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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Piuí
07/08/2011
Perdi o bonde e estou sem rumo. Tão fora do eixo que larguei de mão o caderninho onde costumo escrevinhar e estou aqui, frente a frente com as frias teclas do meu notebook, tentando fazer o impossível: fingir que estou achando graça nessa ausência física e temporal.
É sério. Nem meu tempo está igual. A diferença do fuso horário entre o Rio de Janeiro e Cuiabá, parecem, na verdade, 25 horas e não apenas uma mísera horinha.
Fora de sincronia desse jeito, imagine se quase não esqueci que hoje era o dia do dia de entregar minha crônica semanal? Estava crente que era quinta feira e o horário para mandar o texto na sexta feira já chegava ao fim quando me dei conta do desastre eminente.
Confesso: ia desistir. Chutar o balde, largar de mão, deixar pra lá. Aí, pensei: “Que culpa tem você, caro leitor, dos meus desacertos pessoais? Nenhuma, não é?”
Também pensei no orgulho que sinto em conseguir manter a regularidade desses escritos e em como ia ser desanimador que essa série fosse interrompida depois de anos de comparecimento semanal, sem direito a folga (tirando uma engolidinha de vez em quando nas festas de final de ano, mas aí ninguém nota, não é verdade?).
Vai que o Lorenzo Falcão, meu amado lítero-editor do Caderno Ilustrado do Diário de Cuiabá, descobrisse que, afinal, quem ocupasse meu espaço tivesse coisas mais interessantes para dizer do que as minhas humildes e desencontradas reflexões?
Só estou falando do Lorenzo porque, para os editores dos outros veículos de comunicação, sites, jornais e blogs que publicam minhas rabiscações ainda haveria tempo hábil para encontrar um jeito de dar um jeito na situação.
Enfim, cá estou eu, como você pode ver, (ler?) em pleno efeito do jetleg moral da mudança súbita e necessária, (se bem que previsível, por que é apenas mais uma de muitas) de latitude e longitude pelos próximos meses.
A parte boa é que em breve essa desorientação termina e, aí sim, poderei fazer como sempre fiz: curtir Cuiabá e o meu Mato Grosso com todo o entusiasmo que eles merecem e têm direito.
Mas isso só ocorrerá quando os bons fluidos do centro geodésico me atingirem plenamente, profundamente e totalmente (ente, ente, ente).
Falta pouco e espero ansiosamente o momento em que direi com a maior alegria: “Bom dia, Cuiabá, o trem do Vuolo ainda está longe, mas o bonde Valeriano já chegou e está louco para usufruir as benesses e o calor que esta linda terra do pujante centro-oeste do país tem para oferecer. É sempre um grande prazer poder retornar...”
E isso, graças a Deus e aos queridos amigos que cuidam de mim e sempre me recebem tão bem e com tanto carinho, não vai demorar muito não.
Por enquanto, só posso dizer, com certeza, que escuto ao longe o piuí insistente da buzina que pede passagem para anunciar: já cheguei, estou ficando e quero fazê-lo, mais uma vez, com o mesmo espírito de luz que sempre me guiou em minhas andacás pela vida.
Olá, Cuiabá, olha eu de novo, com mais histórias para viver e contar, de volta à série Parador Cuyabano...
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*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Esta crônica faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM - http://delcueto.multiply.com
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