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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Casa cheia
31/07/2011

A minha está. É um entra e sai de amigos. Visitantes ou hóspedes. De um monte de lugares do país.
Acho uma delícia a mistura que essa movimentação provoca. Nem sempre os passantes se conhecem ou têm interesses comuns. Isso acaba gerando novas amizades e conversas muito interessantes.
É um tal de gente de Brasília se encontrando com gente do Recreio dos Bandeirantes (pra mim, passou de São Conrado, já é outro município. Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes estão nele)e do interior mineiro; povo de Cuiabá cruzando com curitibanos que estão fugindo do frio; assim como gaúchos que, pelo mesmo motivo, desembarcam na minha praia.
É sempre um grande prazer receber, individualmente ou em grupos essa rapaziada. O bom é que, normalmente, todos chegam com um astral bacana, querendo mais é cair na vida carioca.
Procuro me desdobrar em idéias e programas que agradem a cada um, de acordo com sua personalidade e levada. É claro que tenho minhas preferências, aqueles programas que faço com muito mais prazer do que outros.
As únicas coisas que me recuso a fazer são: ir ao Corcovado (Pão de Açúcar ainda encaro, se for para subir a pé, pela trilha da pista Cláudio Coutinho, até a segunda estação e, dali, pegar o bondinho para chegar ao Pão de Açúcar) e aos shoppings centers da vida. Esse programa, definitivamente, está fora do meu catálogo. Afinal, qual é a diferença entre um shopping aqui e em qualquer outro lugar?
Me chama que eu vou, se for para bater pernas olhando as lojas de Ipanema ou Leblon. Mas tem que ser a céu aberto, sentindo a brisa do mar que se insinua entre as esquinas, vinda da praia.
Mas o que gosto mesmo, é de ver os olhares dos meus amigos iluminados pelo sol da Ponta do Leme numa clássica ida à praia ou num passeio de final de tarde no Caminho dos Pescadores.
Ali, eles entendem por sentirem na própria pele, por que sou e serei eternamente apaixonada pelo meu lugar. E olha que demorei a reconhecer isso para mim mesmo. Só descobri como ele é especial depois de muito viajar, conhecer e aproveitar outras paragens e paisagens.
Um dia me dei conta que morava no paraíso. Mais ainda, descobri que fazia parte da história dele! Foi assim que comecei a escrever as crônicas da série Ponta do Leme.
Hoje, tenho outras séries. O Parador Cuiabano e a Fronteira oeste do Sul. Mas a que mais me estimula é a que fala do meu chão. Espero que, um dia, ao lê-las, alguém consiga descobrir ali um pouco do jeito simples que é a vida por aqui, onde aprendi a dar importância às pequenas delícias da vida. Que se tornam imensas e insubstituíveis por serem únicas e intransferíveis.
Por isso tento trazer meus amigos para o Canto do Leme. Aqui, eles podem ver de onde venho e para onde sempre voltarei, por maior que seja o tempo que passe fora. Amo todos os lugares por onde passei e, sempre que posso, procuro voltar a eles.
Mas meu caso de amor com o Leme é um pouco diferente. Por que não sou o que sou sem saber que sou do Leme!
Nunca me esqueço dele ou deixo de almejar voltar, mesmo sabendo que tenho dentro de mim meu próprio Leme e o levo para qualquer lugar que vou. A pedra que me viu crescer é minha bússola, o marco que me dá o rumo e me leva ao prumo da minha existência.
...
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Esta crônica faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com


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