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TEMA LIVRE : Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Que cidade queremos? Que cidade teremos? - 3
18/12/2011
Não se trata, por evidência, de questionar a alocação dos recursos públicos destinado para Cuiabá. O que se trata é de trazer à luz, e discutir, algumas questões referentes às prioridades e opções dadas para as intervenções que se darão na paisagem urbana.
Por exemplo, continuo achando que a demolição do Verdão foi um erro imperdoável. Será que foi mesmo uma boa opção erguer um estádio no mesmo local que o antigo, tendo para isso que demoli-lo?
Nenhuma das frágeis e raras explicações que li me convenceram do contrário. Continuo entendendo que um novo estádio deveria ter sido construído numa zona menos povoada da cidade para a qual o fluxo de crescimento urbano seria naturalmente deslocado. Como, aliás, aconteceu em outras cidades do mundo.
Com isso não apenas o transporte urbano como problemas relacionados a saneamento básico, a impermeabilização do solo, ao plano de arborização, a poluição aérea, entre outros, seriam melhores solucionadas, além de que, seguramente, teriam custos mais compatíveis.
Manter o estádio numa região demograficamente já congestionada foi deveras um erro a que, infelizmente, os que assim decidiram por ele não pagarão.
O mesmo se verifica sobre a necessidade de uma ampla discussão em torno da questão de qual seja o melhor tipo de sistema de transporte a ser escolhido.
Esclarecimentos devem ser dados, entre outros, de qual será o preço da passagem? E por quanto tempo? Será ela ou não subsidiada?
Nesse quesito, já divulgaram que enquanto no BRT ela custaria em torno de R$ 2,00, no VLT não sairia por menos de R$ 4,35, conforme a exposição que o então diretor da Agecopa, Yenes Magalhães, fez à Assembléia Legislativa.
Igualmente, é necessário saber qual será o custo da manutenção do sistema ao longo dos próximos dez ou vinte anos?
Subjacente a questão do transporte urbano, temos necessidade imperiosa de programas claros e exeqüíveis para melhoria e preservação da qualidade do meio ambiente.
Neste sentido: o que será feito para que a poluição do ar, entre outras, seja melhor controlada? Qual o investimento será destinado ao saneamento básico? Ao abastecimento de água de qualidade? Ao controle de resíduos, ao recolhimento e ao tratamento do lixo, etc.?
O que está sendo planejado para evitar a crescente combinação de impermeabilização do solo com a pouca arborização? Reclama-se tanto do calor cuiabano e não se atenta para a conjugação desses dois elementos agravantes.
Em outros termos: para mais além da construção do estádio, da implementação de um sistema de transporte na parte central da cidade, da ampliação do aeroporto e de algumas vias urbanas, do marketing turístico que será gerado para os anos seguintes, qual será o resultado para o cotidiano do cidadão em termos de qualidade de vida?
Sim, porque, se existirão inegáveis realizações positivas, entre as quais a geração de emprego, tanto diretos como indiretos, é indiscutível que existirá igualmente aspectos negativos, entre os quais, após a conclusão das construções, a possibilidade de desemprego e de subtilização de uma mão de obra antes preparada e, sendo isso real, terá a cidade efetiva capacidade para absorver os milhares de trabalhadores e mesmo as milhares de famílias que se deslocarão com o ânimo de aqui fixarem residência?
Isto significa que, ao lado da realização das obras voltadas para a Copa, há que se pensar, com igual ênfase, no atendimento da saúde pública, no abastecimento de água e na extensão do serviço de saneamento básico, num plano habitacional popular, na cada vez mais problemática (in) segurança pública, no aumento das salas de aulas e na qualidade desse ensino fundamental, e, independente de que seja VLT ou BRT, o sistema de transporte dos bairros pode continuar caótico e caro se permanecer com o atual.
Então, Cuiabá está sendo preparada para atender a todas essas demandas sociais, econômicas e ambientais?
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*Sebastião Carlos Gomes de Carvalho é advogado, professor e historiador. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional (SP). Publicou: Mato Grosso Terra e Povo, entre outros.
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