Estou não estou. Sou não sou. Vou não vou. A linha de equilíbrio está esticadinha. Tensionada...

Pressinto o tempo do movimento após um período de imobilidade que aproveitei tremendamente. Reconheço e assumo.

Até tentei ampliar e fortalecer ainda mais a minha base. Sempre sem perder de vista que, depois da bonança vem a tempestade, vice-versa e assim sucessivamente. Mas ainda não dá para ignorar o apelo que me moverá em breve.

Ao contrário do normal, não sinto dificuldade de sair da inércia. Aprendia a esperar o empuxo da onda para me jogar mar abaixo fazendo o menor esforço possível.

Como nas ondas, cada movimento é diferente dos outros e tem suas particularidades.

O truque é sentir a levada e usar a força dos elementos a nosso próprio favor deixando a marola crescer, a ondulação se formar, se preocupando apenas em estar perto e em sintonia com sua alma aventureira, quando ela levantar e se dobrar sobre si mesma.

Se possível, um respiro à frente da sua curva, se deixando guiar pela velocidade do empuxo da parte estourada, para o lado que ela escolher para se desenrolar.

E, quando ela estiver me alcançando, conseguir rodar sobre meu próprio corpo, invertendo o sentido do impulso que me leva. Isso, para não embolar praia à dentro e me espalhar desmilinguida muito depois da arrebentação.

Pois então, amplie o tempo, espiche os movimentos, transponha isso para a terra firme, o solo fértil e tera um ciclo de vida várias vezes repetido. Com suas peculiaridades e dificuldades.

O truque é tem em mente que cada onda é uma nova história, outro desafio, mais uma chance de um recomeço.

Não importa onde você conseguiu chegar, e em que condições, na descida anterior.

O que nos resta é o livre arbítrio a cada nova série de ondulações. É ele que indica em quais paredes ou marolas a gente prefere descer, até onde dá para chegar e o momento exato de rodar o corpo e pular fora.

Tem muita gente que precisava aprender a pegar onda, pra poder encarar do modo certo os perrengues da vida. Sabendo a hora de entrar, sair e se deixar pela maré. A mesma corrente que leva pra frente é a que nos traz de volta ao princípio. Isso, é de lei!

...

*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do "Unidos do Saite Bão". Esta crônica faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

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