capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 21/11/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.909.906 pageviews  

MT Cards Que tal mostrar a cara de Mato Grosso?

TEMA LIVRE : Serafim Praia Grande

Outras colunas do Tema Livre

No escurinho da coxia - 1
17/08/2011

O pátio fervia de moleques suados, meio pirados pelo sol estúpido, em brincadeiras que só faziam aumentar as ameaças de insolação.

Cerca de uma dúzia de meninos resvalando pela debilidade mental aguda se engalfinhava num jogo semelhante ao futebol, num campo de terra batida e pedregulhos, com dois retângulos de madeira podre em cada extremidade servindo de gol, sem redes. Todos estavam sem camisa e suavam profusamente atrás de uma bola estropiada e imunda que insistia em fazer pouco do esforço de cada um daqueles alegres mentecaptos.

Depois do sinal para a volta às aulas, as salas ficariam empesteadas pelo intenso bodum que exalaria de cada um dos jogadores, dos assistentes e de todo aquele que houvesse ficado exposto ao calor infernal que tornava o pátio do Colégio numa antessala do inferno, malgrado as imagens de santos e mártires que se espalhavam pelos corredores laterais.

Padre Rolinha, no entanto, não estava presente à peleja, como era costume, com sua proverbial pose de garnizé depenado a frio. Dimundinho, sacana como sempre, tinha notado a ausência da impoluta figura e começara a dar tratos aos seus sempre maus pensamentos. Deu uma olhada num jogo de bolitas, parou pra atrapalhar com suas piadas maldosas um pingue-pongue concorrido e se dirigiu à entrada do anfiteatro. Havia rumores pipocando nas salas do Colégio e ele tinha suas desconfianças.

O Colégio, como os mais experientes sabiam, era dividido em castas de preferidos e de enjeitados. Como a Ordem se arvorasse a caridosa e altruísta, recebia alguns rapazes das classes menos favorecidas em seu luxuoso educandário. Eles se misturavam aos filhos das famílias abastadas nas salas de aula e prestavam serviços de faxineiros, lavadores de latrinas, meninos de recado, carregadores e toda sorte de tarefa braçal que a Ordem resolvesse impor pela sua benemerência. Dentro das salas eram tratados como escória pelos colegas e se vingavam espancando, volta e meia, alguns dos meninos mais atrevidos e idiotas. Perdiam a regalia, mas eram, de imediato, substituídos por outros de uma extensa lista de espera.

Dimundinho não pertencia à casta dos bem-nascidos nem à ralé que recebia os favores da Ordem. Filho de um ex-aluno de família tradicional da cidade, porém sem fortuna, tinha os estudos pagos por um padrinho rico que as más-línguas diziam ser seu verdadeiro pai. Estudar, de qualquer maneira, não era o que considerava uma diversão interessante. Só fazia o trivial pra ir passando de ano e não ser aporrinhado pelo tal padrinho. Ia levando na manha.

O dom que iria conduzir o nosso herói à sua profissão na idade adulta, entretanto, já estava presente nas suas observações e intuições. Edmundo Lima era um sabujo para farejar pistas de malfeitos e tramoias, rastros de atividades escusas e de desvios de conduta, principalmente naquele sacrossanto ambiente onde um emaranhado de dogmas e regras morais e comportamentais era bombardeado diuturnamente nas orelhas da molecada. Como a teoria costuma divergir quase sempre da prática, estava disposto a colocar uma de suas suspeitas à prova. A hora era essa, estava indo à luta.


OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques