capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 23/09/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.742.415 pageviews  

Críticas Construtivas Se todo governante quer, por quê não?!!!

TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes

Outras colunas do Tema Livre

Paradoxos
06/03/2013

O Brasil em que vivemos continua sendo – do Império à República – o Brasil dos paradoxos.

Em pleno estado escravocrata, o Barão de Mauá paga régios salários aos escravos que trabalham em seus estaleiros, no Rio de Janeiro, sem se importar com o que pensam dele os senhores da “casa grande”. O Império cai, por obra de um golpe militar, tão logo a escravidão é abolida. Entra Deodoro da Fonseca e a República que forma é considerada “periférica”, posto que andasse com pernas e mentes de estados estrangeiros. Alegam, os críticos, que aqui só há escravos e, na visão da maioria, estes não constituem um povo. Como admitir uma República sem povo é a questão e um dos primeiros grandes paradoxos da Primeira e também conhecida como Velha República. Getúlio Vargas, um trabalhista, no poder age como ditador e se diz “um ditador com o povo”; Oswald de Andrade em todo o esplendor de sua irreverência refere-se a ele como “o anão subversivo”.

Vêm os tempos modernos e com eles uma nova ditadura militar. Paradoxalmente o período de governo em que o Brasil mais cresce econômica e socialmente. Os militares ficam no Poder durante bons vinte e tantos anos, durante os quais vivenciamos o chamado “Milagre Brasileiro”, com Delfim Neto no Ministério da Fazenda fazendo o Brasil crescer a mais de 7% ao ano. Um tempo em que os presidentes deixam o governo da República apenas com o que levaram de seus quando ocuparam o posto.

E o tempo não para e os paradoxos se sucedem. Automóveis cada vez mais velozes e estradas cada vez mais esburacadas, sem acostamento, sem drenagem superficial, sem condições de tráfego. Caminhões cada vez mais potentes, cargas cada vez mais pesadas e o pavimento das rodovias, cada vez mais... ridículo, fino e de péssima qualidade. Um dia destes converso com um empreiteiro de obras públicas e lhe falo sobre um tipo novo de massa asfáltica para pavimento urbano, produzido por um sistema misturador que patenteei há cerca de dois anos, que produz uma massa asfáltica com emulsão modificada, borracha de pneu velho, óleo de xisto, polímeros de látex e agregado mineral, misturado em dois estágios em equipamentos absolutamente simples, o que lhe reduz consideravelmente os custos e, o mais importante, dura pelo menos quatro vezes mais do que o asfalto convencional. Ele me olha bem lá no fundo dos olhos, coloca a mão no meu ombro esquerdo e apontando o dedo da canhota para o meu nariz diz: “Sai dessa, mermão! Você está entrando numa fria; não vai vender isso nunca”!

E eu lhe pergunto, com a minha decente e honrada ingenuidade: Por que você diz isso?

Ao que ele, literal e convictamente, responde: “Olha aqui, meu camarada! Fazendo a porcaria que faço, ganho dinheiro tapando buracos pelo menos três ou quatro vezes por ano. Se eu for usar esse “treco” aí, que você diz durar pelo menos quatro vezes mais, quando é que eu vou ganhar dinheiro”? Lamente-se o fato, mas a verdade é que para quem é adepto dessa filosofia, seja empreiteiro ou governante, pavimento urbano ou rodoviário, pra ser bom, tem que não prestar. Paradoxal; ou não? O fato é que o sujeito tinha razão; até hoje só a Prefeitura de Goiânia demonstrou interesse, mas bastou um consórcio de empreiteiros dizerem não e o meu invento voltou à prateleira onde a poeira do tempo o recobre, paulatinamente.

Quer mais? No Brasil, as operadoras de internet banda larga podem fazer contrato de fornecimento de tantos Kbps, mas são obrigadas a fornecer pelo menos 20% disso. E os 80% restantes?

Político corrupto, quando condenado pelas instâncias especiais do Poder Judiciário nacional, acha-se no direito – e o exerce! – de atacar a Justiça dizendo-se inocente e injustiçado, mesmo depois de toneladas de documentos e provas. Com direito a reunião pública pra protestar e tudo; e fica assim e por isso mesmo!

A lei vigente proíbe propaganda eleitoral fora dos períodos pertinentes, mas há políticos que se sentem tão donos do Poder, que fazem propagando eleitoral durante pelo menos dois anos antes das eleições que lhes interessam; e tudo se passa como se a lei não existisse, muito embora a eles, justamente, caiba o dever de aplicá-la com zelo e lisura!

A falta de energia elétrica obriga o governo a dar partida nas velhas e caras usinas termoelétricas, que demandam combustível fóssil trazido de longas distâncias, mas os modernos parques eólicos apodrecem na ociosidade sem que absolutamente nada dos mais de 01 Giga Watts de energia elétrica limpíssima que estão capacitados a produzir, sejam usados. Tudo porque o governo simplesmente não lembrou de mandar construir as indispensáveis linhas de transmissão pra que essa energia possa chegar aos centros consumidores.

O encarecimento do custo de produção da termoenergia é gritante, mas o governo reduz as tarifas a níveis aplaudidíssimos pelo consumidor evidentemente feliz com o novo “milagre brasileiro” de quase meio século depois.

Não há como reduzir o Custo Brasil, mas o Brasil doa dinheiro para Cuba, faz empréstimos de extrema atratividade a outros países, concorda “de boa”, com a nacionalização de patrimônio da Petrobrás, pela Bolívia, e até doa helicópteros ao país vizinho.

Em Mato Grosso, Celeiro do Brasil e Estado campeão em produção e em produtividade na agricultura e na pecuária, não há estradas transitáveis, não há aeroportos viáveis, não há estímulo à industrialização do que produz na lavoura, não há programas de utilização do potencial turístico, que é imenso, não há estímulo à produção primária e não há compromisso com o interesse comum. A Capital, Cuiabá, figura na lista das cidades mais violentas do País, o Estado não oferece saúde pública aceitável, não há qualidade no ensino de sua responsabilidade, especialmente no ensino médio, mas há milhares de milhões de Reais aplicados em obras que jamais sairão do papel no prazo previsto, há um batalhão de novos ricos que jamais se dedicaram a qualquer atividade produtiva e há uma desesperança generalizada, quando o assunto é o amanhã.

Em artigo no jornal Folha de São Paulo, do dia 30 de outubro de 2012, Marcelo Ninio diz que “O Brasil é mais violento do que o Oriente Médio”. Mas como -podemos perguntar - se não se vê nenhum governante mostrar real preocupação com o fato, e se a criminalidade cresce exponencialmente, “como nunca antes neste país”? Mas está lá: “Em 2010 foram 49.900 homicídios aqui, contra cerca de 30.000 mortos na guerra da Síria”. E mais: “Entre 2004 e 2007, perto de 169.500 pessoas morreram nos 12 maiores conflitos mundiais. No Brasil, o número de mortes por homicídio, no mesmo período, foi 192.800”. Mas, consideradas as preocupações demonstradas e as ações de governo, parece que nada tem sido banalizado por aqui; nem mesmo a vida. [http://marceloninio.blogfolha.uol.com.br/2012/10/30/o-brasil-e-mais-violento-que-o-oriente-medio/]

Seria possível desenvolver um raciocínio sobre o porquê dessa pavorosa estatística? Quem sabe possamos começar um balbucio por aqui:

Vivemos, no Brasil, uma crise institucional tão grande, que – a persistirem os índices de medonho absurdo que, por exemplo, esse artigo do Marcelo Ninio escancara – tenderá à eternidade, como se a vontade da maioria não tivesse nenhuma importância.

As instituições brasileiras vivem momentos aflitivos, por conta da incúria de pessoas – homens e mulheres – que chegam ao poder guindados por interesses corporativistas, quase sempre travestidos de salvadores da Pátria, mas que, para lamento de todos nós, em essência são indivíduos que não deram certo na iniciativa privada e buscam satisfazer - como “servidores do povo” - sua sanha de enriquecimento a qualquer preço e que se dane a vaca baia. No bojo dessa embarcação sob comandos banais, não há interesse público capaz de ser materializado. Como despreocupados marujos, indecisos e despreparados “servidores do povo’, objetivando apenas o agora, porque é agora que estão no poder e só agora podem se locupletar, deixam o preceito maior da nossa Constituição se esboroar sobre os escolhos que jamais querem enxergar.

Nesse ritmo não há investimento em educação, porque a nenhum governante corrupto interessa uma sociedade culta, bem formada e suficientemente informada. Não que não seja útil à Nação ou a eles próprios, em dado momento da viagem, mas porque um povo bem instruído conhece direitos, repara em deveres e exige postura daqueles a quem escolhe para representá-lo na gestão da coisa pública.

É a falência da cidadania que exala uma necrose iminente, e são os péssimos exemplos patrocinados por figuras públicas de destaque irrefutável, que levam tão grandes porções da sociedade brasileira ao descaminho comportamental, à ilusão do ganho fácil e à equivocada opinião de que ser violento, corrupto ou inútil “dá status”. Mesmo que depois ajudem a infectar os já infectos e abarrotados presídios do Brasil.

Quando o legislador colocou lá, na Constituição Cidadã, que “o Poder emana do Povo e em seu nome deve ser exercido”, o que considero o maior preceito da nossa Carta Magna, foi ingênuo, imaginando que daí em diante legislar seria tarefa para homens e mulheres de bem e comprometidos com a moralidade pública e com o interesse nacional.

A empresa orgulho nacional, a segunda maior e mais competente da América Latina, a Petrobrás, é quebrada sob os olhos relapsos de um governo que permite sejam jogados na lata do lixo mais de R$90.6 bilhões, em seu valor de mercado. R$36,7 bilhões em 2012 e – pasme!- R$53,9 bilhões só em 2013, ano que nem bem começou, deixando-a na lista dos conglomerados empresariais menos eficientes do continente. Alguém seria capaz de imaginar que um dia isso seria possível? No governo do PT, é!

E daí não tem dinheiro para fortalecer o setor produtivo, a carga tributária é cada vez mais escorchante, a escola pública vai de mal a pior, os negócios ilícitos – tráfico de drogas na frente – prosperam e assistem as porções mais miseráveis da sociedade, coisa que governos não fazem porque não acham fundamental, a criminalidade galopa porque não há repressão ao crime e nem políticas públicas voltadas para isso e, o resultado está aí: polícias com salários irrisórios, ilícitos pra todo lado, agentes públicos coleados com bandidos, governos paralelos, bolsões de pobreza com os olhos vendados, uma geração de indolentes sendo criada pelas graças das famosas “bolsas isto” e “bolsas aquilo”, uma sociedade que se desagrega e uma Nação que se desqualifica aos olhos do mundo que a respeita cada vez menos e a despoja cada vez mais.

Quando condenados pela Justiça - como os mensaleiros - se arvoram de direitos que não têm e atiram pedras em órgãos importantes do Poder Judiciário, como o Supremo Tribunal Federal, é porque a coisa está na banguela mesmo, e sem freio. Sai da frente!

Um dia destes, assistindo á TV, vi um programa feito há dois anos, em um dos morros do Rio de Janeiro. Um menino, de cerca de 10 anos de idade, cumpre seu papel de vigia em um ponto estratégico, de fuzil na mão e todo cheio de razão. A repórter lhe pergunta o que ele quer ser, quando adulto e, sem pensar duas vezes e todo garboso, ele responde: “Chefe de Boca de Fumo”. Um sonho comum aos meninos do morro, deseducados e mal vestidos – como o próprio morro cantado na letra de Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa - completamente reféns inconscientes do sistema bandido que aí impera. Esse guri confessa que jamais foi à escola e que o mundo que ele conhece é aquele ali.

Após a instalação de uma escola monitorada pela própria TV que fizera o programa, que instrui, profissionaliza e informa - desde a alfabetização até o ensino de profissões com uso de alta tecnologia - dois anos depois voltam lá e é justamente esse o programa que mostra toda a história. Novamente entrevistado e agora já com dois anos de frequência à escola moderna, o mesmo guri, agora com cerca de 12 anos de idade, tem com a repórter este diálogo:

- O que você quer ser quando for adulto?

E ele, na bucha: “Jornalista”!

- Jornalista? Mas por quê jornalista? Pergunta a repórter da TV.

E ele, sem pensar muito, responde: “Pra contar ao mundo, que existe um mundo diferente deste aqui; que a vida tem muito mais coisas do que a gente aprende aqui no morro”.

Esse desabafo de um infante fruto de uma sociedade bandida torna desnecessário qualquer comentário mais.

E o salário do professor e da professora, formadores do futuro da gente do Brasil, por incrível que lá fora possa parecer, continua aviltado como todos os demais segmentos produtivos do País do Nióbio.


...

Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro


OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques