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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes
Dos extremos e do meio
06/04/2014
Em alguns textos que tenho escrito no transcorrer das últimas décadas refiro-me ao pensamento de Hermes Trimegisto, que no antigo Egito foi Thoth, o deus da escrita e da lógica das coisas da Natureza.
Ele afirma que os extremos são perigosos porque podem levar ao desequilíbrio e que, portanto, os caminhos do meio são mais seguros e mais equilibrados.
O pensamento de Hermes cabe bem em qualquer setor da atividade humana. Do sentimento à ação; de rotina ou de ocasião.
Filosófica e ideologicamente falando ele pode se encaixar com absoluta precisão no momento político que o Brasil vive.
Há uma conjugação de forças políticas opostas, puxando para o lado das convicções, das preferências grupais, partidárias e ideológicas, sempre com esmero e capricho para que os objetivos que os movem sejam alcançados.
Paradoxalmente, saindo do campo visual do interesse particular de cada grupo, líderes e liderados são incapazes de fazer bem feito qualquer coisa que se lhes afigure contrária aos interesses característicos do grupo político em que atuam. Cumprir obrigações, por exemplo.
Assim, aqueles de tendência ideológica mais à esquerda só se dão bem, produzindo coisas – mesmo absolutamente utópicas e demagogas – que estejam na mesma faixa vibratória da tendência da ala a que pertencem. Mesmo que não detenham o conhecimento da ideologia que arremedam e mesmo que se deixem arrastar pela vontade de quem os lidera. O que, aliás, é muito mais comum do que se possa pensar ou imaginar.
É por essa e não por outra razão que os comunistas e afins se expressam sempre com palavras e termos extraídos de matrizes particularíssimas, da verborragia política a que são simpáticos.
Falam em democracia, mas não são democráticos. Falam em liberdade, mas nenhum país com que se afinam ideologicamente, prima pela liberdade. Falam em igualdade e justiça social, mas o que se vê onde suas filosofias políticas se aplicam, é desigualdade, miséria e dificuldade existencial de toda sorte. Não raro podemos ver líderes de países comunistas vivendo na opulência, enquanto seus governados vivem miseravelmente. Como em Cuba, por exemplo, conforme pode ser aferido pelo noticiário internacional de todos os dias. Mas para os que aqui pregam tal regime político, lá é o próprio paraíso terrestre. Deviam se mudar todos pra lá.
E os incautos, os interesseiros e os parasitas por natureza, acabam mordendo a isca e fazendo exata e justamente o que querem os estrategistas dessas utopias.
Já os de tendência ideológica mais à direita, nada diferentemente dos seus opostos, exorbitam e deixam de cumprir o que pregam. Apegam-se a ideias e sonhos de enriquecimento rápido – sem considerar os meios de chegarem a isso – e esquecem que a obrigação primeira, a mais nobre, a mais justa, a mais cabível e a inquestionável, haveria de ser o que prometeram ao eleitor e ao povo em tempos de campanha. Mas, eleitos, sofrem um processo de amnésia estratégica e salvo as honrosas exceções - públicas e notórias – capam de si mesmos a lembrança de que sem o voto popular não estariam onde estão. Tanto mandatários quanto parlamentares concentram-se no próprio umbigo - quando muito mais longe, no umbigo de financiadores e parceiros de planos e armações - e ao povo nada mais do que o esquecimento.
Uns e outros se dizem pela igualdade de direitos, mas aprovam cotas raciais em setores onde a livre competição deveria imperar, não assumem compromissos com o preparo da juventude para que desempenhe amplamente os seus papéis na sociedade, divorciam-se dos projetos de pesquisa e desenvolvimento científicos e tecnológicos, extraem dos anseios do povo as ferramentas ilegítimas, pelas quais garantem a compra marota de apoios políticos a que induzem as porções miseráveis dos mais diversos extratos sociais e, lamentavelmente, castram as potencialidades nacionais em benefício de objetivos nem sempre nobres.
Enquanto um e outro extremo da malha política e ideológica se satisfaz em sua pequenez de projetos, princípios e fatos, desbragadamente cavalga a galope a insegurança pública, agiganta-se o crime organizado, viceja a devassidão de porções significativas dos poderes constituídos, esvaem-se as esperanças do povo e desvanece a alegria. Porque é absolutamente impossível sorrir diante do abandono econômico, da precariedade da infraestrutura nacional, da desassistência à saúde e à educação, e diante dos péssimos exemplos que caem – todos os dias - do noticiário político do Brasil.
Então está tudo errado.
Jesus Cristo diz que “a quem muito foi dado muito será pedido”. Mas os que mais recebem são os que mais rapidamente esquecem-se do povo e os que mais cedo acreditam não terem que ceder ou dar qualquer coisa de si mesmos a quem quer que seja. Mesmo que seja só o atendimento a direitos inalienáveis. Nem retribuem e nem compartilham coisa alguma.
Em ano de eleições é bom lembrar que os melhores caminhos são desenhados por quem mais precisa deles. Muito mais do que de ideologias estrangeiras e maus exemplos, precisamos de mandatários e parlamentares que cumpram as letras da Constituição Brasileira e exerçam o poder que o voto lhes dá, em nome do povo que os sufraga.
...
*Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro.
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