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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
O Papa é pop, já a Igreja...
14/07/2013
O mundo está rodando. Lá fora.
Aqui, no meu canto do Leme, olho pra tudo e não vejo quase nada, por que os tapumes de Cristo fecham a visão de alguns quarteirões e isso não é pouco para um pequeno bairro que tem em sua extensão não mais que meia dúzia de três ou quatro deles.
A obra para louvar a Deus é gigantesca, maior do que o palco dos Stones, montado em frente ao Copacabana Palace, na primeira década do novo milênio.
Os moradores do Leme, é claro, só têm a reclamar contra a invasão da nossa pequena e humilde praia. E com razão. E muitas razões...
Por que nada justifica a mania de grandeza dessa igreja que não me representa e – parece - nem ao próprio Papa Francisco.
A soberba chegou ao ponto da Arquidiocese carioca, pedir e a Fundação Parques e Jardins da cidade autorizar a retirada das palmeiras que, imaginem, estavam plantadas há anos justamente na lateral do local onde ficará a boca do palco voltado para a praia de Copacabana.
Isso que estamos falando de mais uma imensa multidão numa área tombada, de acordo com o Inepac, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, que assim descreve a região: “O calçadão de Copacabana, de autoria de Roberto Burle Marx, foi executado no início da década de 1970, sendo o maior exemplo de obra de arte aplicada existente no mundo. Pensado como um painel contínuo em escala urbana passível de ser visualizado em grandes trechos oferece aos pedestres a possibilidade de desfrutar de uma variedade de desenhos e composições. Adota motivos do abstracionismo formal que caracteriza a pintura de Roberto Burle Marx a partir da década de 1950. O projeto paisagístico agrupa árvores de copas amplas em conjuntos, cuja distribuição se integra ao desenho do calçadão. O trabalho em pedra portuguesa das calçadas incorpora a figura tradicional das ondas que simbolizam o bairro...”
Tudo bem que as palmeiras abusadas não estão no calçadão. Mas a, no máximo, uns metros areia adentro.
Não tão bem assim porque, senão, o prefeito Eduardo Paes não teria revertido a ordem de transplantação dos coqueiros, contrariando a Arquidiocese e a sua própria Fundação de Parques e Jardins. Ponto para ele. Mas só um. Antes de sua contra ordem as palmeiras já haviam passado por muito sufoco, literalmente, servindo de apoio involuntário para parte dos ferros que formarão a estrutura papal.
Pensando bem, a palmeira sufocada é uma metáfora do estilo do novo papa Francisco, diante das exigências do cargo. Um cara simples, tentando se livrar do aparato luxuoso e exagerado que o cerca, cheio de penduricalhos e salameleques desnecessários, mas servindo de apoio para a estrutura que o sufoca.
Vai ser uma longa luta, na qual, a visita ao Rio é apenas um round. Um round que obrigará o pontífice argentino, entre outras coisas, a comer um “churrasco brasileiro”.
Faremos meio assim como a presidente do país vizinho ao levar de presente, quando da sua elevação ao trono de São Pedro, um cuia e um bomba de chimarrão! Como se não soubesse que, para o mateador, nada supera seu equipamento pessoal, aquele que carrega campanha afora, esteja ela no Pampa que for...
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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