, também podemos entendê-la como a soma de valores de uma pessoa. Não se diz que fulano é uma boa alma?
Aqui na terrinha assistimos inglória luta dos esquerdistas de plantão. Se antes andavam de braços dados e gorjeavam elogios mútuos, a coisa desandou. E muito.
Sou crédulo da evolução e do exercício da inteligência. Nascemos ignorantes e, dependendo do berço, podemos ou não desenvolver nosso intelecto e convicções.
O apedeuta não tem vergonha de falar, guia-se mais pelas emoções - que quiçá muito poucas vezes deixa de ser divorciada da razão. Tenho medo daqueles emotivos que com olhos esbugalhados pregam o ódio alegando a defesa de certo “bem maior”.
O esquerdista é servil, escravo duma doutrina liberticida e genocida. Para estes os fins justificam os meios. E se para chegar lá se torna necessário erigir uma montanha de carne humana ou instalar um governo corrupto, isso é de pouca ou nenhuma importância.
Tenho amigos esquerdistas e bem sei que se a coisa desandar e pintar um Fidel por aqui, eles não titubeariam em mandar-me ao "paredón". Eu somente os recomendo a boa leitura, o que não fazem. Lêem o barbudo russo que padecia de incuráveis furúnculos nas nádegas. Talvez isso explique o azedume e a tibieza racional de seus preceitos ou preconceitos, sabe-se lá...
Diógenes era um anarquista, o que para muitos pensadores seria o supra-sumo do Liberarismo. O homem é livre para tudo. Até para morar num barril e debochar acintosamente da sociedade.
Assistimos à glamourização da miséria. A cada vez que em visita ao Brasil chefes de Estados são levados para conhecer favelas, corro para meu barril.
O plano é tornar a ignorância bonita, a miséria uma cultura a ser defendida e tornar todos aqueles que realmente pensam em estátuas silentes, ou politicamente corretos, ora essa.
A moral do esquerdista se apóia numa doce sinecura, ainda mais se der direito a uma aposentadoria. Nada mais exemplar que a mídia a soldo. “Vanitas vanitatus, et omnia vanitas”. Tudo vaidade, de preferência com bolso florido.
Enquanto os estadistas se orgulham de grandes feitos, os vaidosos estatólatras se vangloriam de efemérides ou pequenos adornos duvidosos sobre sua compostura. Mal sabem que o tempo é cruel em seu julgamento. Formam-se pequenas farândolas ao interesse da atualidade. Após, as amarras são quebradas ao sabor do tilintar de moedas espúrias.
Por aqui, assumidos políticos periféricos tornam-se servis ao poder central. Para isso abjuram certezas e credos anteriormente imutáveis. Suas virtudes caminham ao sabor das ondas da subserviência e das migalhas que maculam as tão eructadas boas e nobilíssimas intenções. Basta lembrar dos defensores dos professores desta nossa terrinha que pediram votos para defendê-los. Hoje pisam no gargalo do pobre que respira pó de giz em salas insalubres.
É de dar gargalhadas ver a ex-senatriz correr para os braços da Madre Superiora do Maranhão para se defender de seus colegas de partido.
Como em todo nosso país, os votos dos petistas aqui em Mato Grosso cada vez mais se estreitam nos grotões miseráveis. Os antes condenados currais são cevados à custa de bolsas isso e aquilo outro. Os condenados coronéis de antanho são os aliados da atualidade.
O engraçado é que por cá apareceu um movimento de combate à corrupção, inicialmente somente a eleitoral, mas que se expande para outros “sites”. A questão é que parece só existir corrupção do lado de lá.
Tão vestais os moços! Tão virtuosas suas intenções...
Se em Atenas os cidadãos daquela cidade se envergonhavam ao serem desmascarados por Diógenes, aqui em nossa atualidade, os bons se fecharam em seus barris, com vergonha de serem tachados de bobos e simplórios.
Apequenam-se em sua honestidade.
Sobram os parlapatões e os espertalhões.
Aí lembro de um amigo de extrema correção moral, que arrancou a campanhia da sua casa.
Alienou-se de vez em seu barril.
É só o que nos resta?
...
*Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT
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Comentários dos Leitores
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Comentário de Eliana Crivellari (elianacrivellari@gmail.com) Em 03/07/2011, 02h24 |
Ao Dr. Wagner |
Dr. Wagner,
O seu texto é perfeito, frases muito bem articuladas, e o pensamento segue perfeitamente, bem estruturado, coerente, sequenciado,lógico,
bem concatenado, claríssimo,e com toques de poesia além de tudo.
Superlativamente bom!
Para ficar completo, com citações que demostram a sua erudição.
Mas acho que não o irão matar, não, como você afirma que acontecerá se...
Não o entenderão.
Infelizmente, os leitores atuais, quer dizer, o que fazem as jogadas plíticas que fazem os Diógenes esconderem-se em barris,
não sabem traduzir um texto bem escrito, com requintes de ironia, humor, sabedoria, e fruto de muito leitura do que é superior.
Seja como for:
"Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a idéia de não desagradar ou chocar ninguém... .Outro modo é dizer desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver: cadeia, forca, exílio."
( Monteiro Lobato )
Grande abraço.
Parabéns,
Eliana Crivellari-BH-MG
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