capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 12/11/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.896.409 pageviews  

Hoje na História Saiba tudo que aconteceu na data de hoje.

TEMA LIVRE : Xico Graziano

Outras colunas do Tema Livre

Sinuca de bico
12/07/2011

Dois grandes desafios, historicamente opostos, afligem a humanidade: alimentar a crescente população e preservar o meio ambiente. Nesse dilema civilizatório inexiste solução fácil. Tempos difíceis se aproximam.

Uma variável fundamental reside no crescimento da população. A crise ecológica que afeta o mundo somente passou a se manifestar quando os seres humanos ultrapassaram certo limite na pressão sobre os recursos naturais do planeta. Assim nasceu o conceito da pegada ecológica.

Seu cálculo determina a extensão do território - em terra e no mar - necessária para sustentar uma pessoa, ou a sociedade, considerando o nível de tecnologia e o modo de vida. Calculado em hectares, o seu valor permite avaliar a sustentabilidade da civilização.

Os dados da Global Footprint Network, entidade que propôs originalmente a ideia, indicam que a pegada ecológica global atingiu 2,7 hectares por pessoa (2007). Multiplicando esse valor pela população mundial, resulta em 18,1 bilhões de hectares. Essa seria a área necessária para sustentar a demanda, ambientalmente falando, da sociedade global.

Acontece que a disponibilidade biologicamente produtiva no mundo soma 13,4 bilhões de hectares. Ou seja, a pegada ecológica da humanidade já ultrapassou a capacidade de suporte do planeta Terra em 35%. Das duas, uma: ou se modifica o modo de vida, tornando-o menos perdulário da natureza, ou se reduz a população humana. A primeira providência será dificílima; a segunda, quase impossível.

Vale o raciocínio: o nível de consumo médio da sociedade global estabelece uma pressão sobre os recursos naturais capaz de sustentar, no máximo, 5 bilhões de habitantes. Mas a população mundial, conforme estima a ONU, deverá atingir 9 bilhões de pessoas próximo de 2050. O colapso da sociedade, portanto, somente se evitará com a alteração do padrão civilizatório.

É bem verdade que essa trajetória rumo ao mundo sustentável vai afetar desigualmente as nações. Os países ricos detêm 20% da população mundial, mas consomem 80% dos recursos naturais do planeta. Mais populosos, os países em desenvolvimento lutam para escapar da miséria e atingir o invejado modo de vida dos povos ricos, europeus ou norte-americanos. É trágico perceber que dificilmente essa hora chegará para eles.

Mesmo com as esperadas inovações tecnológicas, que possivelmente elevarão a oferta de energia limpa, entre outros ganhos ambientais, é inimaginável supor que a totalidade da população humana possa vir a manter, no futuro próximo, um padrão de vida semelhante ao dos ricos de hoje. Um azar histórico se configura.

A visão antecipada da tragédia poderá ser, por outro lado, a sorte da humanidade. Decisões políticas, locais e globais, chegarão para consignar a mudança civilizatória. Esse necessário adeus ao sonho de consumo ocidental, entretanto, atormenta a imaginação. Como estaremos vivendo no final deste século?

Ninguém sabe direito. A incerta trajetória rumo ao mundo sustentável trabalha com raciocínios utópicos: novas tecnologias se combinarão com profundas mudanças culturais; os desejos de consumo e as expectativas de vida ter-se-ão modificado; os direitos e os deveres incluirão normas da sociedade global; a educação ambiental prevalecerá. Haverá harmonia entre homem e natureza.

Na dura realidade, para ser bem resolvida a equação sustentável dependerá do sucesso de uma variante fundamental: a segurança alimentar. Aqui o problema fica mais complexo. A necessidade crescente da produção de alimentos vai elevar a pressão sobre o território natural.

A alimentação humana navega no fio da navalha. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que a demanda mundial por alimentos cresça entre 70% e 100% até 2050, bem acima do aumento populacional. Isso porque a urbanização e a melhoria da renda familiar nas economias em desenvolvimento exigem mais proteína na mesa das pessoas. China e Índia que o digam.

É certo que a capacidade produtiva da agropecuária venceu, por enquanto, a disputa com a população. Todos reconhecem que tal êxito se deve à fantástica evolução tecnológica combinada com a queda na taxa de natalidade. Ponto pacífico.

Houve, porém, um terceiro fator decisivo: a farta disponibilidade de terras virgens. Nos últimos 200 anos, desde que Malthus publicou seu famoso ensaio sobre a população, o desmatamento progressivo de imensos territórios garantiu a expansão da base produtiva rural. Não faltou comida.

É dramático perceber que o processo exploratório sobre a natureza bruta se esgota. Anda no limite a capacidade da agricultura norte-americana e europeia, tanto quanto na China, Índia, Austrália. Pior: milhões de hectares de terras produtivas sofrem com a salinização, o rebaixamento do lençol freático e a desertificação.

Conclusão: será cada vez maior o esforço para aumentar a produção de alimentos. Por outro lado, a pressão ambientalista requer novas áreas protegidas, em nome da biodiversidade planetária. No passado o desmatamento corria solto. Hoje é inaceitável na opinião pública.

Comete crasso erro de análise quem invocar o velho dilema malthusiano como desculpa para a inércia. O desafio alimentar que a humanidade enfrenta agora surge em outro patamar. A inédita demanda proteica, puxada pela queda progressiva da pobreza mundial, ocorre em tempos de reclamo preservacionista. Sinuca de bico.

Torna-se ridículo, nesse complexo cenário, verificar as querelas egoístas e sectárias entre ambientalistas e ruralistas, que brigam pelo Código Florestal olhando o próprio umbigo. Para vencer o grande desafio da humanidade, em vez de inimigos, necessariamente eles terão de se irmanar.

...

*AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR


OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques