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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Tem trem cuiabano na memória verde e rosa...
25/12/2016
Meus caminhos levam ao samba. E ele passa pela Estação Primeira de Mangueira. A escola verde e rosa completa seus 90 anos em 2018 e já se agita animada para a comemoração.
Um passo importante na preparação dos festejos é a reabertura, após 10 anos, do Centro de Memória Verde e Rosa. Ele fica no terceiro andar do Palácio do Samba, a quadra da escola, junto ao Auditório Dona Zica, a sala de cinema Carlos Cachaça e Biblioteca Dona Neuma.
Aberto em 1999, na gestão do presidente Elmo José dos Santos, tem um acervo composto por objetos queridos dos mangueirenses que narram a história da escola e da comunidade.
Lá estão expostos fotos, fantasias, instrumentos musicais, incluindo o saxofone de Mestre Pixinguinha e o surdo do primeiro desfile da escola, revistas e jornais, como a primeira edição de “A voz do Morro", publicação criada numa favela, em 1935, e outras preciosidades.
Imaginem a emoção e alegria dos convidados do Vice-Presidente Cultural, Paulo Ramos, um dos responsáveis pela revitalização do espaço de referência para pesquisa, educação, documentação e comunicação, considerado um “território de cultura encravado no pé do Morro da Mangueira”.
Uma parte do Centro foi atualizado, incluindo a conquista do último campeonato, o de 2016, com o enredo homenageando Maria Bethânia, “A menina dos olhos de Oyá”.
Também foi renovado o painel que fica diante da porta de acesso do Centro de Memória Verde e Rosa.
E ele é a causa desta crônica natalina.
Outro dia, os jornais de Mato Grosso publicavam que o VLT poderá ser construído em duas etapas e que a primeira irá do aeroporto, em Várzea Grande, ao Porto.
Conclusão: por mais um capricho do destino, Várzea Grande terá um VLT antes de Cuiabá.
Ô trilho difícil!
Pensa no trem. Sonho de Vicente Vuolo. Aquele que quase chegou á Cuiabá.
A locomotiva que acabou “puxando” a exuberância da capital de Manto Grosso pela Sapucaí para o mundo, no desfile dessa mesma Mangueira, de 2013.
É incrível que a cidade não guarde nem preserve essa memória.
E que, quando vem à cabeça a reação local ao desfile verde e rosa daquele ano, a primeira lembrança seja sempre a questão do jequitibá, símbolo da escola citado no samba e tão criticado por estar lá, já que não há jequitibá em Cuiabá.
A polêmica rendeu um trem!
Esse do enredo que levou a obra do fabuloso artista plástico João Sebastião para o último carro da escola, o da Copa do Mundo.
O da alegoria que, quando viu que estava chegando o final do desfile, resolveu atender sua natureza de borboletear, dificultando sua passagem pela torre de televisão na Marquês de Sapucaí.
Ali, pontos essenciais foram perdidos.
Mangueira e Cuiabá ficaram fora do desfile das Campeãs...
Mas a linda e arrebatadora apresentação recebeu o maior reconhecimento que poderia alcançar, diante da quebra do carro.
Ganhou do júri do Jornal o Globo, o cobiçado prêmio Estandarte de Ouro de Melhor Escola do Carnaval 2013.
Para alguns cuiabanos pode ser que essa história tenha acabado e, inclusive, servido a vis propósitos políticos de quem não respeita nem avalia o que representa estar ali, na vitrine do Sambódromo Carioca, diante de centenas de milhões de espectadores.
Uma pena para Cuiabá...
Mas não para a Mangueira, que sabe reverenciar sua história e, ao reabrir seu Centro de Memória escolheu, para encantar quem adentra suas portas como visitante, uma imagem do Abre Alas do desfile “Cuiabá, um Paraíso no Centro da América”.
Gratidão por seu passado e respeito por sua história. Vamos aprender com quem pratica.
Esses são meus desejos para a cidade que amo e, um ano depois dos 90 da Mangueira, em 2019, comemorará seus 300 anos.
Vamos preparar a festa!
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Texto da série “É carnaval” do Sem Fim...
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