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TEMA LIVRE : Coluna do Arquimedes
A quem querem que eu liberte?
03/07/2016
Sabe por que foi que Jesus Cristo morreu? Porque o único cara que tinha as condições políticas necessárias e o poder de mando, pra impedir que morresse, se omitiu, lavou as mãos, fez de conta que não estava nem aí. Mesmo conhecendo da inocência do Messias.
A quem vocês querem que eu liberte? Teria perguntado:
- Barrabás, o bandido e inimigo público, ou Jesus, que se diz Cristo?
- Barrabáááás! Grita o povo, sempre ávido de tragédias, assunto para as rodinhas de bate-papo, e sangue.
E Pôncio Pilatos, depois do Imperador o cara mais poderoso da vizinhança... por conveniência própria e não de quem seguia o Mestre, lavou as mãos e deu no que deu.
O Homem de Nazaré acabou os seus dias sobre a Terra, pregado no pesado madeiro, entre dois ladrões.
Comparo, com muita tristeza, estejam certos disso, essa situação que a história bíblica narra, com o nosso amado Brasil dos dias de agora.
O Estadão de sexta, 1º de julho, traz a seguinte manchete: “Renan quer votar projeto que dificulta investigações”.
O projeto datado do ano de 2009 propõe a adoção de punições a agentes públicos que cumprirem mandatos de busca e apreensão de “forma vexatória”.
A primeira pergunta é: O que se entende por vexatório quando um agente público que deve zelo ao cargo que ocupa sob as expensas da sociedade, deliberadamente se envolve em ações ilícitas? Não deve ser mesmo vexado, pra perder o mau hábito?
“Outro dispositivo da proposta determina detenção de um a quatro anos para cumprimento de diligência policial em desacordo com as formalidades legais”, diz a notícia.
Me parece que aqui o rabo está querendo abanar o cachorro, como diz o meu amigo Celso Kuhn.
A segunda pergunta é: Dá pra acreditar que um policial que cumpre mandato judicial contra um investigado que dá provas mais do que cabais, de culpa, possa ser punido por isso?
“Na semana passada o Senado protocolou reclamação no Supremo Tribunal Federal contra o juiz de primeira instância, Paulo Bueno de Azevedo por promover busca e apreensão no apartamento funcional da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR)”, diz o Estadão.
O objetivo da reclamação tem assim um jeitão de dizer que é contra a prisão de Paulo Bernardo, não por acaso, marido da senadora.
A terceira pergunta é um conjunto delas: Paulo Bernardo é inocente das acusações que lhe pesam aos ombros?
Teria ele sido preso injustamente?
São limpos e honrados, os seus rastros no âmbito da vida pública?
Envolvidos em situações assim continuarão negando culpa, até a morte.
Ou até que duas coisas sejam extirpadas da legislação criminal brasileira:
- a palavra “suposto”, que diz que todo crime é “suposto crime”, ainda que o cara chegue à sala do delegado como aquele da charge, com uma faca enterrada nas costas.
Nessa circunstância, mesmo que o acusado de espetá-lo, seja preso em flagrante e esteja ali, junto, estará negando tudo!
- e o termo “habeas corpus preventivo”, que me parece uma superfluidade jurídica e se parece muito mais com uma confissão de culpa do que com um pedido de socorro e liberdade.
Quando um agente público – em qualquer país do mundo! - se omite em relação às suas obrigações decorrentes do cargo que ocupa, as desvia do rumo ou tenta fazê-lo, além do péssimo exemplo que dá à sociedade que o custeia, é como se estivesse perguntando: a quem querem que eu liberte; Barrabás ou Jesus Cristo?
Penso que os líderes, não importa de quê, deveriam – todos eles! – habituar-se ao exercício sistemático da humildade, da verdade, da decência, do respeito e da defesa dos interesses daqueles a quem lideram.
É óbvio que este pensamento não se estende a Ali Babá; claro!
Poucas coisas são mais patéticas do que alguém que deva influenciar comportamentos éticos, agir com ares de quem quer primeiro cuidar dos seus próprios interesses.
Os interesses pessoais de um agente político e público devem ficar, necessariamente, em um plano de prioridade que não obste os trâmites prioritários de nada que seja do interesse público.
É pra isso que são agentes públicos. Além do mais, todos os agentes políticos e públicos estão a soldo do povo e isso não pode ser esquecido. Ninguém paga a ninguém para que o traia; não consciente e deliberadamente!
Como brasileiro sinto-me ultrajado cada vez que vejo uma figura pública desmerecer a confiança geral e fazer parte das manchetes que anunciam corrupção, desmandos e mau comportamento político.
Como cristão sinto-me traído, como o foi o próprio Jesus Cristo, quando vejo que tanto se fala em Deus e muito se pactua com o diabo.
Dói na alma, quando uma pessoa pública, um líder político, e mais ainda um líder político de alta patente, pisa na bola e pisoteia, sapateando, sobre o respeito que deveria ter pelo cidadão que o escolheu para ocupar o cargo que ocupa; seja um vereador ou o Presidente da República.
Que Renan Calheiros, depois do Presidente o cara mais poderoso da vizinhança, não faça como Pôncio, o Pilatos. Mas que em vez disso, diga, mostre e prove que está do lado do povo e do Brasil.
Bons exemplos é o que urge comecem a ser produzidos para uso dos que virão depois de nós!
...
Arquimedes Estrázulas pires é só um cidadão brasileiro.
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