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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Roupa nova, texto velho
04/01/2015
Depois de fechar o ano com arqueologia comparada e revelações de previsões pretéritas de um presente mais que perfeito, segundo o antigo e quase indecifrável calendário maia, a primeira coluna do ano será uma visão livre, leve e refrescante da rampa da clareira central. Afinal, como não deixar um registro histórico da re-posse da anta no reino encantado da floresta?
Essa foi uma dúvida que povoou a mente da escriba até que chegasse a conclusão que seria mais relevante narrar fatos históricos que procurar palavras, simples palavras, para descrever o que a torcida do Flamengo e o resto do mundo querem e esperam para 2015. Depois da performance de 2014 é melhor guardar até suas mais sutis esperanças nas geleiras do mais profundo querer para que não corram o risco de derreterem ao calor insuportável que acalenta a floresta e adjacências. 2015 ainda precisa terminar de “ingestar” a realidade: agora é tudo com ele e a chapa já começou quente!
Reeleita para um novo reinado nas quebradas da Flotropi coube a mandatária se auto enfaixar, por cima da elegância das rendas francesas em tom “nude” que enfeitavam suas formas antais, diante dos aplausos calorosos e entusiásticos de seus não tão numerosos súditos! Eles deveriam lotar toooda a clareira, embalados ao som da voz possante e poderosa de uma querida e respeitada representante do essencial e estratégico Maranhão (já viu posse sem um maranhense na fita? Nem na floresta).
Como não havia ineditismo ou maiores atrações no regabofe segundo a análise do parapentista, pássaro raríssimo do Pantanal, sobrou muito sanduíche de “mortandela” para ser distribuído entre a engajada claque de espécies enviada de vários recantos florestais para aplaudir a passagem pela trilha da reinante ladeada de espécies corredoras, incluído uma penca de dragões extintos, carregados por inquietos e encalorados cavalos. Tratados, dizia-se a boca pequena entre os insatisfeitos da clareira principal, como simples burros da carga!
Mas vamos pela ordem, como tanto pediram às Câmaras Florestais nos derradeiros dias do ano que passou a tucanada e outros bichos, enquanto tentavam impedir que se abrissem as porteiras do universo fiscal para que a anta cantasse em verso, uma história fiscal. Agora, com a antologia (re)criada na malfadada madrugada a sorte foi lançada! Daí pra frente não há futuro e nem presente, que o destino esteja ausente, nada se fez, nada se se faz, as antas não mentem já-mais! Talvez por que nunca saibam de nada...
Grande novidade, né? Foi por essas e por outras que a posse foi uma meia fila de vices, tipos assim, quase vascaínos, desfilando pela clareira florestal, ao lado dos alinhavados coleguinhas sul-americanos. A maioria com o pires na mão, pedindo que la reina raspe o prato da floresta e repasse umas migalhas para suprir suas carências socioeconômicas.
Cercada de abutres e hienas da sua cota pessoal e outros elementos cooptados a custa$ de 39 ministérios e sei lá quantas secretarias - para quebrar a escrita que todo Ali Babá tem sempre 40 ladrões, a mandatária desfilou toda sua sapiência requentando o blábláblá revival do “Apertem os cintos que o piloto... sei lá!”, em sua versão 2.0. Foram 40 minutos de substantivos, adjetivos e muito verbo transitório, incluindo a promessa de “cumprir a Constituição Florestal” (ainda bem), protegendo frascos, comprimidos e afins. De boas intenções, essa floresta está cheia, mesmo desmatada a cada nova safra!
Ps Este não seria o tema da crônica semanal, mas minha mãe PTista disse que é falta de educação tecer comentários sobre a mandatária-mór do país. Parei na contramão e cheguei a conclusão que ela tem razão. Cabe a cada um de nós deixarmos bem claro os reflexos que o trato com a educação no Brasil vem provocando nos últimos anos. Nem quem foi filhota da ditadura escapa dessa falta de reciclagem Mobral. Afinal, a vida é um eterno aprender e essa é a matriz que hoje honramos na Flotropi: quanto mais rasteira, melhor. Cansada de resistir às ondas do “mais e melhor” e “da prioridade das prioridades”, eis-me aqui: reconhecendo e fazendo uso deliberado de minha cota pessoal de má educação florestal. Pero sin perder la ternura jamás.
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Essa crônica faz parte da série “Fábulas fabulosas”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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