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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes
Frio no Espinhaço
05/08/2014
Quando menino, sempre que era preciso sair de casa durante a noite, para levar um recado ou buscar ajuda para um doente, na vizinhança - e eu falo de uma vizinhança rala, distante mais de quilômetro, porque não vivíamos na cidade - o arrepio na nuca era inevitável. Mas era preciso ir e nada podia ser feito pra abrandar o frio no espinhaço, como se dizia. Era o medo do desconhecido, o que arrepiava. Num tempo sem telefones, os socorros e os recados eram encargos de um próprio; um mensageiro.
Muitos anos depois, o frio no espinhaço volta. É a escuridão que continua metendo medo, despertando fantasmas e levando a indagações sobre o que haverá adiante. O ignoto – especialmente no escuro - sempre assusta.
O cenário político - como em longa noite de tênebras – faz o medo se esgueirar por todo canto e levar a Nação a sentir calafrios ante a impossibilidade de entender o que acontece.
O Brasil – lamente-se o fato! - está habituado ao inverossímil e, se nada se nos apresenta como diferente disso, então é lícito inferir que vivemos tempos de absoluta mentira. O que é péssimo, convenhamos!
Mas, será péssimo só porque não sabemos o que é verdade?
Não! É péssimo, porque o noticiário – diário! - nos faz pensar que nas lides político-partidárias já não há ninguém que nos mereça aquele mínimo de confiança que devem merecer os ditos representantes do povo e os gerentes do que a ele pertence. Estamos em uma encruzilhada de múltiplas vias e todas elas se afiguram como duvidosas. No entanto é hora de decidir caminhos.
Partidos políticos moralmente comprometidos em razão da imoralidade de tantos dos que os compõem e até lideram, fazem deste momento pré-eleitoral um grande cassino onde em cada mesa um crupiê se apresenta aos olhos nacionais como mais um motivo de desconfiança, desencanto, descrédito e desesperança. Não confiamos mais nos nossos homens públicos; e isso é medonho!
O que esperar de tantos que há tanto tempo já não se lembram de nos representar? Mas estão todos lá, campanha após campanha, batendo de porta em porta, de intervalo em intervalo da mídia, falando das mudanças que nunca fazem, da decência que nunca mostram, das promessas que nunca cumprem e da moralidade - necessária e indispensável – que jamais têm sido capazes de demonstrar.
São arautos da hipocrisia anunciando coisas que pouco sabem e acenando com bandeiras que já não são capazes de desfraldar sem que as borrem com a insana sede de riqueza, poder e fama. Porque é isso o que parece lhes mover e levar adiante a cada novo pleito.
Nas rachaduras da lei que bolam aqueles que as fabricam, sempre há um jeito de limpar a barra - como se dizia no meu tempo do meu avô - daqueles que nem mesmo à custa de removedor de alta potência seria possível limpar. E assim limpos, pra todos os efeitos das leis que fazem, estão sempre prontos a apresentarem-se de novo, ao povo, buscando os votos que insistem em trocar pelo que praticam: promessas, devaneios, astúcia, artimanhas, má-fé e o que mais lhes seja possível ofertar. É assim com a assombrosa maioria de candidatos que se apresentam a cada nova corrida eleitoral.
É assustador, verdadeiramente. Porque, se eleitos os que de propósito tapeiam – o que de rotina tem acontecido em terras daqui, e não é de hoje! – a escuridão continuará um breu e não será fácil impedir o frio no espinhaço. Porque o medo se agiganta, no não sabido que a treva inspira. Mas – como no meu tempo de menino - é preciso seguir. O Brasil precisa de todos os cidadãos que possam livrá-lo dessa dúvida, desse despreparo e dessa enganação.
A nossa indústria precisa de projetos políticos que a modernizem e fortaleçam. A força de trabalho do povo precisa ser qualificada e capacitada. O ensino fundamental precisa de oxigênio, pra que respire e se desenvolva sem peias e sem ideologias políticas. Em um país capitalista, como nos apraz ser, não há que se instruir condicionando mentes a filosofias e ideais estrangeiros.
A infraestrutura nacional carece de atenções que nos últimos anos não tem merecido de governos e governantes. Incluídas aí, as indispensáveis atenções ao setor energético. Os cerca de 600.000 MWatts de capacidade instalada em parques eólicos, sem linhas de transmissão pra que cheguem aos centros consumidores, são aberrações como tantas outras que precisam ser eliminadas da nossa história.
Belo Monte precisa ser construída a passos largos, ainda que os contrários não pensem assim, porque só cresceremos suficientemente e com segurança, se houver energia em quantidade para que nos industrializemos e nos modernizemos em níveis satisfatórios.
Veículos de passeio e caminhões cada vez mais potentes, modernos e bem equipados com instrumentos de navegação de última geração, continuam sendo um contrassenso nas estradas brasileiras sem acostamento, sem pavimentação de qualidade aceitável, sem sinalização competente, sem fiscalização e sem políticas públicas de desenvolvimento e modernização.
Portos obsoletos, visivelmente subutilizados por falta de equipamento, instalações e tecnologia, fazem do nosso um país carente dessa modalidade de transporte. Enquanto isso o BNDES, o governo e até grandes empresários brasileiros do agronegócio investem na modernização de portos em países comunistas, como Cuba, por exemplo. Outra aberração. Nem falamos dos aeroportos que, mesmo à custa de muita publicidade, não foram atendidos conforme a necessidade do povo, por ocasião da Copa do Mundo. E quando será que as atenções se voltarão a eles.
A saúde e a segurança da população padecendo de uma desatenção crônica que, segundo alegações mostradas no noticiário de todos os dias, seria devida à falta de recursos, e o governo brasileiro perdoando dívidas de países africanos. Um perdão que chega à absurda cifra de US$900.000.000,00! Isso mesmo: Novecentos milhões de dólares!
Esse valor daria – segundo estudos realizados para uma comparação do que seria possível fazer com o dinheiro gasto no Estádio Mané Garrincha, para a Copa do Mundo - http://www.defato.com/noticias/13562/quanto-custa-um-hospital - para a construção de hospitais públicos, novos, para abrigar o equivalente a doze mil (12.000) novos leitos. O que, cá entre nós, haveria de representar uma sensível melhoria na capacidade de atendimento à saúde do povo; e então só ficaria faltando tratos à qualidade do atendimento.
O que machuca ainda mais, nessa história, é que os países africanos que tiveram sua dívida perdoada pelo governo do Brasil, sem que o Congresso Nacional interpusesse o menor obstáculo ao gesto, são países em regime de governo totalitário. O avesso do que tentamos conseguir por aqui pelas vias democráticas.
A agropecuária brasileira, por falta de apoio creditício e de políticas públicas, também continua exportando basicamente produtos primários. Nenhuma nação do mundo se deu bem, exportando matéria prima; especialmente quando, com um pouquinho de atenção de governos, seriam capazes de industrializá-los e agregar valores, gerando emprego, produzindo qualidade de vida e promovendo o progresso e a prosperidade.
Apesar disso, só no primeiro semestre de 2014 o setor foi responsável por um volume de exportações na casa dos US$40.000.000.000,00; isso mesmo! Quarenta bilhões de dólares. Mas o governo parece não ter olhos para coisas assim e o setor continua sem logística adequada, sem capacidade de armazenagem, sem condições adequadas para o escoamento da produção, sem estradas transitáveis, e coisas assim.
Enfim, minha gente: O frio continua cruel, no espinhaço do povo, mas é preciso seguir adiante. Que o eleitor do Brasil tenha as mãos na consciência, a preocupação no coração, a determinação na alma e assim, definitivamente e pelo bem de todos, vote contra a reeleição. Seja lá de quem for!
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*Arquimedes Estrázulas Pires é só um cidadão brasileiro.
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