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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
El Cid, a flecha e o alvo Sebastião
16/12/2012
Pra variar, engatei a quinta procurando. Só que tem hora em que são eles, os assuntos, por assim dizer, que te atropelam. É isso mesmo. O assunto firmou quando ouvi o antigo hino de São Benedito, aquele, em horário quase nobre na TV. Arrepiei. A seta mirou o alvo e acertou meu coração guerreiro um pouco santo. Sebastião. No Rio, Oxossi, o caçador que me protege e cuida da mata.
A bandinha tocando e eu comemorando. Feliz pela notícia de que o olhar e a sensibilidade de Cid Carvalho alcançaram João Sebastião. Se já estava interessante, agora ficou bom demais! Cuiabá vai chegar como e com quem deve na Sapucaí. Por que anjos e santos se juntaram aos cajus e as onças. E João, aquele que ferveu e agitou nos calientes carnavais de Cuiabá, vai estar ali. Apresentado e representado de alguma forma no cortejo do desfile principal.
Conheci João logo que cheguei em Cuiabá e fui seduzida pela explosão das artes plásticas que refletiam em suas cores o calor da terra. Sempre presto atenção e (re)conheço um lugar por aspectos que me atraem de sua cultura. Me orgulho de jogar nas 11: vou de literatura e poesia à música. Traço escultura, pintura; sou fissurada por grafite, fotografia, audiovisual..., tudo sem titubear. Foi assim com a Califórnia da Canção, de Uruguaiana, a polca e o artesanato paraguaio, é igual com a carioquice (minha cultura) em geral. Ouvi, vi, estudei e ainda pesquiso. De vez em quando, tento e faço.
Volto à Cuiabá e ao João. De quem tenho algumas obras. A menor, uma joaninha vermelha feita de pet que enfeitava minha instalação de natal (chamar aquela galharada de árvore é uma ofensa à natureza). Também tenho uma onça marota olhando à lua, com ar de “te pego”. Mas meu objeto preferido é um pano que deveria ser canga. Porém que, diante da importância da obra, foi ensanduichado e enquadrado. É a síntese de uma linda história. Mostra uma onça inteirinha, sedutora e esbelta, te olhando fixamente. Ela usa um colar com cajus vermelhos ornados com suas folhas verdes. Sob uma das patas dianteiras há uma folha presa, do enorme caju lilás que a olha em primeiro plano já no “laço” para ser juntado aos outros, no colar.
É uma obra original. Primeira e única. No desenho, os traços feitos pelo João, são facilmente reconhecidos. O olhar e as proporções do felino, sua posição. Mas a pintura não é a dele. Nela, há um trabalho primoroso de pontilhismo em parte da tela. Quem pintou minha onça quase canga foi Chico Amorim. Amigo de vida, teatrólogo famoso e meu orientador no doutorado de cidadã cuiabana. São dele pérolas como o dito: “Tudo evolui no mundo, menos a baixaria”; o excitante desafio de “ficar sem fazer nada”; as fugas loucas para as águas límpidas, deliciosamente refrescantes dos rios que cortam a estrada da Chapada durante a semana e outras cositas mais.
Pois a obra ficou tão especial que João fez questão de assinar a tela. É única e tem uma linda história que inclui o autor da surpresa espetacular. É, por que é claro que babei com o presente!
Pois é esse João, o Sebastião, que - soube hoje - vai se juntar a grande festa verde e rosa na avenida. Que me perdoem seus promotores do centro oeste, agora sim, temos um “muxirum” cuiabaníssimo com a cara do que mais amo nessa terra: o povo CUIABANO! Do qual João é síntese e expressão, por meio de suas maravilhosas e originais criações.
Trazidos pelo trem conduzido por Jamelão e coloridos, também, pelo que há de mais autêntico e representativo nas artes plásticas de Cuiabá, os frutos dessa mangueira estarão perpitolas de cuiabanidade!
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Essa crônica faz parte das séries “é Carnaval” e “Parador Cuyabano”, do SEM FIM... delcueto.cia@gmail.com
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