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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes
Riscos não calculados
27/07/2014
“Quem dorme com morcegos amanhece de cabeça pra baixo”.
No entretenimento, nas artes, na ciência, na alimentação, no consumo irracional, nos hábitos, no comportamento, na política partidária e até na religião, somos empurrados para enganos e tapeações de todos os naipes, permanentemente.
A indústria alimentícia orientada pelo desejo de lucros sempre maiores, apoiada nas facilidades da moderna tecnologia que a ciência lhe disponibiliza, economiza na matéria-prima e exagera nos conservantes, acidulantes, emulsificantes, corantes, edulcorantes, aromatizantes, antioxidantes e outros “antes”, que nos atacam de emboscada a cada bocado e a cada gole.
A indústria de defensivos agrícolas começa a nos envenenar no aumento do custo de produção e nos mata pelo envenenamento que começa na imunização de sementes com agrotóxicos de extrema letalidade. Do preparo do solo para o plantio, ao momento de consumo na mesa nossa de todos os dias, inseticidas, herbicidas e fungicidas nem sempre aplicados com observância a recomendações técnicas e sanitárias, acabam por nos transformar em vítimas sem nenhuma possibilidade de defesa.
A indústria da transgenia[1] que também nasceu da avidez pelo lucro sempre imenso, pegando carona na despreocupação, na desinformação e na indolência consciencial da alma humana, coloca no mercado um punhado de produtos de efeitos potencialmente danosos à vida.
Segundo pesquisas e estudos científicos, os transgênicos podem causar efeitos desastrosos sobre a saúde humana e ambiental; dentre tantos, estes: Aumento das alergias, aumento da resistência a antibióticos, aumento de substâncias tóxicas nos alimentos e riscos ao meio ambiente.
Os chamados OGMs – Organismos Geneticamente Modificados – já proporcionam uma grande lista de produtos que estão na mesa do consumidor, em todo o mundo, sem que ele tenha consciência sobre os riscos que corre ao consumi-los. Farinhas diversas, óleos de cozinha, derivados de soja, queijos, pães, bolos, biscoitos, abobrinha, mamão papaya, arroz, feijão e salmão, dentre outros, estão lá.
Atendendo a apelos do marketing que promete redução de custos, aumento de produtividade e lucros, no Brasil mais da metade da área plantada já é ocupada por sementes de produtos geneticamente modificados[2].
A indústria farmacêutica cresce de forma descomunal, disponibilizando ao desaviado e contumaz consumidor que se automedica, uma festa de opções que podem – além da cura – envenená-lo, silenciosa e lentamente.
Na indústria do entretenimento não é diferente, considerada a qualidade e a mensagem desajeitada, marota e muitas vezes descabida, tendenciosa, maliciosa e indecente, da música, da telenovela, do cinema, do videogame e da literatura.
Na indústria da tatuagem, um modismo perigoso, há denúncias públicas do uso de tintas de alta toxidade, capazes de produzir efeitos físicos tão danosos quantos os de ordem psicológica, comportamental e até espiritual que podem produzir. Tintas à base de benzopireno, conhecido e potente cancerígeno, e outras coloridas, contendo cádmio, chumbo, cromo, níquel, titânio e outros metais pesados, podem provocar alergias e doenças de extremo perigo à vida humana, dizem os cientistas[3].
E ainda estamos expostos – sem chance de defesa – a coisas como:
- Telefones celulares com baterias generosas na emissão de radiações nocivas à saúde e ao meio ambiente;
- bebidas alcoólicas que envenenam a alma, destroem neurônios, degeneram estruturas hepáticas, aniquilam a moral, destroem profissionais e desagregam famílias;
- formol (formaldeído), notório cancerígeno que tem andado por aí amaciado carnes, conservando queijos e leite, compondo cosméticos e alisando cabelos;
- vapores e gases de combustíveis fósseis, liberados por escapamentos de veículos e chaminés de fábricas;
- Hidróxido de Cálcio, a famosa soda cáustica, utilizada até no branqueamento do açúcar de quase todos os dias, no refino de óleos comestíveis e no processamento de um sem números de produtos da alimentação, pode causar lesões no fígado e no pâncreas.
Alimentos refinados com soda cáustica, tanto quanto aqueles processados com o uso do formol são cancerígenos potenciais e agressores naturais do sistema nervoso, do sistema digestivo, dos ossos e de outros órgãos do corpo. E todos os dias os ingerimos, sem saber, sempre que consumimos os produtos industrializados a que estamos habituados: alimentos, refrigerantes, bebidas alcoólicas, cigarros e tal. Os refrigerantes, por exemplo, contém mais de 20% de açúcar, sal e gás carbônico; veneno puro para diabéticos, hipertensos e obesos.
Pelas vias da política partidária a dignidade humana definha a olhos vistos e a corrupção usurpa, rotineiramente, recursos econômicos e financeiros que de outro modo poderiam ajudar na prevenção de situações que agravam os riscos de todos os povos, todos os dias.
E até as religiões, último refúgio da esperança de quem diariamente convive com desafios e adversidades comuns à vida moderna, estão permeadas por aventureiros, interesseiros e exploradores. E os bons líderes religiosos acabam cedendo lugar – sem que possam fazer qualquer coisa contra isso – a seres sem escrúpulos, que aqui e ali buscam satisfazer suas ambições mesquinhas na exploração daqueles que muitas vezes os procuram como sendo a última possibilidade de solução para problemas e aflições.
Em suma: a sociedade dita civilizada tem sido iludida diuturnamente e, apressada em acompanhar o ritmo acelerado da vida que esvoaça, reluta em prestar atenção à estrada por onde anda e em razão disso se deixa abater física e moralmente a cada vez que se sacia, mitiga a sede ou reforça a fé. E então deixa de atentar para o fato de que quando nos transformamos em seres melhores, transformamos o mundo e o fazemos melhor, à nossa volta.
Outro dito popular assegura que “enquanto houver cavalos, São Jorge não anda a pé”. Por analogia podemos dizer que enquanto seguirmos na boa fé, desavisados ou inconsequentes, quem produz o que nos deteriora continuará nadando de braçada.
Tem jeito? Tem. Se for possível consumir só o que a Mãe Natureza nos fornece. Sem agrotóxicos, sem processamento químico e sem “milagres”.
Nada fácil em uma sociedade onde mais importa a vantagem de quem fornece o fundamental e o indispensável, do que a Natureza e a Vida.
...
*Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro.
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