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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto

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De maio em julho
24/07/2011

Está tudo igual, graças a Deus. Apenas, diria eu, fora do tempo gregoriano. Em pleno julho, o veranico e a flor que desabrocha são de maio...

Comecemos pelas últimas. No plural, por que são duas. Ganhei a mudinha da flor de maio da minha avó, que a retirou do seu jardim suspenso do Leme numa limpeza nos seus vasos.

Coloquei a muda na área de serviço que virou jardim de inverno e lá ela cresceu durante vários anos, sem dar nenhuma flor. Sempre cuidada no mesmo vasinho original.

Como numa certa época do ano o sol entra abusado pela muralha de 12 andares que cerca meu jardim pelos 4 costados, ela muda de lugar para não ser tostada por seus raios exagerados e, durante o tempo que atinge meu quadrado, fulminantes.

Que o digam as jibóias e caboclas juremas que durante 9 meses se agarram nos azulejos das paredes e nos três meses de sol direto ficam prejudicadas, com suas folhas queimadas pela exposição impossível de ser impedida, a não ser que seus tentáculos agarrados a parede sejam descolados para que seus vasos possam ir para locais mais abrigados.

Quem mandou se agarrarem assim? Que agüentem o tranco e paguem o preço de sua imobilidade voluntária. Afinal, não fui eu quem as colou nos azulejos. Um dia, amanheceram assim e foram, literalmente, subindo pelas paredes. Sobreviveram ao bombardeio solar de uns dois verões e, pelo que observo, farão o mesmo no próximo.

Meu jardim é assim. Cheio de personalidade e quase que totalmente verde. Em vários tons. Mas, essencialmente, verde quando não está salpicado das florezinhas vermelhas do laço francês que por sua conta e risco se espalha e derrama pela base de vários vasos do lado oeste do jardim. Se não fossem elas, as florezinhas vermelhas, me lembraria ainda mais da minha amiga Louriza, a fada boa da Chapada dos Guimarães que me dizia, sobre o jardim de lá: “Tem muito verde, precisa de cores, precisa de flores”, enquanto enchia minhas mãos de sementes para espalhar naquela vastidão.

Pois foi no meio do meu verde carioca que as flores de maio – duas – apontaram em julho. Vi os botões e acompanhei passo a passo, dia a dia o desenvolvimento das meninas.

Tentei fotografá-las, mas minha ética fotográfica não permitiu que as movesse e, onde estavam, acreditem, minha mega-ultra-super câmera fotográfica não conseguiu alcançá-las.

Por princípio as deixei quietas por que, como um ser que detesta ser fotografado, entendo minhas irmãs de desespero.

Mas isso não impede que escreva sobre elas, seu tardio e alegre desabrochar e a certeza que outras flores de maio em julho virão, para ser assunto de crônicas como esta, escrita em plena quinta feira, ao sol radiante do veranico de maio, em julho, da Ponta do Leme.

...

*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Esta crônica faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM - http://delcueto.multiply.com


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