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De Última! Só lendo para acreditar

TEMA LIVRE : Serafim Praia Grande

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No escurinho da coxia II
22/08/2011

O grito de gol ecoou por todo o pátio do Colégio e a bagunça se generalizou. Mesmo os meninos que não estavam ligados naquele jogo infernal, atentos a outras atividades, uniram-se à baderna e saíram saltitando e gritando pelos corredores e pelo pátio, não importante quem houvesse marcado o tento. Talvez essa desorientação coletiva fosse um dos efeitos colaterais daquele calorão de assustar até os calangos, que andavam, com seus passinhos corridos, do lado onde houvesse um mínimo de sombra.

Aproveitando-se dessa eclosão efervescente, Dimundinho penetrou no anfiteatro sem ser percebido, afundando na escuridão do salão deserto. Um calafrio percorreu seu espinhaço e ele quase desistiu da aventura, mas criou coragem e foi tateando entre as cadeiras vazias até encontrar a escadinha que dava acesso ao palco. Com a visão mais acostumada àquela escuridão espessa, passou os dedos na testa pra escorrer o suor que brotava em bagas. Ali, o abafado do ambiente se somava à canícula entorpecente, transformando o local numa espécie de forno crematório de dimensões gigantescas.

Em meio à confusão provocada pelo gol, Meleca se aproveitara pra catar umas bolitas desavisadas e colocar no bolso da calça. Um pequeno e inocente roubo que iria dar sedimento ao seu futuro dentro de alguns anos, quando de vice-presidente de bairro saltaria para uma suplência de vereador e se tornaria uma espécie de líder na periferia da cidade. O gesto passaria imperceptível e ficaria impune não fosse o olho ladino de Joãozinho Corrêa, que se tornaria conhecido dentro de alguns anos como Jão Corxé. Dedurado, Meleca quis negar, foi intimado, zangou-se e a porrada comeu solta.

- Assim não dá, prestenção direito!, sussurrava uma voz de algum ponto abaixo do grande palco. Dimundinho ficou atento e foi se aproximando com andar felino da pequena escada que dava acesso aos bastidores do anfiteatro. Já estivera ali algumas vezes, quando participara, a contragosto, de uma peça teatral em homenagem ao Dia das Mães. Tentava lembrar mentalmente a disposição dos objetos enquanto as vozes (eram duas, podia distinguir, uma delas mais áspera) o guiavam na escuridão. Ao encontrar uma pequena coluna, apoiou-se nela e a contornou, desvendando um pequeno nicho com uma mesa bem iluminada. Dimundinho arregalou os olhos e sorriu encabulado.

Foi necessária a intervenção dos dois times de futebol pra acabar com a pancadaria entre os partidários de Meleca e João Corrêa. Roupas rasgadas, dentes quebrados, braços e pernas arranhados, a confusão era de bom tamanho e os estragos requeriam a presença de alguma autoridade ao local. Clérigos de menor envergadura já tinham se alvoroçado por ali, mas todos queriam saber onde estava o Padre Rolinha, autoridade máxima do pedaço em matéria de disciplina e bons modos.

Em seu afã detetivesco, Dimundinho agora sabia a localização exata do Padre Rolinha. Sentado ao lado de Zé Júlio, um dos seus colegas de sala, tentava ensinar ao abestado as equações de álgebra que iriam cair na prova da próxima aula. A sua paciência, no entanto, dava mostras de estar chegando ao limite. Dimundinho tratou de cair fora dali.


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