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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes

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Será que tem jeito?
02/07/2014

Não estou decepcionado; estou desesperançado.

Decepcionado estaria, caso durante as últimas duas décadas e casqueira houvesse acreditado que a classe política brasileira estivesse mesmo interessada em condições existenciais à altura das esperanças daqueles que nela têm confiado.

Decepcionado estaria, caso houvesse me permitido acreditar que político cumpre promessa de campanha, rejeita parceria marota e detesta o poder a qualquer preço.

Não estou decepcionado; estou desesperançado.

Esse exaustivo e quase desanimador estado d’alma decorre de que a esperança se acinzenta, perde o viço, o brilho verde e a força que motiva. O Brasil carece de mulheres e homens novos nessa velha faina de fazer política, traçar planos, respeitar direitos, ouvir o povo e governar limpo.

Meu avô dizia que “homem que joga e bebe, cachorro que come ovelha e político corrupto, não perde o vício nem surrando com um gato morto até fazer miar”. O que é lamentável em país como o nosso, onde os desusos da moral e da ética têm estado presentes em quase todos os setores da atividade pública e onde, para descumprir a lei, arranjar desculpa e livrar político da responsabilidade, sempre há um jeitinho especial.

Isso tudo evidencia as dificuldades para mudar as coisas. Começando pela mania nacional de “votar em tal candidato para não perder o voto”, como se voto se perdesse quando dado a gente em quem vale a pena confiar e acreditar. Essa talvez seja uma das primeiras mudanças a serem feitas, mas que só será possível quando toda a turma houver sido trocada. O que não é fácil, porque sempre há um interesse a mais e a maioria sempre quer levar vantagem; mesmo que tenha que ser desonesto e desleal consigo mesmo. É como no velho e gaúcho ditado de que “se estou de bem com a abelha mestra, não me importo que o enxame ronque”.

Aliás, é justamente no ronco do enxame que está o nosso maior vexame! Só há descaminhos no serviço público, porque muitos ainda pensam que se estão levando vantagem não têm que se importar que outros também estejam e, nesse caso, estar de bem com o dono do boteco só lhes facilita o crédito da pinga.

Desse jeito vamos perdendo o respeito pelo lícito, pelo certo e pelo recomendável. Nenhum princípio ético, moral ou cívico seria desrespeitado, se não houvesse o povo se habituado a tanto mau exemplo, a tanta impunidade e a tanta coisa torta sendo mostrada como se das mais direitas fossem. Tudo se banaliza em ambiente assim e os bons princípios vão sendo deixados de lado.

As casas legislativas nacionais – com raras e honrosas exceções – estão recheadas de gente insensível aos problemas que em campanha jura resolver, e de agentes políticos compromissados tão somente com o próprio bolso; e que se danem os demais. Para justificar os objetivos que lhe move a participar da vida política e pública, a maioria deles não está nem aí para a moralidade e para os direitos coletivos. Gente assim trai a verdade, desrespeita a lei, entorta o direito e faz ouvidos moucos aos apelos do povo a quem promete serviço e lealdade. Despudoradamente e sem qualquer respeito, se a coisa lhe interessa age como a traíra, do velho ditado sulista: “quando não tem o que comer, come os parentes”.

Com base nisso pode-se inferir que, majoritariamente, embora não de forma absoluta, o político brasileiro é capaz de tudo para tirar o proveito que programa para os mandatos que exerce em nome de si mesmo e jamais do eleitor que o coloca lá.

Arredam-se as varas da porteira para mais um período eleitoral e o que se vê nos currais de todas as cores continua sendo a mesmice do envolver de ovos nas babas pegajosas que os candidatos excretam aos borbotões, na expectativa de amealhar apoios que lhes interessem. Mesmo que tais apoios sejam o vômito que golfaram em passado nem sempre distante. Retrato sem retoques, de uma hipocrisia ideológica que se consolida a cada novo pleito, na política partidária aqui praticada.

Dilma abraça Collor, que bajula Lula, que critica a crítica e endeusa o Paulo Maluf, que apoia o Gilberto Carvalho, que combate Campos, que provoca Aécio, que apoia Pesão, que dá apoio ao PT mas não abre mão do PSDB... Balaio para gato nenhum botar defeito!

E de todos, sempre há uma desculpa na ponta da língua, para justificar o injustificável e para fazer valer o sonho – no mais das vezes medonho – de poder total e, se possível, soberano.

A filosofia política - que apaixona e desperta ideias, sonhos e esperanças – é esfarelada violentamente nessa prática pequena de fazer as coisas sempre com interesse pessoal e não em respeito aos interesses e às necessidades do País e do povo.

Não estou decepcionado; estou desesperançado.

Em Mato Grosso o cara sai da cadeia carregando mais de uma centena de processos nas costas - como uma gigantesca mãe micurê com os filhotes que não larga - e de repente vira consenso político e candidato a governo. Como se não nos bastasse tanto desgoverno.

Será que tem jeito?


...

*Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro.


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