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TEMA LIVRE : Fausto Matto Grosso

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O reencontro da Esquerda Democrática
28/12/2014

Neste mês de dezembro, foi anunciada a criação de um Bloco Parlamentar na Câmara dos Deputados composto pelo PSB, PPS, PV e o Solidariedade.

Juntos esses partidos possuem a segunda maior força política no parlamento, 67 deputados, somente menor do que a bancada do PT com 70 deputados.

Essa articulação nacional é o embrião de uma Federação entre esses partidos que deverá ser rebatida nas esferas estaduais e municipais, na interlocução com a sociedade e com os movimentos sociais.

A aproximação atual entre PPS e PSB não é fortuita, pois ao longo da história brasileira esses partidos protagonizaram, no mais das vezes, ações convergentes que dão sentido ao projeto político que recomeçam a construir.

Em 1927, formamos o “Bloco Operário e Camponês” que em 1930, lançou o primeiro operário à Presidência da República, o vereador do PCB, Minervino de Oliveira.

Diante da ascensão do fascismo no mundo, em 1935 formamos, junto com outras forças democráticas, a Aliança Nacional Libertadora, que chegou a ter 1.600 diretórios organizados em todo o país.

Os socialistas defenderam sua transformação em partido político, mas precipitação radical do PCB, liderado por Prestes, levou à decretação da ilegalidade da ANL.

Isolado, o PCB tentou a improvável insurreição armada, duramente esmagada.

Embora discordantes, os deputados socialistas no Congresso Nacional, tomaram a frente na denuncia da Lei de Segurança Nacional, duramente aplicada contra os comunistas.

Essa postura levou à cassação prisão do deputado socialista João Mangabeira.

Com legalização em 1945, o PCB lança a candidatura presidencial de Yedo Fiuza.

Os socialistas, organizados na Esquerda Democrática se aliaram com o a oposição liberal, integrando-se à UDN que lançou o Brigadeiro Eduardo Gomes. Ambos saem derrotados por Eurico Gaspar Dutra.

O PSB é reorganizado em 1947 e buscou se diferenciar do PCB por críticas ao modelo soviético, propondo um socialismo democrático e pluralista.

Em 1947 o PCB é cassado e entra os anos 50 na ilegalidade e isolado, com uma política estreita, de extrema-esquerda, que só vai se alterar a partir de 1958, com ruptura com o stalinismo e a adoção do compromisso com a via democrática.

Apesar dessas diferenças, nova convergência entre o PCB e o PSB foi a constituição da Frente do Recife, a partir de 1947, que logrou eleger Arraes, em 1960, prefeito de Recife e, posteriormente Governador de Pernambuco, posição onde se encontrava quando do Golpe de 1964.

PSB e PCB voltam a se reencontrar durante a resistência democrática. Ambos apontam o caminho da Frente Democrática contra a ditadura e participam, mesmo na ilegalidade, da fundação do MDB.

Em 1974, no contexto da eleição indireta, o MDB lançou a “anticanditatura” à Presidência da República de Ulisses Guimarães e do socialista Barbosa Lima Sobrinho, e ajudou na formação de uma forte bancada de 161 deputados peemedebistas.

Derrotada a campanha pelas “Diretas já”, o PMDB participa da eleição indireta, contra Maluf, elegendo, no Colégio Eleitoral, Tancredo Neves e José Sarney.

No governo Sarney, em 1985, o PCB conquista a sua legalidade e o PSB se reorganiza com líderes como Antônio Houaiss, Evandro Lima e Silva, Jamil Haddad e Evaristo de Moraes Filho, entre outros.

Na Constituinte de 1986 os dois partidos, embora com pequenas bancadas PPS (3) e PSB (6) tiveram uma expressiva participação no bloco de centro-esquerda. Juntaram forças contra o mandato de cinco anos para Sarney e a favor do parlamentarismo.

Nas eleições de 1989, quando a disputa se faz contra Collor, o PSB participa da Frente Brasil Popular em torno do Lula e o PCB, após a candidatura presidencial de Roberto Freire, vai se juntar nessa articulação somente no segundo turno.

No Governo Collor, Evandro Lins e Silva, fundador do PSB participou da comissão de juristas responsável pela elaboração do pedido e impeachment, cabendo ao socialista Barbosa Lima Sobrinho, representando a ABI, entregar esse documento à Câmara dos Deputados.

Os dois partidos participam do Governo Itamar, um virtual momento “parlamentarista” de salvação nacional.

Freire foi líder do Governo na Câmara dos Deputados e os socialistas Haddad (Saúde) e Houaiss (Cultura) participaram do Ministério, apoiando o lançamento do Plano Real, para o enfretamento da inflação.

Em 1993 no plebiscito, ambos compõem a Frente Parlamentarista.

Nas eleições de 1994, o PPS, sucedâneo do PCB, e o PSB participam da coligação em torno de Lula, derrotado no primeiro turno por Fernando Henrique Cardoso.

A partir daí, fruto da disputa de projetos de poder, o Brasil passa a viver a polarização PT x PSDB.

Essa divisão do campo de centro-esquerda levou a um sistema político onde, cada um por sua vez, esses dois partidos tivessem que governar em alianças com a direita e o atraso fisiológico.

Assim chegamos a 2014, com PSB e PPS, no campo da oposição, articulando um projeto alternativo, primeiro com Eduardo Campos, depois com Marina Silva.

Esse é o momento que Roberto Freire chamou de “reencontro da esquerda democrática”.

O Bloco da Esquerda Democrática, surgido dessa articulação, que incorpora, também, a contemporaneidade da pauta do PV e a base sindical da Solidariedade surge com o desfio de “contribuir de forma efetiva para o fortalecimento das instituições democráticas, resgatar as boas práticas republicanas e promover as mudanças que o povo exige para que o Brasil volte a crescer e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros”.

O Bloco se apresenta, assim, como um importante polo para a aglutinação de uma grande quantidade de quadros progressistas que se acham ausentes, ou dispersos na política brasileira.


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*Engenheiro e professor aposentado da UFMS


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