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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes
Que o povo assine a história
25/03/2012
Quase 15 anos depois de sua morte, ainda retumbam nos ouvidos do Brasil o grito e o lamento de Betinho, o brasileiro trazido à vida em 1932 sob o nome de Herbert de Souza: “Só a participação cidadã é capaz de mudar o País!”
No entanto, tem faltado determinação aos guardiães da cidadania, como devem ser vistos todos os governantes, para que a própria cidadania seja observada, regada e cultivada. Não é possível concebê-la unilateral.
A cidadania brota do povo – evidentemente - mas não tem encontrado, aqui, nem respaldo e nem eco em governos e governantes. Continuamos decepcionados com eles, no Brasil!
Decepciona-se, diz o sábio, quando se espera de alguém, qualquer coisa além do que ele tem pra dar. Quem tanto fez pra chegar ao poder tem feito muito pouco por merecê-lo, segundo é possível constatar pelo noticiário – diário – dos últimos dez anos, quando nada.
Caem ministros e secretários de Estado, chefes de autarquias, encarregados de licitações, aqui e ali algum prefeito e nada mais. Lá e acolá algum figurão é recambiado a cargo público outrora desmerecido, ouvem-se juras intermináveis de que “agora as coisas serão levadas às últimas consequências”, quando alguém denuncia falcatruas, desmandos ou irregularidades gritantes há sempre alguém pra dizer que as providências já foram tomadas no sentido de corrigi-los, e coisas do tipo.
Mas não se vê, na prática, ninguém devolvendo o que eventualmente tenha afanado do bolso do povo, ninguém punido exemplarmente, nenhuma correção de rumos e nenhuma ação de governo que - pelo menos - demonstre a vontade de mostrar ao povo, ao contribuinte e ao cidadão, que “agora estamos decididos a acabar com os escândalos e recolocar o País nos trilhos da moralidade pública, eliminando as barganhas políticas e o assistencialismo compadresco”.
Afinal de contas, governantes são servidores públicos e, portanto, ao povo devem lealdade e zelo; é da Constituição!
O que temos visto, no entanto - quase como rotina - são trocas sistemáticas, de acusados de irregularidades e desvios do bom comportamento administrativo, por suspeitos de outras tantas, em postos de relevo governamental, nas três esferas de governo e em todos os quadrantes.
Será que a gente de bem está mesmo preterida na história política?
Se denúncias, evidências e fatos não são mais suficientes para ensejar ações que por dever de ofício têm, os governantes, é imperativo que dentre eles os honoráveis empunhem, então, a bandeira da honra que sentem os cumpridores de deveres, pra que os bons exemplos não morram.
A saúde e a segurança públicas continuam um descalabro. Morrer de morte matada, nas ruas, ou de morte morrida, em corredores de hospitais públicos, já não impacta mais a opinião do povo que, acostumado a tanta ausência de governo nas atividades vitais de assistência à sociedade, até acha normal morrer assim.
A criminalidade marcha de mãos dadas com a banalização da vida, o noticiário político já não sabe mais informar coisas elogiáveis e os escândalos se sucedem, diária e sucessivamente, como dizia Rui Barbosa.
Pouquíssimas rodovias há ainda transitáveis em todo o País como, aliás, ruas em quase todas as cidades. Obras públicas de todos os tipos, tamanho e natureza continuam impressionando pelo descaso com o dinheiro do contribuinte e não se vê em nenhum lugar – com apenas algumas honrosas exceções - qualquer coisa parecida com um desempenho sério, eficiente e satisfatório dos governos.
Tudo isto, só pra não falar na maior ferida da história do Brasil de todos os tempos e até hoje incurada: a falta de atenção à educação de sua gente. Esta é uma chaga que precisa ser fechada pra que os cidadãos, de posse plena da consciência sobre seus direitos e suas obrigações em relação à Pátria, a façam sobranceira e auxiliem os governos – então de boa vontade – no zelo pela manutenção dessa sonhada condição.
Na categoria de ancião ou, cidadão descartado, como sói acontecer com pessoas que já viveram mais de 65 anos, honra-me, sobremaneira, a indignação que sinto diante de tudo isso; porque essa capacidade de me indignar indica que – muito provavelmente – há mais brasileiros que me fazem companhia nessa maneira de ser, agir e pensar.
E se não estou só, no sentimento que movia Betinho, é possível que ainda haja tempo de assistir às reformas que o povo clama e – insistentemente – reclama. Dentre elas, o resgate da cidadania, pra que quem assine a história então seja o povo, pelas mãos decentes e dignas de representantes autênticos, limpos e absolutamente confiáveis.
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Arquimedes Estrázulas Pires é só um – teimoso - cidadão brasileiro.
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