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TEMA LIVRE : Marcelo Alonso Lemes
Por favor, ignore-o
24/05/2005
“Ofender é meu prazer. Adoro ser odiado”.
Edmond de Rostand, teatrólogo francês.
Eu sei que pode parecer um paradoxo pedir para que se ignore alguém e fazer um artigo sobre essa pessoa, mas meu destinatário é outro. Apresento-me dizendo que sou cuiabano, sempre morei aqui e dos lugares que visitei procurei guardar apenas as boas lembranças, embora possamos ter más recordações de determinados locais.
O que sentem os brasileiros apaixonados por futebol quando visitam, em Barcelona, o Estádio Sarriá?
Tomei conhecimento do primeiro artigo do Sr. Diogo Mainardi citando Cuiabá através de colegas professores, na escola. Obviamente não foi muito agradável, mas me recordei que em outra ocasião, muito anterior a esta, o articulista já havia citado Cuiabá de forma pouco elegante em sua coluna. Não me importei.
Agora vem o segundo artigo, falando sobre o processo movido contra ele por um advogado cuiabano, de nossa declaração de guerra contra sua pessoa, etc...
Meus caros amigos e amigas sejamos francos: o que é que as palavras do Sr. Diogo Mainardi provocarão no nosso cotidiano, na nossa maneira de falar, nos nossos costumes?
Nada.
Eu não sou assinante da revista onde escreve o articulista, nem a leio habitualmente. Ele é, obviamente, uma pessoa inteligente, escreve bem, mas me parece claro que o papel do Sr. Mainardi naquela publicação é um só: polemizar.
É ele que escreverá em sua coluna que, realmente, Maradona foi melhor que Pelé, o que é direito dele, mas o fará só para provocar furor na torcida brasileira.
É ele que dirá que a não-ratificação do Protocolo de Kyoto pelos EUA é perfeitamente justificável, pois a economia estadunidense tem de vir em primeiro lugar que o bem-estar global, provocando a ira dos ambientalistas.
É ele que escreverá que o recente relatório sobre o desmatamento recorde na Amazônia não é nenhum bicho de sete cabeças, e que o avanço da pecuária e da agricultura não trarão danos consideráveis ao ecossistema amazônico, deixando coléricos (novamente) os ambientalistas.
É claro que vocês percebem que posso estar exagerando nos exemplos, mas o que quero dizer, novamente, é que o objetivo dos artigos do Sr. Mainardi é primordialmente este: polemizar. Não haveria nenhum problema nisso, mas como diz a frase que coloquei no início do artigo, às vezes ele o faz ofendendo, justamente para que os ânimos se acirrem.
Com isso milhares de e-mails são enviados à Veja, alguns apoiando, outros xingando, e consegue-se o que se queria: tornar-se notícia e vender revista.
Por isso é que resolvi escrever este artigo, endereçando-o ao advogado Paulo Zamar (foi o nome que vi como autor da ação contra o Sr. Mainardi. Se for meu amigo Paulo Zamar Taques, melhor ainda). Meu caro Paulo, sei que você deve ter sentido muito ver alguém zombar de sua (nossa) terra querida, mas publicamente te peço um favor: retire a ação contra esse senhor. Ignore-o. Creia-me, ele está vibrando com a polêmica que criou. Não nos importemos com esse senhor, o que ele significa para nós?
Não estou dizendo que não devemos nos importar com a defesa de nossa cultura, nossas tradições e nossos costumes, só que, neste caso, isso foi feito por alguém que tem o claro propósito de ofender com o único objetivo de se tornar manchete e é nessa esparrela que não podemos cair, dar importância a quem não a merece.
Retire a ação, caro Paulo, e assim estaremos melhores. O Sr. Mainardi disse que pagaria R$15.000,00 para não vir a Cuiabá, pois satisfaçamos sua vontade, ele não precisa pagar para não vir e, retirando a ação, nós não o veremos por aqui, assim nós evitaremos que este senhor pise aqui, esteja entre nós, fale com nosso povo e conheça nossa cidade.
Como ele mesmo disse a cidade de Bagdá, seus bairros e sua cultura são muito mais significativos para ele que Cuiabá, o que tem razão de ser, pois se trata da antiga Mesopotâmia. Então torçamos fervorosamente para que, ao invés de vir nos importunar com sua indesejável presença, ele vá para lá.
Me despeço, caro Paulo, com um forte abraço cuiabano.
...
*Marcelo Alonso Lemes é Professor de Geografia.
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