capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 12/11/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.898.837 pageviews  

Falooouuu... Frases e textos para ler, reler, treler e guardar

TEMA LIVRE : Marli Gonçalves

Outras colunas do Tema Livre

Precipício
24/11/2013

As pernas vibram "por dentro", querendo se vergar, como quando um caminhão passa na rua e treme tudo, o chão. Uma leve tontura. Palpitação. Toda vez que me vejo diante de um precipício - e que não é exatamente um, mas o futuro - me sinto como quem tem medo de altura e alguém manda olhar lá para baixo, forçando, para ver se o apavorado acaba logo com o problema. Pula! Pula! Pula!

Um grande amigo meu tinha muito, mas muito medo de altura, paúra. Tanto, a ponto de passar anos sem ir ao meu apartamento quando eu estava no 11º andar, porque só de pensar em pegar o elevador tinha um ataque de pânico. Um dia ele me chamou para irmos ao topo de um dos prédios mais altos da Avenida Paulista, tão alto que tem uma torre dessas de tevê, grandona e toda colorida. Lá fui eu, mãos dadas com ele, num daqueles rompantes de solidariedade fraternal. Mais: ele não só subiu ao terraço, como deu até uma esticadinha, um pulinho, na tal torre, rindo, só que agora do meu pânico, do meu limite. Nunca esqueci essa cena: naquele dia aprendi que enfrentar o medo realmente ajuda a coragem e a solução, ou pelo menos adaptação, principalmente para quem não tem, como eu diria, recursos para análises e terapias.

Faz muitos anos. A cena veio à mente esses dias e não foi porque eu estivesse ou pretendesse estar em qualquer lugar alto, até porque não sou a mais medrosa, sem exageros, embora ninguém vá nunca me ver nem fazendo rapel, nem pulando de uma ponte com aquela cordinha ridícula ou muito menos me jogando de um teco-teco com paraquedas. Lembrei da cena porque estou sentindo o mesmo tremor nas pernas, e precisando - na verdade até já tomando aquele impulso - dar um salto enorme, mas em decisões, justamente para tentar chegar mais segura ao outro lado, pulando o tal precipício, mas para seguir firme no caminho.

Dá para fazer essa mesma analogia com várias coisas. Você fica ali, na frente do buracão, parado e postergando, postergando. Até que tem uma hora que chega, ou um maluco que empurra, ou um touro bravo nos seus calcanhares, e não há mais tempo de pensar muito. A prisão dos líderes políticos e empresários condenados no julgamento do chamado mensalão me deu também essa impressão. Agora vai. Fico imaginando como andava a vida desses e dessas, a expectativa se aconteceria ou não. Vendo, entre outros, Genoino visivelmente doente e perdido, a ponto de sair de casa para se entregar vestido com uma capinha e conclamando multidões, vendo o Roberto Jefferson, ex-gordinho, definhado, ainda desafiando seus próprios instantes de liberdade com palavras fortes, e vendo, ainda, o estado da ex-presidente do banco, quase irreconhecível, pequena, perdida e sem a altivez de bailarina que ostentava. Notei o quanto essa espera deve ter sido amargurada. A prisão será o de menos.

As voltas que o mundo dá são suficientes para envergar qualquer um, já cansei de ver. Sacolejam a estabilidade. Causam pequenos tremores e, também, às vezes, terremotos, que fazem necessário que se reconstrua tudo, mesmo que usando bases antigas para economizar. Não diga desta água não beberei, até porque nem sabe de onde vêm muitas das águas que saciam. Tem ainda um pau, que bate em Chico e Francisco - e que vimos bater até em Gil e Veloso recentemente.

Já inventaram de um tudo, tanto que daqui a pouco vão dispensar até os humanos, correndo essa toada. Mas não inventaram nada que veja o Futuro, embora uma bola de cristal possa até ajudar, mostrando entre névoas o que quiser ver, e dificilmente provar que viu. Daí ainda ter tanta gente que apregoa nos postes e vive de dizer que pode até juntar amores partidos.

A gente tenta. Mas todas as estradas acabam em algum ponto, obrigando que uma hora ou outra, ou várias durante a existência, pulemos o tal precipício. Alguns caem. Outros se jogam, justamente por não dominar ou entender as tais pernas que vibram que me referi no começo.

Quero ser sempre a que pula. Conto com sua torcida. Nesta hora parece que ninguém entende a gente.

...

São Paulo, 2013

...

*Marli Gonçalves é jornalista - A cada dia aprende mais sobre quanto uma coisa que é muito pessoal, quando escrita e lida, pode também ser muito pessoal e compreendida por outra pessoa que nem ao menos conhecemos. Uma magia. Como se desse para psicografar o inconsciente coletivo.

...

Mais Marli em

www.brickmann.com.br
marligo.wordpress.com



OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques