|
TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Outra coisa
08/06/2014
Uma coisa é uma coisa. Outra você já sabe, né? A espera é difícil e a floresta está assim: sentindo o bafejar da respiração do gigante já no seu sétimo sono, pronto para acordar. E em polvorosa.
O que se vê é uma correria louca em meio aos protestos de espécies inteiras que decidiram cruzar as patas e mostrar a cúpula do reino florestal que até o bicho pode pegar.
Dias antes dos jogos florestais mundiais com as delegações chegando as canchas ainda estão sendo preparadas. Às pressas, nas coxas dos elefantes e a toque de bicho preguiça.
As trilhas da floresta tampouco estão nos conformes. Pela terra, há inúmeras passagens obstruídas e locais perigosos cheios de armadilhas, inclusive humanas. Não há sinalização adequada. Os cipós, por exemplo, não têm certificação de pesagem (já pensou se um gorila desavisado se pendura no galho que suporta apenas o mico preto?).
Que animal pode em sã consciência dizer que está tudo “calmo e operante”?
Se a organização está um caos, só resta bancar a formiga, tentar trabalhar e armazenar alguma reserva para os dias de competição que virão. O problema é que os alimentos estão pela hora da morte! Esse é o único refrão que a cigarra, coitada, tem cantilenado por aí.
A pobrezinha anda deprimida por ter sido trocada por uma cacatua qualquer como um dos cantores do evento (fazia parte do coro). Os cardeais também não ficaram nem um pouco felizes com a importação de uma espécie exótica para “puxar” a cantoria oficial. Claro que a “coisa” não pegou...
Foram esses pequenos detalhes que ao longo dos últimos dias mostraram à bicharada (já não andava muito satisfeita da vida), que poderia ficar muito pior. O aluamento da enta anta e conselheiros, parecendo viverem num mundo de faz de contas animal, onde uma aguaceira no teto vira pingo e a falta um tudo quase nada, só piorou a situação fora do prazo e controle.
Se a vida está assim para fauna da floresta, imagina o que rola para a flora. No conjunto, então, nem se fala. Tá todo mundo revoltado com a falta de atenção para, por exemplo, as comemorações do dia Mundial do Meio Ambiente, totalmente escanteado e esquecido. Como se não fosse o momento em que o mundo inteiro volta seus olhos e seus corações ( os que os têm, é claro), para reverenciar a mãe Natureza. Que tristeza!
Depois não entendem por que tem tanto bicho tirando um cochilo em baixo das árvores, comendo quieto e esperando o dedão do pé do gigante se mexer!
Não vai pegar essa tentativa de “SOMOS UM SÓ”. A passarada carioca está piando e conta que por lá, já caíram na esparrela do SOMOS O RIO. Mostraram no que está dando a péssima escolha para a Mata Atlântica local: mal governada, espoliada e, pior, horrorosamente mal cuidada, o local do encerramento da competição florestal está num estado deplorável!
Por mais que as maritacas governamentais insistam em encher os ouvidos e olhos do mundo com jingles e imagens piegas e emocionais produzidas para induzirem a mata que está tudo verde e amarelo, os milhões gastos em propaganda copiada dos marqueteiros políticos não estão pegando na veia. Nem no tranco! Tem bicho azul de raiva, urrando pelas trilhas.
Mas não se enganem os que pensam que a floresta não está ligada no esporte, paixão e alegria da rapaziada. Nos jogos que serão acompanhados fora dos campos e estádios (já que os lugares nas arenas ficaram fora do alcance das patas dos animais locais), quando o gigante acordar não vai ter para ninguém. Dentro e fora dos campos da competição.
Por que, nesse caso, duas coisas são uma só. A maior paixão da fauna da floresta é o orgulho que os deixa azul de vontade de serem campeões. Mais uma vez...
...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Essa crônica faz parte da série “Fábulas fabulosas”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
Compartilhe:
|
|