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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes
Medonha possibilidade
05/10/2013
O noticiário de todo dia - em todas as mídias – há muitos anos nos mostra o esculacho com que figuras públicas tratam a própria imagem no cotidiano e, por tabela, a imagem do município aonde exercem suas funções, do estado aonde vivem e, “por vias de consequência”, como diria o velho e bom mineiro Aureliano Chaves, a imagem do Brasil.
Há líderes políticos que já nem mais ficam vermelhos quando seus retratos escancarados entre postes e mídia eletrônica, passando pelo rádio e pela TV, mostram ao mundo a decomposição de suas personalidades e honra, motivada pela falta de decência, de competência ou de dignidade. A malversação do dinheiro público, o peculato, a prevaricação e outros desvios comportamentais do mesmo naipe, são de tal modo corriqueiros que mediante a total banalização da honradez e da vergonha, nem mesmo a lei presta atenção à sua presença na vida diária da Nação.
Juízes de vistas grossas e ouvidos moucos, também presentes em lugares aonde o ilícito possa - por força de 30 ou mais dinheiros - infringir a lei, dão suporte às incontáveis figuras polutas, embora públicas, que usufruem de benefícios que de direito não são seus, produzindo exemplos execráveis e poluindo – com inclemência e licenciosidade – não só a seara onde militam, mas a própria sociedade brasileira.
Com faces revestidas de puro cerne lenhoso, governantes e parlamentares – de todos os níveis e em quase todos os recantos pátrios – gritam uma inocência que não pode ser admitida diante de tantos feitos, de tantas evidências, de tantas provas e de tantos fatos, como se arautos fossem, de uma única verdade: a de que são eles os lídimos e últimos representantes da honestidade e da decência sobre o Planeta Azul. Exemplos nodoantes para uma juventude já contaminada pela quase certeza da impunidade, pelas vantagens do ilícito e pelo brilho e fascínio que a corrupção exerce em todos quantos têm sido levados à condição de abastados seres públicos que exorbitam diuturnamente de direitos que usurpam à lei.
Aliás, a lei – tal qual tem sido posta - precisaria ser de pronto revista e transmutada, pra que a ordem e o progresso que a nossa Bandeira estampa pudessem então ser vivenciados – plenamente - em terras daqui. Porque de esconsas concepções e decisões, muitas delas tendenciosas e, “sin embargo”, infringentes, é que se compõe o compêndio de leis que nos dizem como devemos nos comportar perante elas; mas que não dizem a mesma coisa a quem as faz. Um contraste incompreensível entre o que é e o que deveria ser.
Temos sido vítimas de nós mesmos neste Brasil que vota, porque sistematicamente temos votado em indignos seres que de nós e do que nos prometem se apartam, para então locupletarem-se e fartamente produzirem o ilícito que tanto desencanta e tanto descontenta, mas que já está presente como lanho profundo na carne e no espírito do Brasil.
A cada manchete que grita sucessos e exalta “virtudes” de um corrupto, o cidadão de bem - como se fora um boneco de vodu - sente-se cutucado no âmago da própria alma. Porque quem exerce cargos públicos e independente de como lá tenha chegado, tem obrigações com o que é de todos; especialmente com a moral, com a ética e com a lealdade ao povo lhe paga o soldo.
O hipócrita convívio entre poderosos corruptos e porções sociais que se permitem corromper, ameaça nos tornar hipócritas, também. Já podemos – horrorizados pela medonha possibilidade - nos imaginar cidadãos irresponsáveis, de um país onde livremente transitam corruptos em corredores de todas as instituições.
Casas legislativas – de todos os níveis do poder - dirigidas por verdadeiros salteadores da confiança pública e inveterados bandoleiros que no poder se perenizam com o beneplácito da maioria de nós; palácios, que por toda parte abrigam mandatários sem escrúpulos, que enriquecem a olhos vistos enquanto empobrecem o quinhão que lhes cabe gerenciar e cuidar, e tribunais que, por missão constitucional devem zelar pelo cumprimento e a aplicação da lei, que não raro veem-se invadidos por quase hordas de julgadores paridos pelo interesse grupal e de mesquinhos parceiros de projetos vis, pra falar de apenas alguns aspectos da degeneração política e social que já se sente, são provas inquestionáveis de que a lei – tal qual tem sido posta – precisa mudar.
Cidadãos de índole clara, brasileira e limpa, há; e não há dúvidas de que os haja em grande quantidade! São esses compatriotas que precisam – no Brasil - ocupar todos os postos possíveis em cada um dos Poderes Constituídos; a Nação carece e não pode prescindir dos seus labores. Porque os sinos soam a hora do réquiem pelos sonhos nacionais e é preciso impedir que o façam. Não podemos perder a esperança do aplauso a novos e alvissareiros dias.
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Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro.
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