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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Eles tinham razão
17/01/2016
Ziggy Stardust partiu e eu, Pluct Plact, o extraterrestre desavisado, fiquei!
Como assim perdi o bonde? Estou pedindo, implorando, firmando, desejando, almejando uma via de escape desse vasto e incompreensível mundo e quem vai dessa pra uma muito melhor é o disfarce perfeito de David Bowie do parceiro e conhecido de outras empreitadas intergalácticas?
Aqui, como lá, vão-se os melhores e a naba, como eu, permanece.
A mão que um dia enxugou uma lágrima é a mesma que poderá ser afagada num momento de carência. Não fosse por isso ia dar uma olhadela no roteiro desenvolvido pelo Camaleão para preparar sua partida.
Acontece que tenho meu compromisso com a cronista, minha amiga e sua escriba, em seu auto exílio solitário do outro lado do túnel, de seguir sendo seu elo (meio desconexo, reconheço) com a realidade nua e crua.
Só que... nem mesmo meus ultra cartesianos pensamentos, estimulados por zilhões de informações coletadas, armazenadas e destrinchadas sobre o que ia encontrar por aqui, servem para absolutamente nada diante da imprevisibilidade da vida na Terra. Uma capacidade que parece inerente ao ser humano de se superar.
Para o bem ou para o mal, que vocação para os extremos! Da beleza ao terror, da delicadeza ao fanatismo. Ou não chove nada, ou chove a cântaros, seja lá o que isso signifique (o que os cântaros têm a ver com o aguaceiro?). Uns comem demais, outros de menos.
Perplexidade. Que os seres humanos se sintam perdidos diante dos acontecimentos, vá lá. China na China, Fifa na Federação de Atletismo... Imagine quem não faz parte da jogada”, assimilar é preciso. Sem pensar.
Wendel, o jogador de futebol, aparece salvar nossa honra. Seu gol, feito diante de pouco mais de 300 torcedores, em Goiás, chegou aos olhos de todos os admiradores de esportes. Diante de Messi e da cúpula do futebol mundial, citou Davi diante de Golias.
Um respiro de humanidade antes da interdição do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Ele sucumbiu ao abandono e desleixo de um prefeito que faz questão de ignorar a ligação dos cariocas com o lugar e seus habitantes. Foi fundado pelo Barão de Drummond que criou uma loteria para incentivar as visitas ao local. Era o Jogo do Bicho!
Sinceramente, nem nas mais profundas projeções é possível imaginar os cariocas sem eles. O jogo e o Zoológico. Impensável largar de mão o habitat do inesquecível e insubstituível Macaco Tião.
Aquele que jogava excrementos e lama nos visitantes. Políticos incluídos! Pois acreditem. Ele foi candidato não oficial a prefeito do Rio, em 1988, e teve a bagatela (registrada Guinness World Records) de aproximadamente 400 mil votos. Se nulos não fossem considerados, teria ficado num honroso terceiro lugar.
Como ele pode ser votado é a pergunta. Simples. Naquele tempo a votação não era eletrônica as células eram escritas. O povo foi lá e cravou: TIÃO. Democraticamente... É, hoje isso não poderia acontecer, afinal, dizem eles, a democracia evoluiu!
Agora, a vingança do prefeito é desmontar o zoológico enquanto incrementa o Museu do Amanhã. Que amanhã é esse que não respeita e protege os animais? Melhor não perguntar para a cronista...
Pelo sim e pelo não, resta espaço para incluir nesse relato mais um desastre ambiental. O rompimento das barragens em Mariana mal completou dois meses e o Porto Guarujá respira elementos químicos tóxicos que entram em combustão na água.
Tião, o macaco, definitivamente estava certo. E Ziggy/Bowie, também. Boa viagem para as estrelas...
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do Sem Fim...
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