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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Ausência de sentidos
29/04/2012
Caderninho, caderninho meu, vamos acabar logo com esse abreu, “pelamordedeus”!
Não é por causa dos percalços, tropeços, problemas e precipícios, que isso se tira de letra. Desastres fazem parte da vida que a gente nem pediu a Deus. É pela forma com que as pauladas vêm e a maneira com que são recebidas.
Vou simplificar a imagem pra vocês, amigos e companheiros de jornadas “abrilinas”.
O que mata é o esgotamento, a falta do que fazer a respeito e a indignação quase assassina, reação natural a uma ação correspondente na direção contrária. A boa e velha lei de Newton.
Não fazer mal a ninguém, pelo menos, consciente e voluntariamente. Tentar ajudar a quem precisa, ás vezes até sem poder. Procurar trilhar o caminho do bem.
São princípios básicos e deveriam – olhe o otimismo – serem inerentes a todos os seres humanos. Mesmo os pseudocivilizados... Por que cargas d’água tanta maldade, individual e coletiva espalhada por esse Brasilzão, pra não estender demais o assunto?
É sério. Tem gente que não mede as consequências dos seus atos. Também tem aqueles que nunca se colocaram no lugar do outro, tentando imaginar quais serão os desdobramentos de seus atos e atitudes. Há os que, piores ainda, conseguem ser capazes de incorrer nas duas faltas alternativa e/ou simultaneamente.
Haverá telhado que resista? Guarda chuva não dá nem pra saída, diante do que despenca na cabeça dos mansos e desavisados.
Concentração, respiração e uma postura zen também podem aparentar apatia e - por experiência própria - é possível afirmar que esta fleuma quase Mahatma Gandhiana atrai mais cutucadas, por se partir do princípio da não beligerância e da consequente - e evidente - cara de otário da vez.
Haja paciência, pai-nosso e persignação. Um dia após o outro, numa sucessão de esvaziamentos de tensão, reprimindo as emoções justificadamente negativas.
Se, do lado de cá, a coisa está assim, do lado de lá, no mundo exterior, vai na mesma levada. Como se ao som de uma valsa ligeira, rodopiante. Aquela do tipo em que a mocinha fica tonta nos braços do gentil cavalheiro que a embala. Sem reação diante dos acontecimentos que se sucedem em série. Qual o entorno do salão que vai passando pelos olhos da dançarina que tem a sensação de ver tudo, mas não pode, nem consegue, fixar a atenção nos detalhes da festa que se desenrola ao redor.
No caso atual, tudo passa pelos olhares estarrecidos e espantados de todos perante tantas possibilidades criativas de lesar a pátria, roubar o povo e se dar bem detonando o futuro do próximo e do vizinho.
Diante desse quadro é compreensível a atitude tomada pela Câmara dos Deputados de esconder, atrás de uma série progressiva de cliques as fotos de seus ilustres e valorosos membros no site da casa na internet para preservá-los, conforme pedido prontamente atendido de um ou alguns de seus zelosos pares, preocupados em ter suas fotos 3X4 popularizadas pela rede.
Não sei se a “zenzice” interna aliada a turbulência externa, não entraria em ebulição diante da pressão eterna. Isto poderia provocar a liberação de uma poderosa e incontrolável força mestre propulsora, que afetaria a saúde individual e coletiva. Ela seria capaz levar uns ao hospital e outros para as barras dos tribunais por desacato e execração pública da autoridade em tela.
Quando a condenação pelo flagrante delito sabe-se lá o que o juiz decidiria. Mas, certamente, o STF discutiria a validade do ato para toda a vida eterna.
...
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Esta crônica faz parte da série “Ponta do Leme” do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
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