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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Mostra no pé, leva fé
15/02/2015
Os últimos dias antes do carnaval superam qualquer enredo de escola de samba. Mesmo os mais fantasiosos e delirantes de Joãozinho 30.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, depois de prudentemente botar a cidade em alerta por causa da ameaça de uma chuvarada, resolveu vestir sua fantasia antecipar a resposta à pergunta/tema da Mocidade Independente "Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia?" Declarou que quer ver a Portela campeã! Mais atrapalhou que ajudou, assim como a suposição levantada por um jornal carioca de que os abre-alas da Portela e da Mangueira tinham a mesma inspiração. Pode ser boato... A Beija-Flor está nos noticiários por que teria recebido um gordíssimo patrocínio de um sanguinário ditador africano, o presidente de Guiné Equatorial. Já ouviu falar?
Não é boato que a Rede Globo, além de não transmitir o desfile das campeãs, mudará a ordem das apresentações das escolas. As primeiras foram lançadas para o final da transmissão. Para adequar a grade da emissora, o televisionamento será da segunda escola em diante. Viradouro, no domingo, e São Clemente, na segunda, serão empurradas em VTs para o final das respectivas noites. Veja no box links em que é possível, não apenas acompanhar os dois desfiles como, também, ter acesso a comentários e avaliações mais interessantes do que os da emissora padrão durante todo o evento.
DOMINGO - Quem abre o carnaval no domingo é a Viradouro, de Niterói, que volta ao grupo Especial cantado ideias do compositor Luis Carlos da Vila. O samba é bom, puxado Zé Paulo Sierra que já foi um dos tenores da Mangueira. Uma mulher, a primeira, é parte da comissão de bateria, é a mestre Thalita Freitas.
As rosas vão se espalhar pela Sapucaí já no abre-alas da escola de Dona Zica e tantas outras mulheres mangueirenses, perfumada por seu aroma. Cantar as suas mulheres e as brasileiras, embalados pelos mestres/meninos da primeira ala - a da bateria, é parte da emoção com que Cid Carvalho, o carnavalesco, quer arrebatar a avenida. Com Benito de Paula e tudo!
A seguir, vem Paulo Barros e a Mocidade Independente exercitando a imaginação na provocadora pergunta: “Se só te restasse um dia?” Só os deuses do carnaval sabem o que vem por ali. A verde e branca será movida por um carnavalesco querendo se recriar...
A Vila Isabel tenta se recuperar, após o fraco desfile do ano passado, falando de música e homenageando o maestro Isaac Karabtchevsky. Vale procurar Martinho da Vila na pista. Há 50 anos ele entrava para a escola que lhe deu nome e onde fez história.
Outra que pisa na Sapucaí em ritmo de comemoração é a rainha de bateria do Salgueiro, Viviane Araújo. 20 anos de desfile não é para qualquer uma! Segundo lugar, ano passado, o enredo de delícias mineiras de Renato e Márcia Lage, parece ter “mineiramente”, contaminado os salgueirenses. Atenção à Porta Bandeira Marcella Alves, com seu parceiro Sidcley.
A noite fecha com a Grande Rio e um dos carnavalescos mais festejados da nova safra, Fábio Ricardo, prometendo uma virada de jogo, no enredo que fala do... baralho.
SEGUNDA - A São Clemente vem cheia de assombrações e mitos acreanos, carnavalizando as origens das fantasias infantis de Fernando Pamplona. É a criatura, a campeã de títulos na Sapucaí, Rosa Magalhães, falando do criador. Dela e de muitos outros talentos que “desenharam” o formato do desfile das escolas de samba. Se todos os seus seguidores participarem do cortejo, a coisa vai longe.
Alexandre Louzada assina o desfile da Portela. A escola de Oswaldo Cruz apresenta uma versão surrealista, sob o ponto de vista de uma de suas maiores expressões, Salvador Dali, da Cidade Maravilhosa. E o samba é bom. Falaram e falam que querem por que querem. É bom lembrar que nos últimos 12 anos, apenas 4 escolas foram campeãs: Beija- Flor, Salgueiro, Unidos da Tijuca e Vila Isabel. Tem muita gente seca pra quebrar essa escrita.
Mas, para isso, vai ter que passar pelos brios da representante de Nilópolis, muito mal colocada ano passado. Esse ano Neguinho da Beija-Flor puxa um samba sobre Griôs, África e a Guiné Equatorial.
“Beleza Pura”, do carnavalesco Alex de Souza, para a União da Ilha do Governador em todos os aspectos e circunstâncias. Principalmente com o samba puxado por Ito Melodia e com a bateria comandada por mestre Ciça.
A Imperatriz Leopoldinense é outra que corre por fora sem muito alarde. Depois do jogador Zico, homenageado ano passado, Cahê Rodrigues, o carnavalesco, passa a bola para Nkenda, Nelson Mandela, e um enredo sobre negritude africana.
A segunda noite é fechada pela campeã do ano passado, a Unidos da Tijuca, embalada pelas reminiscências infantis de Clóvis Bornay, personalidade carnavalesca, das histórias contadas por seu pai sobre a Suíça.
É bom lembrar que emoção não ganha jogo, especialmente pelas regras do manual de julgamento da Liesa...
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Essa crônica faz parte da série “É carnaval”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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