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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Rio para não chorar
02/02/2014
Nada de um lado nem do outro, apesar de ser verão no Rio de Janeiro. Praias cheias, prateleiras vazias, preços nas alturas, atendimento abaixo da crítica.
Gente saindo pelo ladrão. E esse(s) fazendo a festa por que o público alvo está uma fartura só. Arrastão nas praias, nas ruas. Ouviu falar no relato de uma mulher foi assaltada em Copacabana? Roubaram... sua quentinha na saída do restaurante.
A temporada está aberta para todos. Democraticamente. Assim é o Rio da Copa e das Olimpíadas. Um caldeirão fumegante com praias sujas para quem te quero.
E essa não é uma visão de pessimista, de quem está torcendo contra. Quem convosco dialoga é simplesmente apaixonado pela Cidade Maravilhosa que sofre nas mãos de seus algozes.
Essa semana, um celular foi causador de uma tragédia que parou a cidade.
Ocupado com a conversa, o motorista não reparou que a caçamba do veículo trafegando em horário proibido pela linha Amarela, uma das vias expressas mais importantes da região metropolitana, estava levantada.
Ao bater numa passarela de pedestres, ela derrubou a estrutura projetando pedestres e esmagando carros. Cinco morreram. O tal celular vai ser condenado, sem dúvida.
Afinal, a administradora da via que não barrou o passeio do caminhão não tem culpa. A prefeitura que tem seu adesivo “salvo conduto” no caminhão (tipo “a serviço”), que não trabalhava para ela também não.
A caçamba que milagrosamente se elevou aos céus tentando um voo refrescante mais longe do asfalto, muito menos, assim como o responsável pelo bom funcionamento da instalação elevatória.
O motorista que estava no lugar errado, na hora errada, com o equipamento acionado de forma errada também não teria tanta culpa se... não estivesse falando no celular, o mordomo da era tecnológica.
Isso é o Rio de Janeiro. Não é a toa que seu codinome é cidade Maravilhosa. Admirada pelo mundo e amada incondicionalmente pelos cariocas.
Os mesmos que a própria prefeitura responsabiliza e aponta o dedo quando junta a montanha de lixo nas praias e indaga numa imagem que correu mundo: ”Esse é o presente que o carioca deixa para a cidade?”. Diz aí, cara pálida, com o tsunami turístico desse janeiro, só nós?
Se não fossem os nossos segredos cariocas seria difícil suportar tanta pressão e alguma maledicência.
Um desses segredos são nossas rotas de fuga. Elas nos permitem, ao menos por uma temporada, abrir mão de nossas paisagens mais conhecidas como Copacabana, Ipanema, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, supermercados, bares da orla e restaurantes a quilo para a horda de turistas que nos invadem.
Tão longe dos olhos, tão perto de nossos corações. Ao lado do tumulto sempre existem refúgios. Eles nos permitem re-unir nossas forças a espera de que o paraíso recupere seu status natural e volte a ser um lugar amigável que faz parte da lenda do bem viver no Rio de Janeiro.
Até lá, podemos trocar o lado do morro e adotar a Urca como point mais frequente e deixar de lado nosso espetacular Jardim Botânico e passear nas ameias da Casa de Rui Barbosa, em Botafogo. A Lapa, lugar lendário da boemia carioca, que dez entre dez turistas sonham conhecer, faz tempo perdeu seu posto para a Pedra do Sal. E assim por diante.
Sob o sol do mesmo céu existem outras opções que fazem a alegria de quem quer algo a mais da cidade do que o simples e batido cartão postal...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Essa crônica faz parte da série “No rumo”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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