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Críticas Construtivas Se todo governante quer, por quê não?!!!

TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto

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Que seja breve e nos leve...
25/11/2018

Existem lugares por onde passo que preciso (d)escrever logo para não deixar escapar as sensações que provocam. Outros que sei, mesmo que demore a trazê-los para o papel, o farei de forma absolutamente fiel, já que a passagem por eles é inesquecível.

O interessante é que esses últimos, costumam surgir quando a gente menos espera. A região da Colonia Nueva Independencia, no município de Zanja-Pyta, departamento de Amambay, fronteira do Paraguay com o Brasil, é um deles.

O ponto de partida dessa aventura de descobrimento de novas paragens foi Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. Os companheiros de estrada a Kiki, amiga de infância que reencontrei nessa viagem, e Gilson, nosso guia e personagem de destaque dessa crônica.

“Partimos pela MS 165, a estrada margeia a fronteira”, explicou Gilson.

Criado palmilhando aquelas bandas nas antigas comitivas de gado, ele apontava os postes de energia que seguiam paralelos, indicado a ruta sem asfalto do país vizinho.

A paisagem, um tédio só, na região de Aral Moreira, é soja e só soja.

Estávamos no alto de um planalto e a cultura sustenta o município, distrito de Ponta Porã até 1976.

Por mais que olhasse o entorno, confesso, não via grandes expectativas em relação as possibilidades de alcançarmos em pouco tempo as paisagens que ele mencionou quando lhe disse que procurava lugares especiais e desconhecidos da fronteira, na conversa numa tarde gelada na Jacarecanga, o lugar mágico em que Kiki mora, uma chácara próxima a Ponta Porã.

Em um pouco mais de uma hora chegamos a Aral Moreira e, dobrando numa rótula, mudamos de rumo em direção ao país vizinho.

O posto aduaneiro paraguaio parecia cenário de um filme de Roberto Rodriguez, tipo “Desperado”, com Antonio Banderas.

A construção era ladeada por uma cancela de madeira.

Sentado na frente da guarita um policial acenou respondendo ao nosso cumprimento liberando a passagem sob o olhar sonolento do vira-latas deitado a seus pés.

Certamente, por ali, todo mundo se conhecia.

Uma centena de metros percorridos serviu para comprovar que a promessa de Gilson de nos apresentar a um paraíso seria paga e com sobras.

A estrada de terra seguia pelo topo de uma cordilheira de onde se descortinavam paisagens belíssimas.

Quando pedi uma parada para fotografar ele avisou que era apenas o começo da festa e ficaria ainda mais sensacional quando avistássemos o Cerro 21.

Sábias palavras! Insuficientes para descrever o que nos esperava na descida em direção as terras de Seo Orlando, seu pai.

No caminho que serpenteava a cordilheira mais fotos, inclusive da capelinha que sua avó, uma das primeiras moradoras das antigas terras devolutas paraguaias, mandou construir em pagamento a uma promessa feita para São Silvestre.

Já no pé da capelinha, projetada no meio do contraforte, o próximo desafio foi mais complicado, porém altamente compensador.

Gilson perguntou como andava nossa “forma física” e, dando um changüí*, carregou a mochila do equipamento fotográfico na subida por uma suposta trilha na encosta em direção a pequena construção de pedras.

Valeu a pena, apesar de algumas paradas para recuperar o fôlego abraçando as árvores centenárias para disfarçar o cansaço em meio ao “não” caminho.

Que vista, que paz!

Do platô onde a capela foi construída se descortinam 300 graus de grandiosa beleza natural comparável, talvez, ao visual do Morro do Paxixi, na Serra de Maracaju, em Mato Grosso do Sul.

De lá descemos para a fazenda onde Seo Orlando e Bernadete, sua mulher, nos esperavam com um tereré e um chimarrão caprichados. Cada um preferia um tipo de preparo para a mesma erva-mate, típica da região.

E, se o visual do fim de tarde entre os potreiros e os recortes dos desenhos que se formavam nos paredões não fossem suficientes, a prosa de Seo Orlando fechou com chave de ouro esse dia inesquecível.

Ele havia sido garimpeiro e, em busca de riqueza, palmilhado o Centro Oeste esquadrinhando Mato Grosso com as levas de garimpeiros nas corridas do ouro entre as décadas de 1970 e 1990.

Entramos proseando noite adentro enquanto Gilson preparava um carreteiro daqueles que a gente come de joelhos.

A conversa ia longe!

Nossa “viagem” nas lembranças nos fez recordar os caminhos do ouro, tanto pela região oeste de Mato Grosso, quanto subindo a BR 163 em direção ao garimpo Castelo dos Sonhos, no Pará.

Suas aventuras aconteceram no período em que vagueei pelo estado como repórter acompanhando algumas histórias da formação e desenvolvimento estadual.

Uma daquelas coincidências que atiçam a prosa e fazem brotar recordações de muitas vidas e caminhos.

Nos despedimos com a certeza de um reencontro na próxima vez que voltar à fronteira onde passei minha infância.

Ainda há muitos capítulos dessas verdadeiras sagas e experiências a serem lembradas e registradas!

Que seja em breve...

* Changüí – Vantagem que se concede a uma pessoa ou a um grupo, especialmente no jogo ou no esporte.

...

**Jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Crônica da série “Fronteira Oeste do Sul” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com



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