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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
#1746 e o legado - Acreditar? Eu não!
24/08/2014
Estava sem eira nem beira e, para tentar uma ancoragem segura, foi ao ponto. Sabia o risco que corria: a certeza que passaria raiva - na sua mais completa tradução e com seus devastadores efeitos colaterais provocados pela indignação (quase) impotente de ver o paraíso conspurcado, vilipendiado e vendido.
É isso que estão fazendo com a Ponta do Leme. Ela está sendo vendida e, pior, por quem nem seu dono é: o prefeito Eduardo Paes, aquele do SOMOS UM RIO. O Rio dele, o que se fechou uma rua importante na mobilidade do bairro para, no quarteirão da praia, instalar um pátio/depósito para a empreiteira Dimensional, a que durante anos enxugou gelo quebrando a ladeira Ari Barroso e metade das ruas do Leme e nos deixou o legado de ruas mal cuidadas, esquinas como a da ladeira, destruídas e sem acessibilidade, e a língua negra de sempre enfeitando e poluindo a nossa praia.
As intervenções abusivas avançam por nossa orla. A Ponta do Leme perdeu seu canto, ocupado por quiosques ampliados que reduziram o espaço público a uma faixa de passagem e carimbaram a paisagem do cartão postal com um muro/puxadinho de pedra, ampliando o espaço de um empreendimento indesejável na praia alheia.
Agora, mais um a$$alto armado a nossa geografia acontece com a construção, pasmem, de outra dupla de quiosques na orla. As informações vêm dos peões que cercam o local escondendo - atrás de tapumes xexelentos - os coqueiros residentes no espaço. É, porque contrariando as leis do município, não há placas com as informações obrigatórias como nome da empresa, do engenheiro responsável, contato e, (é querer demais de uma obra pública) o tempo de duração do suplício, ops, da empreitada. Contabilizando: nos dois últimos e pequeníssimos quarteirões do outrora bucólico bairro carioca, serão oito quiosques. Quatro deles praticamente emendados.
Por simples dedução emporcalhada dá para chegar à conclusão que a empreiteira será a mesma que realizou a incrível obra da Pedra do Leme, aquela dos projetos do Índio da Costa que, no caso, não previu o direito a acessibilidade e, do alto dos degraus de sua obrada, para solucionar o problema, engendrou um puxadinho avançando (ainda mais) sobre o espaço público dos moradores que frequentam o local. Acontece caro Watson que os tapumes mal enjambrados já citados são resquícios dos que estavam na Pedra, grafitados na maquiagem do local preparada para na Copa do Mundo. Agora as placa reaproveitadas fazem a parede/favela na praia de refugos (incluindo aí a logo da prefeitura do Rio), que enfeia nossa paisagem.
Detalhe importante: não adianta reclamar! A informação das lideranças do bairro é de que não haveria construção de novos quiosques. Parte dos existentes não consegue manter-se e a qualidade dos serviços é abaixo da crítica. Temos por aqui até quiosque boate! Os moradores foram ignorados como cidadãos e pagadores de tributos. Todos à mercê dos tubarões...
Para finalizar, não tentem usar os canais divulgados a peso de ouro para reclamar dos abusos e serviços mal prestados. No caso da prefeitura o #1746 (número escolhido a dedo para facilitar a memorização). É um lixo. Atendentes despreparados, transferências equivocadas (o assunto da orla foi transferido para a Secretaria de Saúde) e encaminhamento vergonhoso. Um conselho se for tentar: fale seu problema, explique e, depois, peça para o atendente ler a sua queixa protocolada. Você verá que será necessário ditar o texto correto. Parece que os encarregados estudaram interpretação de texto nas escolas públicas do município... Não aprenderam o básico!
PS: Se alguém souber onde andam as demandas/protocolos RIO-7056456-0 e RIO-7056701-2 avise urgente à (in)competente Ouvidoria da Prefeitura que informa no site: “Solicitação Não Encontrada. Tente Novamente.”
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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